Gratidões da Fernanda Abranches

 

Arthur Agradeço ao Arthur por dizer que os Yanomami precisam “beber água e música” para viver e que ele, Arthur, necessita “beber água, cantar e dançar”. Ele me fez perceber, junto com ele, que os Yanomami não separam as coisas em caixinhas, canto é dança e é música a atravessar os sentidos. Agradeço a Arthur ter feito colagens de modo espontâneo, decorando a capa de nosso bloco de desenho, gerando em mim o desejo de fazer em 2020 um semestre todo de colagens, linguagem que adoro e que pode se expandir por muito materiais, formatos e assuntos.

 

Cacá Agradeço à Cacá por mostrar seu desejo em pintar os animais que habitam sua vizinhança, levando uma tela em branco para a sala de aula. Numa aula de artes visuais, a pintura é uma linguagem esperada se pensarmos na tradição do fazer artístico. Juntas fomos descobrindo como Cacá lidava com a quantidade de tinta, suas misturas, os tamanhos e pressões da mão sobre os pincéis. Com muita vontade e nenhuma ansiedade, Cacá chegou na pincelada que seu corpo gerou, ao longo de muita experimentação no papel. Agradeço a Cacá não ter feito perguntas do tipo, “como fazer isso?”e simplesmente seguir continuando com suas descobertas, gerando em mim a satisfação de ser a facilitadora das habilidades dela.

 

Fernanda Maçaira Agradeço à Fernanda por ter escrito em letrinhas miúdas e caprichadas, com caneta esferográfica azul, sua pesquisa sobre a Baía de Guanabara. Ao descobrir que Guanabara quer dizer “seio do mar” na língua Tupi-Guarani, Fernanda lembrou como nossa mãe natureza está sendo poluída e precisando de cuidado. As letrinhas pequenas formando linhas azuis, livres da pauta, me lembraram a sequência das ondas do mar. Agradeço a Fernanda por ter pintado a paisagem da Baía de Guanabara de vermelho, recordando foto exibida na exposição que visitamos, em que a floresta verde se tornava magenta pelo efeito do filtro infra-vermelho. Sua liberdade com a cor me fez notar como uma experiência visual fica na memória e seus efeitos aparecem tempos depois.

 

João Lacerda Agradeço ao João Lacerda por ter feito de suas “pérolas” uma composição de rap. Muitas vezes ouço coisas lindas vindas do João e me arrependo de não ter anotado, pela dinâmica da aula que muitas vezes não permite pausar. Seu rap Vida e Libertação gerou em mim a alegria de ter favorecido João colocar suas palavras no papel. Ele diz coisas como: “o quente do fogo está mostrando o que a vida é”, em total sintonia com esta sala de aula, onde se acende fogueira e se desenha com alimentos produzidos e aquecidos com o calor do Sol.

 

João Pedro Agradeço ao João Pedro mostrar tanto querer na criação dos uniformes de futebol para um amistoso imaginário entre quatro etnias indígenas. Ele compôs com alegria as cores e formas tradicionais dos povos Ticuna, Yanomami, Yawalapiti e Yawanauá, pedindo o material assim que chegava em sala. Agradeço ao João colorir com tanto esmero e me chamar sempre que concluía seus estudos de cor. Isso me fez viver na prática a intuição de que a professora pode fisgar o interesse do aluno combinando sua paixão com a proposta do semestre.

 

Juju Agradeço à Juju por dizer que os Yanomami “se vestem como índios”, me fazendo propor a ela pesquisar os adereços dessa etnia e de mais outras três, percebendo as diferenças em cada uma delas. Sua habilidade e gosto pela confecção de acessórios femininos permitiram a Juju se inspirar no desenho de colares e broches a partir da pesquisa dividida sobre as etnias com o colega João Pedro. Agradeço à Juju pela parceria com ele, que juntos investigaram grafismos e cores dos povos Ticuna, Yanomami, Yawalapiti e Yawanauá. Essa colaboração mútua me fez concluir que trabalho em dupla não precisa resultar na mesma criação, pode ser uma colaboração para pesquisas autônomas.

 

Léo Agradeço ao Léo por trabalhar a partir das relações cotidianas em família e daquilo que o faz bem. Misturando fotografias de sua rotina com os recortes selecionados das revistas, Léo expôs seu mundo imaginário ideal, dizendo ao final: “Nossa, ficou muito lindo!”. A expressão de alegria com o próprio trabalho me fez ver a autoestima de Leo vindo à tona, especialmente quando está criando.

 

Marri Agradeço à Marri por sua persistência em sua pesquisa sobre o ritual Yaokwa, a cada dia trazendo mais detalhes e descobertas sobre o povo Enawene Nawe que inspirou seu desenho vivo. Marri alinhou compromisso e prazer, gerando em mim grande alegria ao provar suas experiências culinárias, que resultaram num delicioso bolinho de mandioca e milho, recheado com uma bela história ancestral.

 

Bia Voigt Agradeço à Bia por querer fazer um vídeo clip para o João Lacerda, chegando a gravar alguns vídeos com ele. Mesmo sem ter dado tempo de concluir sua ideia, a vontade de Bia me fez ver como o projeto do João envolveu a todos, sobretudo as monitoras. Cada uma delas deu sua contribuição na gravação e na montagem da música.

 

Marcela Moura Agradeço à Marcela por chegar na sala de aula almoçando uma grande fatia de melancia. Essa imagem gerou em mim recordar o prazer infantil de comer a fruta fresca e doce em grande formato de canoa, emulando a personagem de quadrinhos Magali, ao marcar minhas mordidas à medida que saciava a fome e a sede.

 

Nina Cotrim Agradeço à Nina ter voltado a frequentar o AEIOU após se ausentar algumas aulas. Seu retorno gerou em mim a alegria de ter novamente sua parceria num semestre especialmente denso pela diversidade de propostas surgidas em minha oficina. Agradeço à Nina especialmente por sua ajuda na performance do Arthur, marcando com ele os tempos de cada etapa a apresentar. Esse fato me deixou tranquila para dar atenção a outros alunos que precisavam do meu suporte.

 

Ana Branco Agradeço à Ana Branco por fornecer farinha de mandioca para o desenho vivo da Marri. Achei que não fosse topar facilmente porque já tinha ouvido Ana comentar que os iniciantes do Biochip tendiam a propor maluquices em vez de colocar o básico aprendido em suas rotinas. Essa pronta colaboração me surpreendeu e, com muita alegria, assisti Ana deixar Marri à vontade e tranquila para pedir ajuda nesse ingrediente, uma vez que nossa aluna não conseguia a luz do sol suficiente para produzir a própria farinha. Agradeço a Ana não poder atender o último pedido por farinha, que serviria para a apresentação do prato na festa de encerramento. Esse fato me fez ver que Marri não precisava apresentar mais nada, pois de fato já tinha chegado a um lindo trabalho durante as aulas, fartamente registrado.

 

Claudia Bolshaw Agradeço a Claudia ajudar Juju a usar o logo criado por ela nas aulas de artes visuais do primeiro semestre. Esse fato me alegrou, vendo os frutos de uma proposição da minha oficina ir para o campo da vida real, sendo belo e útil, encorajando Juju a se apresentar como uma profissional nas feiras de artesanato em que participa.

 

Dudu Agradeço ao Dudu por dividir as quintas-feiras comigo e sempre se dispor a trocar os horários quando precisei. Essa possibilidade melhorou a organização de algumas semanas deste semestre e gerou em mim a tranquilidade necessária para terminar meu material de qualificação do doutorado. Agradeço a Dudu ter me pedido para ficar no 2º tempo numa das quintas-feiras e, ainda que eu não pudesse atendê-lo como gostaria, seu pedido mostrou que ele me vê como alguém que pode ajudá-lo quando precisa. E pode mesmo!

 

Agradeço à Jô por ter incluído na apresentação de dança o movimento que cada aluno elaborou em suas aulas. Esse fato gerou em mim identificar diálogo entre o que ela fez e o que eu propus neste semestre, justamente encontrar com eles o caminho de cada um, aprofundando seus experimentos após escolhas individualizadas de temas e linguagens.

 

Marcela Carvalho Agradeço à Marcela Carvalho por motivar a confecção de aventais pelos alunos em sua oficina. Essa fatura à mão, com tecido disponível no acervo de materiais, seguiu princípios caros ao AEIOU, como o reaproveitamento de materiais em trabalho feito à mão. Ao usarem os aventais no dia do encerramento os alunos exibiram a identidade de grupo que vem sendo azeitada nas festas de aniversário preparadas por eles todas as semanas.