MATHEUS FERRARI CONCLUSÃO 2015.2



Gratidões para a minha convivência com o biochip

Matheus Ferrari

20 de agosto de 2015:

Eu agradeço à cenoura por me mostrar que nada nunca é apenas uma coisa. A própria cenoura não pode ser reduzida a uma cenoura: ela é um pouco doce, um pouco azeda, um pouco amarga, às vezes laranja, às vezes branca, às vezes marrom...nada é só uma coisa. Nada é único, e deve ser desconstruído e para isso experimentado, testado, desmontado e montado de uma nova forma.

Gratidão, cenoura!

25 de agosto de 2015:

Agradeço à corda de rami por me mostrar que sempre posso ir além dos meus limites. Mesmo tendo pouca capacidade física e uma coordenação motora descoordenada, consegui ir além do que sempre foi “possível”. No exercício em dupla vi como a confiança pode trazer paz e descontração, literalmente!

Gratidão, corda de rami!

01 de setembro de 2015:

Eu agradeço ao repolho roxo, ao repolho branco e à cenoura (principalmente, pois foi com ela que trabalhei hoje...e nunca me canso) por me mostrarem que estar vivo significa estar em movimento. Nas condições certas, tudo que é vivo muda. Muda de forma, de cor, de tamanho e, neste caso, até de gosto!
Enquanto aluno de Relações Internacionais sei como os fluxos e movimentos são muito importantes e é muito gratificante ver o movimento em coisas tão pequenas, mas ao mesmo tempo tão grandes...quanta a própria vida! Aguardo ansioso pela quinta-feira para ver os resultados!

Gratidão, amigos!

03 de setembro de 2015:

Eu agradeço à fermentação por me livrar de mais um preconceito! Acredito que esse é inerente, e enquanto indivíduos de uma comunidade temos que nos tornar cada vez menos preconceituosos com aquilo que nos cerca.
De fato, a própria palavra “fermentação” remetia, para mim, a algo nojento, podre e impróprio para consumo. Mesmo após fermentar o repolho, fiquei cético em comê-lo. Uma bestei, não só foi delicioso comê-lo como prazeroso prepará-lo!

Gratidão pela oportunidade!

08 de setembro de 2015 :

Eu agradeço ao inhame e à abóbora por me mostrarem que podemos obter o mesmo resultado do cozimento (um purê) sem nenhum cozimento! Além disso, agradeço a eles e seus amigos repolho roxo, abóbora e beterraba por me mostrarem que cada cor tem seu sabor! Uma verdadeira sinestesia. Por fim, agradeço à maçã, que tão despercebida nos meus dias, adoça minha vida sem eu perceber.

Gratidão, amigos!

15 de setembro de 2015:

Eu agradeço ao pilão e à moenda por me reavivarem uma memória que eu nunca vivi. Ambos, aliados a toda a virtude lida no trecho de “o Evangelho segundo os Ecênios”, me permitiram contemplar o ato de preparar a minha própria comida e ter consciência de como esse fazer é permeado pela noção de sagrado, que cada vez mais é deixada de lado. Depois de hoje, sempre que eu preparar a minha comida, vou procurar ir além do propósito de comer e relembrar tudo aquilo que minhas memórias, como a óssea, já esqueceram.

Gratidão pela experiência!

17 de setembro de 2015:

Eu agradeço à argila por tantas coisas. A primeira lição foi sobre o tempo. A argila me levou há quase vinte anos no passado, para minha infância, e gradualmente a quinze mil anos antes. O primeiro tempo foi acessado pelo toque, pelo cheiro, pelas lembranças que guardo dentro de mim. O segundo remete a tudo que esta argila já passou, toda a história que ela viveu: uma história que ela resolveu me contar.
Justamente, a segunda lição desta história foi sobre o amor. Ao deixar aquela argila se mover natural e livremente pela minha mão, achei incrível o fato de ela sempre querer ficar junto, grudadinha, como todas as coisas vivas, que devem sempre se amar; o que me leva à terceira lição e gratidão.
Quando amamos a vida à nossa volta, inclusive uns aos outros, a própria vida torna-se mais bonita. Ao desapegar da forma que dei à minha nova amiga, pude conhecer as amigas dos meus amigos. Ao juntar todas as nossas formas criamos uma identidade coletiva, uma vida nova.

Gratidão, Argila, por essas valiosas lições!

20 de setembro de 2015:

Eu agradeço ao filme “Camelos também choram” pela lição e experiência. É sempre lindo e gratificante poder se emocionar com a vida, saber que eu faço parte de algo maior. Saber que mesmo um filme sobre camelos no interior da Mongólia pode me tocar e falar sobre mim, uma vez que diz respeito à vida. Além disso, é muito bom se emocionar e se “reemocionar” com uma mãe aceitando e dando amor ao seu filho(te), aceitando o ciclo da vida.

Gratidão!

29 de setembro de 2015:

Gratidão à “La Belle Verte” um filme que embora se enquadre no gênero da ficção diga mais sobre o nosso modo de vida do qualquer documentário. Agradeço pelo fato do filme ter me mostrado que mesmo algo banal, que passa despercebido no meu cotidiano como um carro, tem um impacto maior do que se imagina no planeta, nos indivíduos e na vida como um todo. São lições que vou incorporar, com certeza, ao meu estilo de vida.

Gratidão!

Convivência com Biochip – Gratidões da segunda metade do semestre

Matheus Ferrari

08/10

Hoje, com certeza, foi um dos dias mais marcantes da minha vida. Infelizmente minha família é muito carnívora e fui criado nesse meio. Tenho certeza que não será fácil, mas estou mais que decidido, a gradualmente, parar de comer carne. Nesse sentido, eu gostaria de agradecer pela oportunidade e a todas as pessoas que não comem carne, por primeiro estarem se protegendo e mudando uma consciência coletiva, e segundo por estarem preservando a vida de outras espécies. Eu gostaria de agradecer à Ana Clara, que como uma boa Goytacaz pensa no coletivo e desde já está me incentivando a fazer tal redução. Agradeço à Valéria, que não hesitou em mostrar a sua sensibilidade em público, demonstrando que o consumo de carne tem um impacto em todos.

13/10

Agradeço hoje, da forma mais ampla possível, à Mãe Natureza. É incrível que existam tantos tons de verde tão pertos de mim e cada um com um sabor diferente. Não tenho dúvida que não importa o quanto avançar a ciência, isso nunca será replicado. Agradeço aos meus colegas de turma por terem incentivados uns aos outros a tomar os sucos, por menos “apetitosos” que eles soassem. Agradeço à chicória por me mostrar que qualquer suco pode ser gostoso. Agradeço ao hortelã por me surpreender; de fato, eu amo me surpreender, amo ter minhas expectativas quebradas: de todas as folhas, o hortelã foi o com o sabor que eu menos esperava. Imaginei algo entre um chá e uma bala de infância e fui supreendido pelo amargo. De qualquer forma, o hortelã vai continuar refrescando outros sucos e receitas, ainda que eu não tenha gostado muito do seu sabor puro. Gratidão, hortelã!

20/10

Agradeço ao sol por me permitir imaginar. Saí dessa aula imaginando a farinha que fizemos na praia, de bumbum pro alto pegando sol e fofocando sobre banalidades. Saí dessa aula com um sorriso imenso no rosto imaginando o sol agindo sobre a peneira, e tentando imaginar o que sairia como resultado aula que vem. Na verdade, acho que todo dia a partir de hoje vou agradecer ao sol, por ser o primeiro a me receber ao acordar, por tornar meu dia mais bonito, mais agradável, por dar oportunidade aos passarinhos de cantarem e deixarem o mar da Urca, onde moro, mais reluzente. Agradeço também aos meus colegas, sinto que a cada aula temos um vínculo mais forte e tornamos o resultado cada vez mais coletivo.

22/10

Agradeço à Dadau por compartilhar os seus ensinamentos e sua vivência com a gente. Essa mulher tem a energia de uma mulher forte e eu consigo sentir isso. Só de estar ao lado dela, me senti grato. Agradeço por ter aprendido tanto com seu silêncio e humildade. Humildade que gerou o bolinho de Nanã mais gostoso e surpreendente de todos. Agradeço à Luiza, aliás, por animas demais essa aula: sempre que alguém perguntava o nome do prato, ela respondia “Bolinho de Nanãããã” em ritmo de sertanejo. Agradeço também à Orixá Nanã que misteriosa não deixou de me surpreender. Agradeço também à Heloísa Helena, Yalorixá Luizinha de Nanã, que também é uma mulher fortíssima e está sofrendo um processo de remoção na Vila Autódromo. Agradeço a todas as mulheres fortes, que como Nanã, mostram que a luta é constante e que não devemos aceitar o que é dado. Essa aula foi incrível porque apesar de ser “só”um bolinho, me fez pensar na minha posição e papel na sociedade. Força a todas as mulheres e gratidão por tornamarem a minha vida mais linda!

27/10

Agradeço ao feno grego por me mostrar a existência de novos sabores! Sempre fui um pouco arrogante, achando que nunca me surpreenderia com novos sabores e é muito gratificante se decepcionar, no sentido de acabar com algumas prepotências. Agradeço à cúrcuma pelo amarelo vibrante, que me deixou igualmente vibrante!

03/11

Agradeço hoje ao Brasil! Agradeço pela sua biodiversidade, tão colorida, tão rica, tão saborosa, tão acolhedora. Tenho certeza que só em um país como o meu, uma aula tão alegre como essa poderia acontecer. Agradeço aos meus colegas por compartilharem das suas criatividades, das suas ideias e por terem dado tudo de si para fazer algo tão efêmera, como uma mandala de frutas que seria logo consumida, mas algo tão eterno, quanto a memória das cores e dos sorrisos que saíram naquela aula. Agradeço à Ana Clara e ao Rogério, meus bastiões na vida, que ao me oferecerem seus azulejos me mostraram o nosso vínculo.

13/12

Por fim, eu gostaria de agradecer a você, Ana, por ter sido muito mais do que uma professora, mas por ter, literalmente, nos acolhido. Você é umas das pessoas mais incríveis que eu já conheci e é o tipo de pessoa que merece ter nome em Praça, Rua, Avenida! Cada momento do seu lado é um aprendizado e como eu disse na festa da ceia: você me mostrou que sempre há uma alternativa. Não só para a alimentação, mas para a vida como um todo. Seja ao se olhar para uma situação possivelmente ruim, como uma dor de dente, com um sorriso. Seja ao espalhar a sua positividade a todos à sua volta. Você é uma mulher forte e que merece todo o amor e respeito desse mundo. Por favor, Ana, continue na sua luta e permita a outras pessoas que elas se mudem, assim como você fez comigo! Mesmo que eu não volte a ser seu aluno, sempre vou ter você no meu coração e pensar “como a Ana reagiria a isso”?
Agradeço aos meus colegas, que mais do que isso viraram meus amigos. Amigo é aquela palavra forte que a gente leva pra vida toda. Mesmo que alguns não fiquem comigo pela vida toda, a memória que guardo deles nunca vão se apagar. Com eles aprendi que comer e cozinhar são coletivos, e agradeço a eles por terem divido essas experiências comigo.
Falando nisso, agradeço pela experiência, de uma forma geral. Com certeza isso desencadeou um processo em mim e uma sede de mudança que nunca mais vai acabar. Depois dessa aula percebi o quanto amo o meu país e quanto ambos precisamos um do outro. Apesar de não ser uma matéria de relações internacionais, ela me permitiu definir meu tema de monografia, um tema que de alguma forma falasse sobre a minha cidade, a minha experiência e não me deixasse estagnado no ar condicionado produzindo teorias com termos complicados. Depois dessa aula, minha monografia vai dar voz aos moradores que sofreram remoções para servir a interesse políticos maiores que a vida das pessoas.

Gratidão de um Matheus Ferrari muito feliz e mudado!