LUCAS SANTOS CONCLUSÃO 2016.1



Agradecimentos das aulas de Biochip

Dia 07/03/2016
Agradeço a corda pelo fato de unir todas as pessoas em prol de um único objetivo que era a segurança e o equilíbrio geral. Essa união necessitava que o trabalho individual tivesse uma dimensão coletiva, já que cada um fazia sua parte e isso bastava para que a atividade funcionasse. Isso gerou em mim reafirmar o quanto é necessário acreditar no outro, até mais que isso, de que acreditar nesse outro é o que podemos fazer de melhor, pois se tivermos essa segurança é que o medo vai embora. Medo de dar errado, medo de cai e por aí se listam todos os medos, medos que geram guerras em larga escala.

Dia 11/03/2016
Gratidão primeiro pela aula de hoje, que me fez sair de casa em um dia difícil. Hoje eu senti muitas diferenças em relação a aula passada. Encontrei mais dificuldade em uma teia pequena do que nas teias maiores. Acho que isso vai me dizer muitas coisas sobre estar em coletivo, vou ficar pensando sobre. Adorei a parte em que entramos e recebemos as teias. Me provocou memória das informações das minhas vivências, acho que isso pode me trazer paz e aceitação sobre elas, uma vez que já me foi difícil entrar em teias antes, e entender que isso é natural, traz cura. Hoje eu senti gratidão por conhecer melhor a turma, tomar banho de chuva, receber cola da teia de novo e de ter o presente de aprender mais e mais. Isso tudo tem me feito muito bem. Estou ansiosa para a próxima aula.

Dia 11/03/2016
Agradeço a atenção que me foi chamada. Por vezes ando sempre muito destruído, não dou a atenção que cada atividade que realizo pede, esqueço que é necessário estar no presente com a cabeça no presente. Quando foram separados os grupos, foi necessário que eu não só prestasse atenção em mim como nos outros integrantes. A intenção deixou de ser completar o exercício corretamente e passou a ser preocupação com o que o outro fazia comigo e eu com ele, de modo que o cuidado deixou de ser puramente individual. Isso gerou empatia, me colocar no lugar do outro, a serviço do outro. Quando se faz isso nascem relações humanas, ultrapassam limites de exercícios e viram afetividade..

Dia 14/03/2016
Agradeço a aula de hoje pelo fato de explorar a cenoura de uma forma que eu nunca havia observado, ou seja, aguçou minha ideia de que o alimento é somente alimentício. As texturas diferentes, as cores que possui e também as sensações que proporcionam quando entram em contato com a nossa capacidade de ingerir. Quando em contato com a minha língua, percebi na cenoura, coisas que eu nunca havia pensado quando comi outras vezes. Não creio que seja apenas a cenoura, digo o alimento em si, mas a forma como foi ingerida. Gerou entender a importância que tem a forma como fazemos as coisas, entender que a forma com que comemos define como será nossas percepções. Aumentou a vontade de explorar ainda mais cada coisa que penso em comer.

Dia 18/03/2016 Sempre tive paixão por cinema e filmes em geral, e como de praxe coloquei toda minha atenção no que estava sendo passado. O filme me mostrou a necessidade de sair de uma caixa onde todos formam seus conceitos - cultura norte- americana - de forma que quem vê de fora e quem tem olhos para tentar entender o além do pesquisado entende um universo muito maior que um apelo midiático, por exemplo. Gerou toda a ideia de que os representantes políticos movidos pelo capital, são bobos. São leigos. Reafirmou minha ideia de que continuar em uma linha lateral a que todos vão é o caminho certo para minha integridade para com as causas que luto e ligo minha atenção.

Dia 21/03/2016 Agradeço a corda de rami pelas inúmeras amarrações que fazia junto ao meu corpo. Cada amarração que eu fazia me mostrava um objeto novo que eu poderia representar em forma viva de carne e osso. Fiz cadeiras de balanço e pude descansar e chegar quase num sono bem leve. Isso me gerou um relaxamento profundo que me ensinou que meu corpo tem autonomia suficiente pra se deixar ser o que quiser, na hora que quiser e como quiser. Agradeço também a Ana por dizer que adoro me amarrar e por me fazer observar isso, pois sempre tentava mudar as posições e não observava que na verdade eu quem procurava ficar entrelaçado.

Dia 28/03/2016 Agradeço as palavras da Isabella Guida que me fizeram escutar o que eu realmente estava fazendo. Durante a atividade eu não me concentrava e ela então me aconselhou a parar tudo o que estava fazendo para simplesmente respeitar fundo e relaxar um pouco por conta da tensão que Projeto 3 estava me dando na época. Então eu me deitei e fiquei quieto e isso me rendeu um dia maravilhoso com muito menos estresse e muito mais produtividades, porque agora eu estava entendendo meu corpo e sentimentos melhores.

Dia 29/03/2016
Agradeço aos alimentos que foram colocados no copo para fermentação pelo fato de me ensinarem a esperar o tempo necessário. Quando fiz a atividade queria muito saber o resultado, mas precisei me controlar e esperar o tempo necessário e assim respeitar os limites da natureza sem por minha vontade como algo prioritário. Isso me fez entender e respeitar o outro, seja ele um humano ou um alimento, de forma que consiga conviver de maneira harmônica mantendo em primeiro lugar a empatia e a capacidade de esperar o tempo certo de colher.

Dia 04/04/2016
Agradeço o momento especial do corte dos alimentos em sala de aula. Aprendi cortando cada ingrediente vivo que fazer o processo inteiro, ou seja, o descascar, cortar e desenhar, é essencial para obter uma resposta do corpo positiva. Quando fazemos tudo, nosso corpo responde bem porque aguçamos nossas percepções desde o corte que nos mostra a textura nas mãos e a capacidade de dominar o corte até o ato de ingerir que acaba acontecendo com mais carinho e respeito, pois ali firmamos uma identificação com o que estamos fazendo. Me gerou entender a necessidade de completar etapa por etapa.

Dia 08/04/2016
O filme Camelos também Choram me fez observar uma coisa que as vezes acabo esquecendo. O filme retrata rituais e costumes, mas o que mais chamou minha atenção foi o conhecimento sendo passado do mais velho ao mais novo, quando, por exemplo, acontece o nascimento do primeiro camelo. Aquilo mexeu comigo de forma que me sensibilizou pelo fato de muita das situações a gente ignorar o que o ouro fala ou faz. A observação e a audição de um conteúdo pareado verbal ou não verbalmente é essencial para nossa sobrevivência justa e fraterna para que possamos aprender mais. Essa observação me gerou maior atenção no que outras pessoas me falam, principalmente quando se trata de alguém mais velho, pois assim é possível estabelecer um diálogo que nos retira o medo do contato com o mundo físico que exige preocupação com o outro.

Dia 11/04/2016
Agradeço a voz baixa da argila. Quando conversamos ela falava muitíssimo baixo e para eu entender precisei ficar quieto com concentração toda voltada para o que ela tentava me dizer. No momento passavam alguns carros na rua e mesmo assim eu insistia e continuar a conversa. Com o passar do tempo ela ia me chamando de maneira que meu corpo conseguia canalizar a atenção para onde eu queria e assim manter qualquer tipo de contato. Essa amizade que acabou acontecendo, me gerou felicidade a ponto de eu poder entender que além de ter controle sobre o que quero ou não aprender, ou seja, ter um filtro de atenção, e também saber escutar algo que necessita de uma sensibilidade incalculável, até porque não é fácil conversar com uma senhorinha tão velhinha e sábia.

Dia 15/04/2016
Agradeço essa aula por ter trabalhado com a pigmentação e assim treinar o órgão da visão de maneira que força-nos a observar certas cores que acabamos por não reparar por estarmos sempre treinados a encontrar por meio de programas gráficos em computadores. Percebi também que o olfato reforça a ideia da cor por nos remeter uma memória afetiva que temos com os alimentos. Isso me gerou não só a respeitar como também ver a Terra como algo muito maior que produtor de vida, mas como a mãe que além de produzir e parir, cuida e provem todo alimento que precisamos para continuar de pé.

Dia 18/04/2016
Agradeço a curiosidade que tive com as sementes e a Terra que ganhei. Sai da aula e logo plantei minhas duas plantinha saindo na PUC, pois elas me passaram o sentimento de que eu precisava dar vida aquilo que me daria vida mais tarde. Plantei e molhei um pouco. O resultado demorou um pouco, mas pra mim uma eternidade, dia após dia eu conseguia olha na beira de minha janela e perceber a evolução da vida. Isso me fez lembrar do exercício que quando pequeno fazia na escola, de ter que plantar o feijão em um algodão e ficar observando. Me gerou lembrar de toda inocência e vontade de viver todo aquele sentimento, e assim eu fiz.

Dia 25/04/2016
Não fui a essa aula, mas perguntei as minhas amigas como tinha sido e reproduzi o mesmo em casa. Fiquei um tanto chateado de ter que usar minha plantinha pra fazer o suco, mas conversei com um pouco com ela e tentei entender o que ia acontecer quando tomasse o suco. Depois de fazer todo o processo fui inferir o suco e me senti bem, como se houvesse uma substância viva dentro de mim, cuidando das minhas fraquezas e fortalecendo os meus órgãos internos. Essa sensação foi o que gerou em mim em conjunto com o aprendizado de que é essencial manter diálogo direto com tudo aquilo que colocamos pra dentro.

Dia 29/04/2016
Assisti o filme em casa por indicação das minhas amigas que estavam na aula. Chorei ao ver tudo, pois me sensibilizou ver o quanto nós ainda somos pequenos. Fiz uma ligação com o capitalismo que domina os cérebros e nos impede de pensar. A vida vale mais que o capital e o filme reforçou essa ideia me fazendo gerar uma série de ideias que posso contribuir para isso. O papel do gênero demonstra toda a forma de exploração que nós ainda contemplamos e a desarmonia com a natureza que ainda praticamos. Me senti inspirado para concretizar outros trabalhos seja dentro ou fora da universidade, e assim encaminhar na direção do que realmente precisa de atenção e prioridade.

Dia 02/05/2016
Agradeço ao processo que tive que passar. O pilão me ensinou a frequência da batida do meu coração, o moedor me ensinou a importância de controlar as duas mãos para não machucar e os ingredientes em geral me ensinaram a prestar atenção na hora de cortar e manusear. Agradeço a Ana por me dar uma prova antes de comer é assim me traduzir um sentimento de confiança. Agradeço principalmente a Maria das Graças que no final da aula me pediu para lavar a panela onde estava a sopa, e assim eu pude observar a diferença do fundo quando o alimento é vivo ou quando ele esta cozido.

Dia 06/05/2016
Assisti o filme A dança das Sementes depois pois não fui a aula, mas fiquei extremante mexido. O filme me mostrou como as plantas são a nossa cópia e nós a cópia delas. Quando se passa a parte de agrofloresta, fui de contraponto ao pensamento que tenho sobre pessoas, que a convivência dos diferentes é que gera uma saída de um mundo melhor e de um olhar mais humano, e assim também são as plantas. Elas se ajudam quando estão juntas e diferentes, as pragas não atacam de maneira tão forte, o uso de agrotóxicos não é necessário e o convívio entre elas fica muito melhor. Fiquei estatelado com a surpresa desse ensinamento que o filme me deu e assim posso valorizar ainda mais a diversidade seja entre vegetais ou humanos, e até entre os dois diferentes que são iguais.

Dia 09/05/2016
Agradeço o diálogo que tive com as conchas. As conchas me falaram pra colocá-las na pele e assim eu fiz, tendo como resultado o meu suor. O suor me mostrou a interação e assim fui conversando. Elas me contaram que sou tão fragmentado quanto elas é tão frágil quanto. O cuidado que tenho que ter com meu corpo foi o tempo inteiro frisado na nossa conversa. Por um tempo eu quase dormi. Entrei num relaxamento e pude fazer contato com um mundo muito maior do que este que estamos vivendo. Me gerou enorme felicidade em tempos tão difíceis de se manter em sanidade mental por conta da quantidade de injustiças sociais e desgovernos políticos. Fiquei muito feliz com a nossa amizade. Iemanjá me mostrou como saber viver em tempos de mar agitado e de ressaca.

As feições de um rosto curioso sempre me foram marcantes. Quando criança não conseguia entender bem o porquê de todo aquele espanto das pessoas, das observações e até risadas. Eu estava bem com as minhas brincadeiras. Amava amarrar pedaços de retalhos pelo corpo e fingir estar num corpo feminino, adorava vestir a cabeça com um pano de prato fingindo ser um cabelo enorme, gostava de misturar alimentos e fingir que estava preparando uma comida deliciosa. O tempo foi tratando de colocar as coisas no lugar e fui aprendendo qual era o meu lugar no mundo. A desobediência constante era a arma pra burlar as regras que nunca me fizeram sentido, de chamar a atenção de todos para as maravilhas que a cabeça é capaz de pensar. Mas me vi sozinho, não tinha companhia. Eu e minha vergonha se escondiam atrás da porta trancada onde poderia protagonizar minhas performances e nuances.

Eu cresci e ainda estou nesse processo, mas cansei da fechadura e decidi abrir pro mundo aquilo que me abria pra vida. O mundo físico não me traz mais medo, não preciso dele e nem o quero por perto. Entrei pro ensino médio como forma de resistir junto com todos aqueles que precisaram se esconder do mundo por trás das portas. Fiz e falei tudo em público, mas ainda com um receio de uma direção escolar conservadora. Enfrentei, desobedeci.

Entrei pra universidade de cara limpa, mais desobediente que antes, do que sempre fui. Encontrei a barraca, entrei, sai, voltei e continuo nesse processo. Tive a dádiva de fazer tudo o que sempre quis, falar tudo o que sempre falei, usar o que sempre usei. Mas agora não precisa mais ser baixo, pode ser alto, gritando. Não existem muros, é aberto pro mundo.

Biochip me fez lembrar das minhas comidinhas, dos meus instintos humanos. Como poderia estar tão certo e ser tão pequeno? Me fiz essa pergunta inúmeras vezes e acho que ainda vou fazer muitas. Respeitar, observar, falar, chorar. É isso! Aprender a ouvir e não julgar. O mundo tenta retardar tudo aquilo que não é dominável, e biochip teve e tem como papel me fazer lembrar, me contar histórias em cada aula. Analisar meu passado para que possa evoluir no futuro, dar importância para o que realmente importa que é viver. Viver sem temer, porque Temer Jamais. Eu sou grato e devolvo gratidão. Não tem golpe que tire a vontade de chegar na barraca, abraçar todo mundo e celebrar à vida!

Biochip me ensinou o quanto é bom viver, e que mesmo que as vezes eu esqueça, vou estar sempre apto a lembrar e continuar o processo de evolução nessa terra.