Gratidões da Marcela Carvalho

 

Desenho com fio e com palavra.

 

Professsora: Marcela Fernandes de Carvalho

 

Agradeço a Ana B. por dizer quando calculávamos a hora aula dos professores AEIOU: “eu não trabalho por dinheiro! Eu sou a pessoa mais rica que eu conheço!”. Logo antes falávamos da força de nos sentarmos em madeira de lei, nos tablados de peroba rosa com o vento e as folhas em volta... falávamos de pegar o dinheiro ganho pra comprar um carro e te lo investido em lona e treliça para abrigar um sonho maior... O fato gerou em mim tamanho contentamento e afirmação da vida. Muitas vezes me reconheço forte com a mesma convicção e outras escuto a voz do patriarcado (regime em declínio) tão presente e bem manifestada na figura do pai que lhe disse diante da primeira sala de aula entre as árvores nos anos 80: “minha filha... você não se dá ao respeito?” O respeito é dado pela boa aparência e remuneração capital. Não cobrar pelo trabalho é algo que pode indicar desvalorização do mesmo. No entanto, o que é o meu fazer para mim se não uma ação de sobrevivência e mais ainda de vitalidade por ele mesmo? Tantas coisas cheguei a pensar com a fala: “sou a pessoa mais rica que conheço!” Eu conheço muitas pessoas muito ricas (mais do que gostaria em um país de maioria em estado de miséria) e reconheço tanto pobreza nelas. Agora, em tempo de gerar nova vida (grávida) abrindo mão de trabalhos, aulas, produções... refletir sobre tudo isso me trouxe serenidade e confiança. Que eu possa sempre escolher, como tem sido!

 

Agradeço a Cláudia por convocar reunião com as famílias, compreendendo que cada aluno traz sua rede fora da PUC. Gerou em mim ter mais escuta para o grupo de “Pais...” e querer estar nas reuniões.

 

Agradeço a Fernanda Abranches pela organização com que pedia tarefas para nossos alunos, em mensagens claras e inspiradoras. Gerou vontade de fazer as tarefas também.

 

Agradeço a por compartilhar muitas fotos e vídeos das suas aulas. Gerou em mim poder acompanhar, conhecer e vibrar com as atividades estando fora delas.

 

Agradeço ao Dudu por incluir o violão em suas aulas e por juntos e separados cada um no seu dia e horário irmos tecendo uma grade que inclui cada vez mais no nosso curso de artes a linguagem da música tão importante para nossos alunos. Gerou parceria.

 

Agradeço a Marcela Moura por no último dia de aula depois de eu ter dito: “pode fazer a bainha do avental do João Pedro (que tinha ido embora mais cedo com dor de cabeça) só não usa a linha de cor verde para diferencia do Leo...” me apresentar no fim do encontro o pontinho cerquinha mais bem feito todo em linha verde. Gerou reconhecer como a palavra não pode se perder no meio de uma frase tornando o comando menos claro. Gerou muitas risadas, muitos concordaram terem escutado a orientação e serviu de graça e mobilização coletiva.

 

Agradeço a Nina pela leveza e firmeza com que escolheu estar mais um semestre na Puc, mesmo depois de formada. Gerou identificação, bom é estarmos onde está nosso coração e a expansão de nossa aprendizagem e felicidade.

 

Agradeço a Bia Voigt por cada pontinho dado em seu próprio avental. Por deixar que sua dupla seguisse sozinha enquanto ela também investigava a atividade com agulha e linha. Gerou encantamento e vontade de vê-la terminar e quem, sabe, ter um momento com as monitoras para que aprendessem as técnicas antes da proposta feita a turma toda.

 

Ao Leo por gostar de cantar: “ipê amarelo, meu ipê!” e dizer para a Fernanda que era do mesmo grupo e voz dele: “Vamos FÊ?!”, sempre atento a sua voz, ainda que escutando as outras. Gerava alegria e concentração cada vez que começávamos a cantar juntos.

 

Agradeço a Fernanda por, depois de algumas faltas, alcançar a turma trabalhando sempre muito concentrada fazendo um alinhavinho que me encantava pela precisão da distancia entre os pontos. Gerou unidade no grupo e uma conclusão maravilhosa.

 

Agradeço a Cacá por um dia reparar em como ela modelava o doce de coco cor de rosa sobre a lasca de maça com bordas de uvas, padrões e tamanhos e formas com harmonia, tal qual ela faz com os tecidos e os pontos com linha. Gerou ver no docinho, naquele dia, um risco de bordado tradicional, harmonia de cores e formas, florais, simetrias... Encantamento e semelhanças.

 

Agradeço ao Arthur pelas maravilhosas frases que repete com alguma frequência trazendo dinâmica e graça aos diálogos: “tem certeza?!” “Bem melhor!”. Gerou boas risadas e especialmente quando foi autorizado a escolher o lugar da alça costurada no avental para pendurar a toalha. Arthur fez uma “gravata dourada” com a toalha amarela e disse: “Bem melhor!” foi preciso!

 

Agradeço ao João Pedro pela prontidão com que reconheceu o movimento de inicio e fim das aulas. Assim que termina uma tarefa mesmo não estando na hora ainda já pendura as almofolhas de fada sinalização seu desejo de partir. Gerou dar oficialmente a ele está função nas terças-feiras, depois da partilha da mesa da festa, depois de dar alguns pontinhos no tecido era a vez de pendurar e ver a sala arrumada para a despedida. . A repetição do ritual sempre igual fortaleceu o movimento de João que se integrou mais ao grupo e as tarefas.

 

Agradeço a Maria Rita pela incansável disponibilidade em aprender, em “morar na Puc” em fazer mais, em saber mais, sempre puxando para novos movimentos: acabou o corte das bananas agora é docinho... já terminamos de tomar suco.. vamos lavar os copos... E culminou nos minutos finais da minha última aula dizer: “Quero fazer um costureiro igual ao da Cacá!” ajudei a cortar e logo ela reconheceu como terminaria e levou pra fazer em casa. Gerou adorar conhecê-la mais.

 

Agradeço a Juju por pedir mais bordado nesse semestre. Já fez tantos projetos com tecido e todos cheios de detalhes e empenho. Gerou surpresa e grande felicidade em poder conduzir um novo projeto com pano que envolveu toda a turma.

 

Agradeço a João Lacerda por fazer um rap do coro: “Ipê, fedegoso, paineira...” ficou ótimo o ritmo e o tom grave fez boa base pras outras vozes. Gerou força coletiva em toda nossa sala de aula entre as árvores.