Alexandra Malschitzky CONCLUSÃO 2017.1



Biochip

Alexandra Malschitzky

16/03/2017

Agradeço a cenoura:

Pela conexão que ela tem entre o céu e a terra e por ela passar isso para mim. Por ela ser doce, ser salgada ser amarga dependendo de seu formato. Agradeço por sua versatilidade que possibilita ser manuseada a ponto de se tornar mais mole, mais crocante ou menos crocante. A agradeço por seu cheiro que me acalma e me traz memórias da infância. É muito maravilhoso saber que algo que a terra, água, o ar e o sol cultivaram em conjunto e com tanta sincronicidade possa me saciar e me nutrir de infinitas formas.

21/03/2017

Eu agradeço a corda de Rami pela sua resistência que se dá devido a seu trançado que permitiu entrelaçar-me com outras pessoas e comigo mesma. Sim, me entrelaçar e não me embolar, de forma que permite o corpo e consequentemente a energia fluir seja em harmonia com o colega ou comigo mesma. Ao confiar na corda confiei também nos meus colegas que se entrelaçaram comigo, não estávamos presos, nem dependentes, estávamos apenas conectados. O mesmo aconteceu quando pude explorar a corda com meu próprio corpo. Pude confiar em mim mesma e descobrir novos limites do meu corpo.

28/03/2017

Eu agradeço ao repolho roxo, repolho branco e a cenoura, por sua maleabilidade que combinados formam mosaicos de infinitas maneiras. Cada combinação que aos meus olhos são como música aos meus ouvidos. Agradeço à semente que germina e um veneno torna-se nutrição divina para o meu corpo. Agradeço a esses alimentos também por despertar em mim o desejo de querer ser paciente. Sinto uma emoção muito grande ao saber que a terra consegue reprogramar os alimentos (como um computador) de modo a tornar todo o alimento impuro (modificados, conservados etc) em puro novamente.

30/03/2017

Eu agradeço imensamente à fermentação do Repolho e cenoura que alimenta não só a mim mas também à mãe terra. Agradeço por cada indivíduo ter seu processo único, e cada resultado ser diferente. Agradeço ao tofú que junto a curcuma faz a comida e a natureza virarem arte pura. Tal arte que felizmente muito me satisfaz e me nutre. A crocância do aipo, a doçura a maçã, a leveza do tomate que quando postos juntos e preparados com amor alegaram, todos os meus sentidos : Tato, paladar, olfato, visão, audição, e principalmente a minha conexão com o meu divino e com a mãe terra; com o céu e com a terra. Assim como na aula da cenoura em que a parte que temos “preconceito” de comer é justamente a parte que conecta o céu e a terra. E é assim que me sinto após preparar essa nutrição, pode parecer clichê, mas me sinto MUITO nutrida.

11/04/2017

Eu agradeço ao repolho, à cenoura, à maça, à abóbora,ao inhame! Frutos e vegetais distintos, com cores únicas determinadas por suas formas. Agradeço ao fato de que cada um deles filtra as cores/energias que o sol emana e que cada um codifica de um jeito e absorve e mantém uma cor. Agradeço também às minhas mão que podem preparar em harmonia estes frutos e vegetais para que eles virem nutrição para o meu “rei" que habita meu corpo. Agradeço pelos gostos de cada suco individual e principalmente pelo gosto deles combinados. Me sinto satisfeita e harmonizada apesar de não ter comido em larga escala. Sei que isso se dá pelo fato de que dei valor à qualidade e não à quantidade.

18/04/2017

Eu agradeço à aveia e ao trigo por me trazerem a memória ancestral. Tal ancestralidade que vem tanto do sabor quanto do movimento corporal que faço durante seu preparo. Eu agradeço ao moedor e ao pilão por poder utilizá-los como instrumentos para uma meditação destinada ao meu sagrado alimento, quase como um ritual. Agradeço à maciez da aveia, essência do orégano, gosto do alho, coloração da curcuma que auxiliam ainda mais, acrescentando na qualidade de um pão que me nutrirá; em diversos sentidos: ( tato, paladar, visão, olfato, audição e espiritual)

25/04/2017

Eu agradeço a mandioca e a sua casca que desperta um enorme prazer em mim quando a descasco. Agradeço à sua cor e ao seu cheiro que me remete à cana-de-açúcar. Agradeço pelo leite que ela solta, à sensação tátil maravilhosa de poder soltar os bloquinhos de mandioca ralada com as mãos. A agradeço à soma de forças que faço com o colega para extrais o “leitinho”. Agradeço pelo amido que fica no fundo da tigela, e por ultimo, mas não menos importante, agradeço à farinha, por sermos o único país a tê-la que é uma das comidas que eu mais amo!!!

02/05/2017

Eu agradeço aos verdes. Ao verde da chicória, da couve, da hortelã, da grama de trigo e da grama de girassol. A agradeço por ter me tornado mais produtora e menos predadora. Agradeço à felicidade imensa que tive ao ver o milagre da germinação em minha própria casa. E como isso me fez voltar a ser criança e uniu minha família , pois todos acompanhamos ansiosamente o crescimento das plantinhas com muito amor. Agradeço por cada um dos verdes ter seu gosto e cor específico, e por isso apurar ainda mais meu paladar.

11/05/2017

Areinha fininha e gostosinha. Não se deixa ser moldada mas ainda assim consigo fazer desenhos nela. Não se deixa grudar, mas ficou grudada em mim. Quando cai sob uma superfície parece líquido as vezes parece até chuva. As vezes tão macia e as vezes tão áspera. Vejo uma relação muito forte comido mesma. Quando todos os grãos estão juntos tocá-la parece quase divino, e quando os grãos estão mais separadinhos se tornam mais aspetos ao toque. A relação entre o meu corpo e a areia que responde quase que instantaneamente aos meus movimentos e as respostas que pareciam muito corretas. Interminável possibilidade de desses. Abandono de julgamento. Ainda que no silencio, a areia conversava comigo, ou seja, milagre. Meu corpo é assim, a vida é assim, tudo é assim (maleável) o material é o mesmo!

PUC-Rio

Biochip

Alexandra Malschitzky

Agradecimento ao semestre:

Nesta segunda tapa de processo, pós G1, eu gostaria de agradecer pelo olhar mais sensível que despertei nas aulas. Um olhar de percepção de elementos naturais e também com relação a mim mesma.

Analisando, por outro lado, o semestre de forma geral, gostaria muito de agradecer à disciplina por ter gerado em mim uma vontade de querer mudar, com relação a alimentação, sensibilidade e respeito à vida.

Mudou o meu jeito de olhar para comida, que antes era algo que eu usava para me preencher e não para me nutrir, para alimentar o “rei” que eu redescobri dentro de mim, notando a diferença entre a quantidade e a qualidade. Sempre que saia da aula me sentia mal em procurar algum lugar para comer, e me sentia muito mal por não ter uma nutrição feita por minhas próprias mãos para me nutrir, o que mudou totalmente minha relação com o preparo da comida. Hoje tenho sem sombra de dúvidas muito mais prazer em preparar minha própria comida, que carrega e sintoniza-se com minha energia.

Outro fato, que influenciou muito foi perceber como a vida dentro de casa une, um exemplo disso foi quando trouxemos as sementes para serem germinadas e plantadas em casa, e como este pequeno fato de cuidado com a planta uniu a minha família, de forma muitíssimo positiva. As vivências com areia, conchas e argila despertaram em mim muita sensibilidade, e por mais que no início não fizesse muito sentido, no final eu conseguia entender o que aquilo representava, e como “coincidentemente" se relacionava com meus dias, estados emocionais e vida de maneira geral. Como as características e vida das coisas milenares da terras estavam tão presentes na minha realidade.

Gostaria de agradecer também a professora Ana Branco por ter sido a facilitadora de tudo isto, e por ter me introduzido a esta filosofia. Sou muito grata por sua dedicação paciência e amor pelo que faz, é realmente admirável, com certeza uma grande referencia para mim.

No fim do semestre quando realmente achei que tinha entendido tudo e ja estava desconstruída suficiente para voltar meus olhares para a filosofia da comida viva e aos fundamentos de biochip, tivemos a aula do balão. Em que aprendemos uma mínima parcela sobre a tamanha importância do fogo, como o usamos de forma ultrapassada e como nossa sociedade reprime formas incríveis de paixão a este elemento essencial.

Mais uma vez, sou muito grata à disciplina como um todo, às pessoas que conheci, e à minha própria redescoberta, e que venha a parte 2, pois felizmente descobri, depois de ter provado desta prática maravilhosa e muito milagrosa, que não conseguirei viver sem…

Gratidão

AT,

Alexandra Malschitzky.