Renata Brando CONCLUSÃO 2016.2



Eu agradeço a cenoura pelo fato de me mostrar as diferenças que podem existir num único alimento, gerando em mim a vontade de explorar, investigar e descobrir os diferentes gostos, formas e desenhos capazes de me surpreender e deliciar. Cada mordida foi uma sensação diferente! Ver o trabalho de cada aluno da turma foi uma experiência incrivel, que serviu para mostrar que não só a cenoura pode ter mil formas e sabores, mas também a criatividade.

Eu agradeço a argila pelo fato de, com seus 15 mil anos de história, ter me trazido uma série de ensinamentos sobre a vida e seus momentos. A argila gerou em mim diversas reflexões: pude notar que ela é extremamente mutável, se adaptando e aceitando todo tipo de situação. Em determinados momentos acolhia minha mão, em outros abraçava. Se acariciada, expandia, se levasse um tapa, encolhia. Em todos os momentos ela recebia o que estava sendo feito, tinha sua reação, mas independente do que fosse, aceitava. Foi uma experiência de autoconhecimento, em que pude sentir, entender e aprender com a argila.

Eu agradeço ao filme “Ponto de Mutação” pelo fato de me fazer entender melhor o planeta no qual vivo, assim como toda conexão que há entre os povos da Terra, gerando em mim uma nova visão de mundo capaz de mudar minha forma de pensar e agir e abrindo meus olhos para a importância da educação ambiental, que deve ser um assunto trabalhado como uma grande teia, ligado a diferentes disciplinas.

Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de reforçar em mim o sentido de pertencimento me conectando a outras pessoas, além do seu constante movimento, que gerou em mim tanto conforto como desconforto, criando assim uma série de questionamentos sobre as relações humanas, os laços de criamos durante a vida e a posição que tomamos diante cada um desses relacionamentos. Foi um momento extremamente importante por me lembrar que você pode sempre estar ao lado de quem ama, mas não viver por ela. Ênfase no estar ao lado: nem atrás, controlando, nem a frente, lamuriando.

Eu agradeço ao filme “Camelos Também Choram” pelo fato de ter me mostrado que os camelos choram, mas choram não diante da morte, mas em certa circunstância que faria chorar qualquer ser humano. Isso gerou em mim uma reflexão sobre como nós, considerados avançados e modernos, cultivamos a rejeição, o ruído, nos afastando da natureza de tal forma que perdemos o diálogo com plantas e animais e, assim, com nós mesmos.

Eu agradeço a corda de sisal por ter me mostrado como é diferente receber alguém e entrar na vida de alguém. Essas movimentações geram desenhos que se diferem, transformando os laços de todos que participavam do círculo. Esses movimentos, tanto de receber quando de entrar, se aplicam a todos os relacionamentos humanos que temos na vida, e agradeço a corda por me lembrar da importância de confiar, sempre.

Eu agradeço o repolho roxo, o repolho branco e a cenoura por terem colorido minha manhã e me dado energia pra seguir durante o dia! O contato com os repolhos e a cenoura estimulou minha criatividade, e a preparação do potinho para fermentação teve um resultado melhor do que eu esperava.

Eu agradeço as sementes de trigo e girassol que levei para casa pelo fato de terem despertado em mim a noção de que não preciso ser predador, posso ser produtor. Isso gerou em mim um senso de cuidado que não tinha ainda notado. Ver o crescimento dos brotinhos com o passar dos dias me alegrava, e me via feliz a cada novo verdinho saindo da terra. O trigo foi mais rápido. Destemido, no segundo dia já se mostrava para o mundo. Seu crescimento dia-a-dia foi sendo fotografado, me deixando surpresa pela mudança de tamanho registrada de apenas uma noite para outra. O girassol, mais tímido, demorou um pouco para sair da terra. Porém, quando resolveu que estava na hora, cresceu forte e lindo. A diferença na forma como as sementes cresceram me lembraram como cada um de nós é diferente, mas ninguém é melhor que ninguém. Me vi orgulhosa do crescimento dos dois, e pelo fato de terem me mostrado como é linda e necessária a diversidade.

Eu agradeço ao filme “La Belle Verte” pelo fato de me fazer pensar se da forma como vivemos estamos realmente evoluindo ou, na verdade, regredindo. A mensagem do filme é passada de forma clara e direta, porém leve, gerando em mim uma reflexão sobre a sociedade do consumo, sempre produzindo mais, consumindo mais, como num looping e, desse modo, se afastando cada vez mais da natureza, das pessoas e de tudo que realmente importa.

Eu agradeço a fermentação que levei para casa por ter despertado em mim a noção de que não temos controle sobre a natureza, parte do motivo que, para mim, a torna tão bonita! Imaginar que eu sou como o potinho de fermento gerou em mim uma preocupação muito maior sobre o que devo ou não comer, muitas vezes negligencio o meu corpo. Acompanhado do tofu e temperinhos que preparamos na aula, vou lá comer o repolhinho que levei pra casa!

Eu agradeço a investigação com pigmentos de beterraba, maçã, abobora, inhame e repolho roxo pelo fato de me fazer descobrir um mundo de combinações de sabores e cores, gerando em mim uma vontade de criar diversos sucos, explorando as possibilidades de combinação. As cores dos sucos separados eram lindas, principalmente a intensidade da cor da beterraba e a vivacidade do roxo do repolho. A cor era o suficiente para me atrair e me fazer querer experimentar. Tive uma grande surpresa, positiva, com o sabor do suco de abóbora. A mistura do suco de maça, com um toque de inhame e beterraba foi maravilhoso, terminei a aula feliz com a quantidade de novas combinações, até então inusitadas, que entraram para o meu repertório de sucos!

Eu agradeço a terra de 1 mês, 6 meses e 12 meses pelo fato de me mostrar a beleza e diferença de seus ecossistemas, gerando em mim uma série de pensamentos e aprendizados. Perdi qualquer receio de sujar a mão e me permiti sentir a vida daquele ecossistema tomando conta de mim. Mexi e revirei a terra, afinal, se eu não a movesse como apresentar a ela a mudança? Esse foi um dos primeiros ensinamentos que tive nesse dia, e o levei para a vida. A medida que a terra deixa de ser ácida e passa a ser aucalina, a vida ali fica mais evidente. Na terra de 1 mês, muitas plantinhas e insetos extremamente visiveis. Na de 6 meses, os insetos já são bem menores e a terra aparenta ser mais “molhada”. Na de 12 meses, não se vê os bichinhos, mas eles estão ali. Percebi cascas, e, se olhasse bem atentamente, era capaz de ver um ou outro pontinho se mexendo: os insetos se transformam e adaptam ao ecossistema em que vivem! A terra de 12 meses já me pareceu mais como uma massinha. Indepentende da idade, todas as terras me mostraram a vida, e sou grata pela experiência.

Eu agradeço ao documentário “A carne é Fraca” pelo fato de provocar uma reflexão sobre as consequências do consumo de carne, tanto para a saúde humana quanto para os animais e o meio-ambiente. Além de todo o impacto para as águas do planeta que a pecuária gera, o documentário aborda a questão da emissão de gases nocivos para a camada de ozônio, o desmatamento da amazônia e o problema da exportação do produto. A parte mais dífcil de assistir, pra mim, são os procedimentos até a carne chegar na bandeija do supermercado. Uma carne marcada pelo medo, pela violência, dor e sofrimento. As cenas são fortes, mas o documentário não é apelativo, apenas mostra uma realidade que muitos ainda tentam negar ou omitir, no melhor estilo “longe dos olhos, longe da mente”. Mas a questão retratada nesse documentário precisa ser repensada, bastante discutida e vai muito além da crueldade com os animais. A questão ética que levantam no filme implica impasses não resolvidos. Mas não há dúvida de que o impacto ambiental da pecuária no planeta é cada vez maior. Estamos lidando não só com extrema crueldade, mas também com uma emergência ambiental. Já passou da hora da socidade ver os animais como seres que têm as próprias vontades e direitos e das pessoas pararem de maquiar uma realidade mentirosa, e, quem sabe, adotar uma filosofia que descarta o consumo de carne, sensível ao sofrimento dos animais e à ecologia.

Eu agradeço ao filme “Super size me” por mostrar a influência das indústrias da comida rápida na sociedade e os efeitos que este estilo de vida podem causar na saúde física e psicológica de casa um. Isso gerou em mim um questionamento sobre o quanto vale comer algo rápido e prático, deixando de lado o que o seu corpo pede. Nosso corpo hoje é muito negligenciando e hábitos alimentares como esses só deterioram mais e mais nossa qualidade de vida. No documentário, o organismo do cineasta foi se debilitando mesmo comendo os lanches regularmente, fato que ocorreu pela insuficiência nutritiva daquela comida para as necessidades do metabolismo. Nada do que ele estava comendo era o que o corpo dele precisava. Por isso foi ficando subnutrido, anêmico, com perda de energia e vitalidade entre vários outros sintomas de mal estar, tanto físico quanto mental. Com humor, sarcasmo e ao mesmo tempo tristeza, o cineasta compartilhou conosco essa experiência e eu acredito que todos que tiverem a oportunidade de assisti-lo, se ainda frequentam redes de fast-food iram diminuir ou parar de ir em lugares como esse.

Eu agradeço a farinha de mandioca, o pimentão vermelho, o coentro, a cebola e o tomate pelo fato de me apresentarem uma nova maneira de combinar sabores, gerando em mim grande contetamento por estar ali, experimentando o bolinho que todos esses ingredientes juntos formaram. A farinha de mandioca, comida de travessia, tinha um cheiro maravilhoso, se via a diferença de qualidade dela para uma farinha comprada num supermercado. Após picar cada um dos ingredientes, a junção deles foi uma alegria! Poderia comer esses bolinhos todos os dias da minha vida de tão bom que estavam. A receita ficou anotada pra em breve eu me reencontrar com esses sabores.

Eu agradeço o arroz germinado, o aipo, a maça, o pimentão, a cenoura e a uva passa pelo fato de juntos terem gerado em mim um momento de grande felicidade gastronômica! Meu corpo agradeceu a comida viva, que em pequena quantidade já foi o suficiente para me saciar por um longo período. Além do meu corpo agradecer pela comida, meus olhos agradeceram pela beleza daquele prato colorido! Comida boa que que dá vontade de comer, grata pela experiência!

Eu agradeço a areia pelo fato de ter gerado em mim uma pausa na loucura do dia-a-dia, um momento de conexão profunda com seus grãos em que eu pude, por um instante, me sentir parte da areia. Senti cada grão e sua vibração. Em situações como essa que se percebe como a vida na cidade é corrida, desgastante, e ali pude usufruir de um momento de silêncio e contemplação. Tive um dia mais iluminado depois disso.

Eu agradeço ao filme “Les Ballons” por me apresentar a magia do balão. No Rio de Janeiro, muitas pessoas fabricavam balões gigantes em papel. Agora, a atividade é passível de prisão. Mesmo assim, os baloeiros continuam a fazer voar os seus sonhos por cima de uma das mais belas baías do mundo. Fiquei encantada com a satisfação do baloeiro em despender tempo e dinheiro na fabricação e soltura do balão, sem sequer se preocupar em recuperá-lo. Bem depois do término do filme fiquei com essa questão na cabeça, do grande apego a coisas materiais que carregamos. Como assisti o filme de casa, Infelizmente perdi a conversa com os baloeiros, imagino que tenha sido uma experiência maravilhosa pr’aqueles que puderam ir, compartilhar e ouvir histórias de quem pratica essa arte!