LUIZA BOECHAT CONCLUSÃO 2015.2



Luíza Barreto Boechat luizabarreto17@gmail.com 2015.2

CORDA DE SISAL EM GRUPO – 13/08

Eu agradeço à corda de sisal pelo fato de eu ter percebido que eu preciso aceitar que não posso obrigar ninguém a se movimentar, só porque eu acredito que seja o melhor. Mas eu posso dançar e deixar as pessoas livres com vontade de se mexerem também.

Isso gerou em mim uma certa angústia pelo fato de eu não poder controlar o livre-arbítrio do outro e convencer-lhe de se movimentar, na intenção de "acelerar" o bom resultado. Mas também uma grande percepção da importância de aceitar o que não está ao meu alcance mudar, para não gastar a minha energia em vão. Quem quiser se movimentar também é livre para se juntar, ou não.

CORDA DE SISAL EM 4 GRUPOS - 18/08

Eu agradeço à corda de sisal pelo fato de a experiência anterior ter me proporcionado aprendizados, uma consciência maior que me permitiu ser mais confiante na dinâmica de hoje. Sinto que pude me entregar mais inteiramente ao desconhecido e tive maior serenidade em relação às minhas expectativas sobre o outro na rede.

Isso tudo gerou em mim uma sensação de que preciso ter perseverança e paciência no processo de evolução interior e no que vejo no exterior. Hoje senti um grande avanço em mim e no grupo. Sou grata a isso.

CENOURA – 20/08

Eu agradeço à cenoura, pelo fato de ser um ser vivo tão plural e surpreendente em sua perfeição. Ela é o canal entre o céu e a terra, a manifestação do divino dado pela Mãe Terra de presente a nós. Desconhecemos tanto da vida, que desprezamos a parte da cenoura em que a união – que tanto buscamos – se realiza nela, simplesmente pelo fato de sua aparência escura sugerir o desconhecido.

Isso me fez sentir uma imensa gratidão à natureza e à vida, além de ter sentido gratidão por mim mesma, por saber que eu também sou parte dessa essência divina de perfeição e múltiplas possibilidades.

CORDA DE RAMI EM DUPLA E INDIVIDUAL – 27/08

Eu agradeço à corda de rami, pelo fato de ter me proporcionado experimentar uma mesma dinâmica sozinha e com outra pessoa, e ter sensações tão diferentes. Isso me fez perceber e sentir a capacidade humana grandiosa de se adaptar e buscar, em cada circunstância, uma forma de plenitude, de contentamento, de superação.

PIGMENTOS VIVOS ABÓBORA E INHAME – 08/09

Eu agradeço à abóbora e à sua cor de abóbora tão fascinante pelo fato de me proporcionar um conhecimento via sabor. Estamos tão acostumados à audição e à visão como sentidos de acesso ao conhecimento, que esquecemos, ao longo da vida, o quanto podemos experimentar por meio do nosso paladar.

Isso gerou em mim uma sensação de expansão da minha existência, de descoberta de novas possibilidades de explorar o mundo.

A mesma gratidão eu sinto pelo inhame, esse fruto divino que nos dá também o leite, o purê de gosto neutro que, conforme temperado, pode proporcionar muitos novos sabores e sensações.

Espero, do fundo do meu coração, que todo esse conhecimento faça parte de quem sou e de quem serei por toda a minha vida, para fazer da minha alimentação e da alimentação da minha família um ato político e amoroso consciente.

PÃO DESIDRATADO – 15/09


Eu agradeço a todos os ingredientes que, juntos, espremidos, moídos, remoídos e unidos nos proporcionaram uma consistência para mim improvável e surpreendentemente incrível.

Agradeço pois desconhecia a possibilidade de fazer um pão vivo, só com sementes e legumes vivos e ainda mantê-lo vivo até eu comê-lo e ele fazer parte de mim, até eu me "empãozar".
Isso me fez perceber que ainda desconheço muitas possibilidades de alimentação, de comunicação, de vida, e que posso aprender a me alimentar, me comunicar e viver de uma forma que tenha ainda mais propósito, harmonia e união. O pão para nós é um símbolo de
muita importância e eu nunca tinha preparado um. Me senti privilegiada.

ARGILA – 17/09

sua força, sua capacidade.
Cada um fez esse mesmo processo de exteriorizar e dar forma ao que existe dentro. E no final, fizemos uma grande escultura, que integra e reflete o que está dentro do cada um, o que é a imagem do grupo.
Isso me fez perceber e sentir que não há verdade maior que não a de que somos todos um e que o que acontece do lado de fora é mero espelho de toda a infinitude, ou finitude, da nossa existência, do nosso interior.

FILME: CAMELOS TAMBÉM CHORAM – 24/09

Eu agradeço ao filme Camelos Também Choram pelo fato de ter me emocionado tanto ao assistir as tantas relações maternas existentes naquela comunidade: as relações dos recém-nascidos camelos com suas mães, a relação da mãe com a filhinha, dessa mãe com a camela mãe que rejeita seu filhote. Em todas essas relações, o amor prevalece, não duvidaram de sua existência, nem desistiram de fazê-lo se manifestar quando ele parecia esconder-se.

A família ter se mobilizado para que a camela mãe amamentasse seu filhote rejeitado foi um gesto de grande amor – um reflexo de todo o amor que eles cultivam naquela vida em comunidade. Isso gerou em mim o sentimento de certeza da nossa necessidade de reconhecimento materno para vivermos e até mesmo sobrevivermos, e da importância de não desistirmos do outro. O fato de a música, essa manifestação divina do amor, ter levado a camela mãe a se conectar com seu instinto materno tão encoberto por ressentimentos da dor, tornou todo aquele processo ainda mais especial. E quando a camela assumidamente mãe chorou aquelas muitas lágrimas de gratidão e amor senti grande empatia e chorei com ela.

FILME: LA BELLE VERTE – 28/09

Eu agradeço ao filme La Belle Verte pelo fato de ter me mostrado como naturalizamos e nos acostumamos com determinados costumes, práticas, modos de vida e de relação consigo, com o outro, com a natureza, com a cidade tão nocivos à nossa saúde e à nossa felicidade. Um trecho do Guardador de Rebanhos, meu poema preferido de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) é a expressão em palavras do olhar ingênuo de Mila (olhar este que nos vai sendo arrancado ao longo da vida social na cidade) "Sei ter o pasmo essencial que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras. Sinto-me nascido, a cada momento, para a eterna novidade do mundo". O olhar com que enxergamos o mundo é um olhar blasé, de quem não mais se surpreende, ou se questiona – só reproduzimos o que vemos e mecanizamos nossas vidas.

Isso gerou em mim uma grande angústia sobre as nossas vidas na cidades – sempre em lugares tumultuados, preenchidos por barulhos, prédios, pessoas, mas tão egoístas, individualistas, solitários. A vida em comunidade perdeu muito do sentido de comum, de unidade – estamos no mesmo espaço, mas perdemos a consciência da nossa interdependência e vivemos uma vida de muita competição e menos colaboração.

GRAMA DE TRIGO E DE GIRASSOL

Eu agradeço à grama de trigo e de girassol pela forma como cresceram, porque me mostraram que não posso ter o controle de todo o processo - ainda que eu me dedique, há fatores externos que tiveram grande impacto e também coisas que eu desconhecia e não pude pôr em prática. Algo marcante o comentário da Ana "um lugar onde não há sol para as suas plantas não pode ser um lugar bom para você viver". Certamente, se tivesse mais luz do sol do meu apartamento, não precisaria queimar tantos incensos para manter a energia alta.

MANDIOCA

Eu agradeço à mandioca, essa raiz tão brasileira e de casca tão perfeitamente desenhada, pelo seu poder de alimentar e saciar a fome de tanta gente. Agradeço por ter descoberto que é possível comê-la ainda vida e se “emandiocar”, se ela for esquentada apenas pela luz do sol. Isso despertou em mim uma grande felicidade, por descobrir que posso fazer parte do processo de elaboração da farinha que tanto amo desde os seus primeiros estágios.

BOLINHO DE NANÃ

Eu agradeço ao bolinho de Nanã por seu sabor tão novo para mim e tão surpreendentemente delicioso. Agradeço ao coentro, ao pimentão vermelho, à cebola e, principalmente, à farinha de mandioca que nós mesmos havíamos feito, por terem formado uma espécie de “feijão tropeiro” vivo, cobrindo as carências de alguns sabores afetivos que surgem quando resolvemos mudar nossa alimentação. Isso me fez sentir tanto prazer em comer, que no final de semana seguinte quis fazer o bolinho no almoço para uma amiga – e ela amou!

RISOTINHO DE NATAL

Eu agradeço ao “Risotinho de Natal” e às suas cores roxa, verde, vermelha e amarela, e seus tantos sabores afetivos. À cebola, que ralei e piquei, por seu sabor ardente e sua cor lilás, a cor da espiritualidade. Ao aipo pela sua cor verde, que alimenta o vermelho do nosso coração e pela sua crocância duradoura. Pelo amarelo alaranjando da cúrcuma e seu cheio tão saboroso e forte. Pelo vermelho do pimentão, que mais tarde estarei provavelmente arrotando. Pelo feno grego e seu cheiro de curry. Pela maçã, seu doce e sua crocância esponjosa. Todas essas cores e sabores me abraçaram por dentro e me fizeram sentir satisfeita com a minha alimentação.

TERRA

Eu agradeço à terra, minha mãe, meu elemento, que é berço da vida e da morte, por acolher com amor e paciência todo processo de transformação dos seres que por ela passam e dela dependem. Agradeço o privilégio de tê-la visto em sua intimidade, em suas diferentes etapas de vida, e por sua humildade de transformar em adubo, em mais vida tudo aquilo que desprezamos e descartamos. Isso me fez sentir que tendo eu signo de elemento terra, possuo também essas características maternais de acolhimento e paciência comigo mesma, ainda que seja tão difícil me entregar a essa essência “terrosa”. Mas se descobrir e se reconhecer na natureza, na vida não humana já foi um grande aprendizado, que fez nascer em mim mais um brotinho de sabedoria.

FOGO

Eu agradeço ao fogo por sua vontade de arder e por ter descoberto que ela é sinal de vida, não de morte. Agradeço ao fogo por ser responsável pela nossa sensualidade e lamento o medo que o impede de existir e nos impede de nos aproximarmos dessa energia de tamanha transformação. Isso me fez sentir que ainda há tantas coisas na vida cujo significado e beleza não conheço verdadeiramente... Porque são distorcidos, em função da necessidade humana eliminar tudo aquilo que não consegue controlar porque tem medo.

BIBLIOGRAFIA

Eu agradeço à bibliografia apresentada pela Ana, pois pude conhecer os grandes vetores de sua transformação. Foi especialmente importante ouvi-la falar mais de Maturana, e saber da carta que ele escreveu à professora de seu filho. Numa escola onde as experiências pessoais não são valorizadas e tantas verdades são impostas verticalmente, é muito poderoso, subversivo e lindamente poético dizer “a sua verdade seca a minha boca”. Isso me fez sentir que há muitos corações acolhedores espalhados por aí, e que eu posso acreditar em um novo mundo de maior consciência.

MANDALA DE FRUTAS

Eu agradeço às frutas das mandalas de frutas – jaca, banana, uva passa, mamão – ao amendoim germinado com raspas de limão, ao abacate, por terem se transformado em desenhos lindos de doçuras intensas. Isso me fez querer olhar para as cores das frutas como olha para uma paleta de cores e me aventurar em criar desenhos lindos cheios de sabor e carinho para mim e para as pessoas que amo.

AMENBACATE MINHA COMIDA NA CEIA

Eu agradeço ao Amenbacate por ter sido o prato que criei para um dia de partilha de amor por meio da comida. Agradeço por ter sido a materialidade de um ensinamento que muito me marcou – a paciência e o contentamento em melhorar o que já sei, ou estou aprendendo, ao invés de querer inovar a cada vez. Escolhi a minha comida viva favorita, antes mesmo de saber que ela tinha esse superpoder – a guacamole. Polvilhei-a com amendoim germinado e raspas de limão, deliciosa descoberta da aula anterior, e servi em “conchinhas roxas” de repolho orgânico. Tudo foi preparado com muito amor e senti muito orgulho de mim por ter conseguido respeitar meu tempo e não me atropelar pelo desejo de abraçar o mundo com as pernas e tentar tudo de uma vez, apenas uma vez.

CONVIVÊNCIA COM O BIOCHIP

Um refúgio na rotina acadêmica que nos impõe tantas verdades. Uma sensação, a cada encontro, de ser tão desconhecedora do mundo, e a recompensa de se perceber eterna descobridora da vida e ter orgulho disso. A humildade de escrever gratidões à vida que se manifesta em forma não humana - como à cor laranja da cenoura. Descobrir que cores são sabores. Aprender que eventos são é-ventos, são o que o vento leva e a gente esquece. O contato com a sabedoria de uma mulher que te guia a um lugar de muita sabedoria dentro de você. Ter o privilégio raro de explorar os 5 sentidos na sala de aula. Isso é Biochip com Ana Branco! Gratidão!