Gratidões da Clara Amir

 

Agradeço à corda de sisal pelo fato de nos ter conduzido por uma experiência corpórea, palpável, sobre a importância das relações e de sua natureza invariavelmente recíproca; como por exemplo os pontos de apoio mútuo que foram gerados, assim como a percepção sobre como a ausência de cada indivíduo e sua postura diante do mundo é igualmente capaz de afetar todos os indivíduos, todos os seres que nele habitam. Logo, essa experiência gerou em mim a descoberta de uma possibilidade pedagógica potente para refletirmos as emanações das nossas relações humanas e não humanas. Foi possível perceber uma equivalência entre os significados de “conforto” e “confiança”; e do distanciamento simbólico entre as pessoas, que era gerado com o número cada vez menor de indivíduos dispostos a interagir uns com os outros. A baixa densidade das relações, representada pelo emaranhado de cordas se convertia diretamente em um distanciamento das pessoas que mantinham ainda uma relação, ou seja, o alcance da comunicação essas pessoas, ia sendo diretamente afetada, tornando mais distante, conforme se reduzia a quantidade de indivíduos dentro da rede de sisal; agora já era preciso gritar, aumentar o volume da voz, das expressões, para que conseguissem se ouvir. Também foi interessante notar nas tensões presentes, inerentes às relações, como é necessário estarmos constantemente ajustando essas forças, essas tensões, para que possamos de fato nos entregar, confiar uns nos outros. Perceba: a mesma força que tenciona é a que se transforma em confiança. Depende de seus ajustes. Obs.: Nessa alegoria das relações humanas, seria interessante considerar a inserção de outros seres: uma árvore, uma pedra, etc. 20.08.2019

 

Agradeço à corda de sisal por me fazer perceber que mesmo quando nos sentimos confortáveis e com apoio – e por isso talvez nos sentimos também capazes de nos entregar, de ousar, de arriscar –, o corpo, ainda assim, se mantém atento e desperto para as forças de tensão que o afetam. Essas que são, na mesma medida, e paradoxalmente, as mesmas forças de apoio e de sustentação, a depender da forma como nos relacionamos com elas. O tensionar é um repuxar, uma consciência latente, um reconhecimento de que as forças de apoio que são capazes de gerar segurança também precisam ser cuidadas. O cuidado será capaz de manter viva a força de sustentação. O descuido dessas forças que atuam sobre o corpo pode fazê-las transformarem-se em tensão. Pois o descuido pressupõe de certo modo um esquecimento dessas forças. E esquecidas, atuarão de outra forma, como um tensionar. O tensionar que é um esquecimento da origem dos afetos. 22.08.2019

 

Agradeço à experiência do preparo coletivo do alimento. Principalmente pela forma como essa experiência foi conduzida, criando elos afetivos com o alimento a partir da possibilidade de composição artística, da combinação subjetiva de cada ingrediente. Foi importante notar o quão necessário é este espaço educativo. Foi perceptível para mim, que aqui, muitas pessoas podem estar experimentando pela primeira vez o preparo manual do próprio alimento; uma experiência que pode ser capaz de disparar muitas reflexões a respeito da origem daquilo que comemos, a respeito das relações que mantemos, de maneira geral, com o que consideramos ser um alimento. 03.09.2019

 

Hoje vou apenas agradecer ao pilão por ter me feito perceber que, hoje, eu não estava conseguindo escutar meu coração. Tentei aguçar os sentidos, meu corpo que é uma coisa só. Ainda estou a procura do meu coração, ainda estou tentando ouvi-lo batendo aqui dentro. Qualquer ruído. Hoje ele está silencioso. Está difícil de ouvi-lo.17.09.2019

 

Gostaria de agradecer ao filme “camelos também choram” por dar força ao meu entendimento, antes intuitivo - no tempo em que eu era criança -, mas que se torna cada vez mais consciente sobre toda a subjetividade que qualquer cultura patriarcal é capaz de aniquilar, por extensão, também dos animais fêmeas. Essa aniquilação, mesmo nos animais, das expressões de senciência que abarcam a consciência de suas experiências traumáticas em torno das ideias de reprodução e de maternidade compulsória. Por outro lado, se a ciência, com todo o seu “mito de neutralidade científica”, que frequentemente é vertida em um poder de legitimação de verdades absolutas, ainda não reconhece o choro dos animais, seria de se esperar que a “não ciência” pudesse fazê-lo além. Mas isso também não acontece. O contexto cultural no qual o animal chora, e a lágrima é assim entendida, parece, no entanto, não alcançar outros níveis de compreensão sobre a complexidade emocional desses seres; como por exemplo uma provável recusa genuína de não querer amamentar um filhote que possa ter sido resultado de uma concepção impositiva. É complexo pensar assim, sentir o mundo assim, na complexidade tamanha e possível de outros seres. Mas acho necessário nos confundirmos, nos embaralharmos entre tantos outros modos do “pensar e sentir” como coisa só. Assim, talvez possamos misturar e expandir a nossa importância com a de outros seres. De qualquer maneira, o filme é lindo, sem dúvida, mas também romantiza, em algum grau, a nossa relação com os animais. 19.09.2019

 

Agradeço às cores, pelo encantamento que me causaram, à possibilidade das misturas e de sabores e às descobertas mágicas dessas combinações, mesmo quando não combinavam tanto! Acho que prescindo maiores explicações, pois a totalidade de certas experiências reside na própria experiência. Descobrir é lindo. E descobrir aquilo que, de algum modo, já sabíamos é mais bonito ainda. 24.09.2019

 

Hoje, quero agradecer ao aipim e à sabedoria ancestral que este alimento abriga. Do encontro da água com a terra, das raízes submersas, do descascar entre os dedos, dos fiapos: tudo é história e presente. Tudo é memória. O alimento é encontro. 01.10.2019

 

Confesso que hoje, assim como em outros dias, minha grande surpresa tem sido me notar na companhia de pessoas que, de alguma maneira, partilham de: estéticas gustativas, éticas gustativas, políticas gustativas, corpo gustativo, etc; percepções essas tão em comum com as minhas. Minha surpresa é o fato de as vezes só precisamos que nos apresentem outros caminhos. O bolinho solar de farinha de aipim, salpicado de roxo, vermelho, amarelo – reluzindo de outras tantas variações de cores e do brilho dos sol – foi realmente pura terra, puro encantamento, pura possibilidade! 03.10.2019

 

06.10.2019. Hoje, foi dia de aula de\no campo com a professora Ana Branco e com agricultores de um sítio orgânico de Itaipava-RJ. Digo “aula de campo” porque foi uma aula de aproximação com o real. Hoje, antes de colhermos os alimentos diretamente da terra, o Paulo, um dos agricultores, nos contou um pouco da história dele e do sítio em uma roda de conversa. Nos contou das agruras e dos prazeres de sua escolha de, em determinado momento da vida, retomar o cultivo de alimentos orgânicos através da agricultura familiar. E durante a conversa, pude refletir sobre como a história dele, de suas experiências, estiveram completamente relacionadas à história política do nosso país; como quando ele me respondeu que foi precisamente na década de noventa que percebeu sua produção agrícola [dele e do pai] completamente fragilizada diante de uma grande onda, de uma intensificação do uso de agrotóxicos no campo. Pois, à época, ele o pai, começaram a ver que os alimentos cultivados por eles, até então, sem os uso de venenos, estavam sendo preteridos em relação aos produzidos com agrotóxicos - ou, como se costuma dizer, os alimentos produzidos pela "agricultura convencional" - já que estes últimos eram brilhantes, grandes, homogêneos em suas cores e formas e cheiros, completamente padronizados, quase como se não fossem tb: seres vivos.

 

O Paulo nos contou que os agrotóxicos, naquela época, eram chamados apenas de "remédio". E, como nos imputa a velha lógica capitalista, para nos mantermos saudáveis, precisamos é de tomar remédios todos os dias, de todos os tipos; mas dos remédios que se vendem e se compram.

 

Nesse contexto, o Paulo, como tantos outros pequenos agricultores, não viu outra alternativa que não fosse aderir a aquela lógica. Mas a prática constante da aplicação de "remédios" em  sua produção o fez adoecer gravemente. De tal modo que, tudo que passaram a produzir, pelo "modo convencional" (ou seja, com “remédios”), sabiam que, fatalmente, não deveriam consumir!

 

O Paulo conta que adoeceu não só fisicamente, como psicologicamente. Afinal, ter consciência de que todos aqueles "alimentos" que vendiam (e que a sua própria família não consumia) eram capazes de causar tanto mal a outras pessoas, tb afetou gravemente o seu estado emocional.

 

A retomada do Paulo à agricultura orgânica foi definitivamente sua redescoberta pelo caminho de cura. E isso, é claro, só foi possível, como o próprio Paulo conta, devido às mudanças políticas em nosso país durante as décadas seguintes. Pois, ao mesmo tempo em que, desde a década de noventa até final do governo PT, o brasileiro era transformado num dos maiores consumidores de agrotóxicos, políticas de fomento à agricultura familiar  - e orgânica – foram tb gradualmente implementadas, mesmo que de maneira comedida. De qualquer forma, uma grande contradição.

 

Penso que um marco, no entanto, da insurgência, mesmo embrionária, de uma política de acesso alimentar, se deu com a publicação, em 2014, do “Guia Alimentar Para A População Brasileira”. Documento que buscou ressignificar o próprio conceito de “comida saudável”, que não mais se baseava em considerações biologizantes ou restritamente nutricionais, e sim num conceito ampliado de justiça alimentar e social considerando todo o processo produtivo dos alimentos.

 

A alimentação, é claro, tb é uma escolha [ou não-escolha] que passa pelo subjetivo e/ou pela construção de subjetividades. Mas é preciso assumir que os nossos subjetivos se deparam o tempo todo com outras subjetividades, com os subjetivos “do outro”. e desses encontros, ou, desses conflitos, é que podem nascer os referenciais éticos. e é claro, é quando podem nascer nossas possibilidades. [ou morrer]. e isso vale pra tudo. isso não é um confronto moral. Alimentar-se é algo assim espiritual. E como quase tudo, é um ato político de muita importância.

 

Hoje, gostaria de agradecer às formas, às cores, aos cheiros, às misturas, ao conjunto de tudo que nos serviu como alimento. Também queria agradecer ao entendimento que tive sobre o calor, sobre como a temperatura do nosso corpo-alimento é importante para conjurarmos a harmonia, a complementaridade do nosso alimento-corpo. Corpo-alimento. Alimento-corpo. Tudo uma coisa só. 08.10.2019

 

Filme “la belle verte”
"La Belle Verte" é uma verdadeira obra de arte! A simplicidade das escolhas cinematográficas para traduzir as simplicidades filosóficas das quais germinam uma realidade des-utópica, nesse filme, é genial. Des-utópica porque não é futuro, é o que podemos ser agora, é um modo de ser, de perceber, de conceber, agir, cultivar, de nos relacionarmos, que já estão postos, que são reais. Ao mesmo tempo, as distopias estão por aí, já nos tomam porque também as tomamos. As utopias e distopias são atemporais, e se materializam a partir dos nossos modos de ser. As utopias e distopias existem na constância do presente. São a macro e micropolítica dos poderes. E nessa distopia real sobre a qual nos é apresentado o planeta Terra, é notória a redução da potência do "ser", é notório o estado de esporulação em que se encontram as formas de se "ser" neste planeta, sempre reprimidas pelos perigos que o meio impõe. O filme testemunha o encontro de mundos possíveis e impossíveis, a depender do modo como se quer ser. É muito linda a literalidade e o simbolismo que são representados pela escolha da água como conexão imprescindível entre os seres des-utópicos... nas cenas em que a personagem principal, em visita ao planeta Terra, precisa contactar seus conterrâneos que habitam outro planeta; e o faz por meio da água. Já que água é origem. E o feminino é aí evocado como grande elo entre esses seres de forma brilhante, pela necessidade do contato com a água. O constante estado de "estranhamentos" expressados por essa ser extra terrestre em suas incursões pelo planeta Terra, conforme ela vai se deparando com os hábitos cotidianos dos seres humanos que aqui vivem, é capaz de deslocar nossos olhares, rompendo com a compreensão naturalizada que temos sobre tudo aquilo que reproduzimos e apreendemos como sendo "o único modo de ser e de viver". Estranhamentos que partem de olhares em torno do feminismo, do patriarcado, da homofobia, do especismo, da não-violência, da liberdade, ética, moral, ostracismos, etc. Filme muito rico, mas, como quase todo filme que é feito por mulheres em sociedades patriarcais, "La belle verte", de Coline Serreau, não parece acumular muita importância, nem artística nem social. De qualquer forma, esse filme - que entrou para a minha lista de filmes preferidos - como toda crítica, deve e/ou deveria passar também por uma autocrítica. Nesse sentido, devo dizer que foi bastante notório para mim a perpetuação de vícios culturais hegemônicos. As irmãs, dentre as quais uma delas a enfermeira do hospital, por quem os filhos da personagem principal se apaixonam, seguem na narrativa abandonando suas vidas no planeta Terra em mudança para o planeta em que habitam seus já agora companheiros amorosos; reproduzindo uma máxima de sociedades machistas e patriarcais: as mulheres é que se desdobram, se deslocam, se mudam, trocam empregam, o convívio com seus territórios e suas próprias familias e amigos, por de seus maridos. Quase nunca o contrário. Também me chamou bastante atenção a ausência de um pai, de um figura paterna responsável pelos filhos da personagem principal, que são no total uns três ou cinco; outra máxima de sociedades patriarcais, a desresponsabilização natural dos homens em relação à paternidade. O pai, nessa história, sequer existe, sequer é citado pelo o que eu entendi, sendo a criação e responsabilidade pelos filhos preenchida somente de uma maternidade. E, no final do filme, uma outra contradição importantíssima, pois a crítica as estruturas sociais hierárquicas, tão presente no decorrer da narrativa, fica totalmente fragilizada ao descreverem o sistema educacional do planeta "des-utópico", como um sistema que identifica, hierarquiza e segrega o grau de "inteligência" entre as crianças e adolescentes já que "as crianças de maior inteligência são destinadas, desde cedo, a desenvolverem conhecimentos mais complexos"; ou seja, reproduz uma máxima de sociedades produtivistas e capitalistas, pois não reconhecem a multiplicidade dos seres, a multiplicidade das "inteligências" e sim uma única inteligência, mais ou menos acentuada, hierarquicamente melhor ou pior. A hierarquia, infelizmente, tb faz parte do mundo des-utópico de Celine Serreau. Eu, de qualquer forma, estou a procura dos outros filmes da cineasta. E La Belle Verte, segue, para mim, como um alento, uma des-utopia que afaga.

 

FESTA DA PROVA / Ceia de Natal
Meu agradecimento com relação ao nosso último encontro é exatamente tudo o que eu gostaria de ter dito e disse muito menos que a metade. Às vezes eu mesma me sinto vivendo pela metade por não conseguir falar o que penso na medida em que penso o que penso, mas eu sei que isso requer um exercício permanente. Também por isso costumo dizer eu que escrevo porque eu não sei falar. Então, primeiro, eu queria dizer que no último dia me pareceu que uma grande potência, que foi se despertando a cada dia em cada uma das pessoas que estavam ali, naquela sala entre árvores, quase toda terça e quinta de manhã, em silêncio, mas mergulhadas nessa realidade anti-epistêmica que você proporciona Ana - de forma única e brilhante -, essa potência de cada um que, ao longo do semestre, foi pouco a pouco encorajada, parece que veio a tona, transbordou. Foi surpreendente. Fiquei muito encantada. Eu que estava com a energia baixa aquele dia, nos dias anteriores. Como eu mesma disse, acho que cozinhar ou "cruzinhar" depende do nosso estado de espírito. Mas esqueci de falar que "cruzinhar" também altera o nosso estado de espírito. Falei que eu compreendia o quão difícil é para que a maior parte da população consiga orientar sua alimentação de outra maneira, visto o cotidiano massacrante ao qual a maior parte da população está e é inserida. Não porque a alimentação viva - um alimentação que atende ao sentido de "saúde" em seu conceito mais amplo, mais ético, que é o da saúde coletiva - seja difícil, trabalhosa, impossível, mas sim porque dentro de um contexto social de iniquidades, em que nos roubam todo nosso tempo, qualquer mudança se torna dispendiosa. A inércia nos cobra menos energia. E o que não falei naquele dia, é que é exatamente por isso que acho que devemos tentar multiplicar todo esse conhecimento que você, tão generosamente, coloca a disposição. Eu quero encontrar meios para isso. Quero encontrar mais energia rompendo com a inércia. Gostaria de conseguir também compartilhar essa fonte de "energias", que você nos apresentou, com outra pessoas. Queria dizer que muita coisa que eu pensava e não falava, pude ouvir de você. E isso foi uma fonte inesgotável de energia para mim. Porque sempre fui muito insegura para exteriorizar minhas crenças, vou melhorando. Acho que essa foi a melhor parte de frequentar suas aulas. Poder ouvir ideias, concretizadas, de e por outra pessoa, e ainda com essa liberdade com que você diz o que pensa. Muitos chiados na minha cabeça puderam se organizar. Também foi tamanha a minha surpresa em perceber a consonância das suas ideias, dos seus aforismos com os meus, com minhas tentativas de poesia, como numa poesia que eu fiz pra minha cachorra, em que eu digo que nunca acreditei na morte, ou em outra, onde eu falo da decomposição como vida, da saudade da terra. E pela primeira vez eu levei e ainda estou levando adiante, na prática, o desejo que eu tinha de tentar fazer uma horta, de produzir alimento. Ainda falta bastante mas não parei. Essa também foi uma das experiências mais importantes em arte que eu pude vivenciar. Arte como modo de "ser" mais do que um "fazer". Arte como integralidade do "fazer" com o "ser". Arte como vida. Desculpa escrever tanto, gostaria de fazer muitos outros agradecimentos. **Depois me lembrei como descobri suas aulas Ana, foi quando eu fui fazer uma pesquisa no google sobre alimentação crugívora, e vc aparecia nas pesquisas. Quando fui pesquisa sobre arte e ambiente, arte e alimentação, você aparecia. Daí passei alguns anos tentando ter tempo livre para conhecer seu trabalho.

 

Aula de Silvicultura
Acho que uma das coisas mais incríveis desse ano foi ter conhecido a agricultura nasseriana. Durantes as minhas tentativas de fazer horta sempre me incomodou a ideia de ter que retirar, realocar plantas tão bem acomodadas, tão vivas, tão resistentes, certamente tão cheias de direitos por seu lugar na terra, do direto de estarem crescendo livremente, somente para beneficiar as plantas que apenas eu gostaria que estivessem crescendo. Na prática, o incômodo se fazia presente, mas não me permiti refletir sobre ele, ficou suprimido, como ficam muitas sensibilidades numa sociedade que costuma patologizá-las. Quando vi o vídeo, ouvi sua explicação foi muito libertador. Tem muita coisa linda que a gente já sabe, que a gente precisa descobrir.

 

Aula da Areia e Aula da Compostagem Eu andei trans.bordando algumas tecituras pelos meus olhos. pelos meus olhos encharcados de dilatações. dessas que chamam dilatações anômalas da água Eu andei desfiando algumas urdiduras com os meus olhos. pelos meus olhos trans.bordados de ar. pelo meu corpo arejado de rios. de água corrente livre eu andei marejando os olhos igual gaivota. tenho decantado lágrimas. tenho separado o sal. tenho devolvido o sal pra água. tenho feito um pouco de mar. também tenho aprendido a fazer terra. tenho desejado encontrar tudo na terra. fazer terra. eu que já tive que soterrar tantas partes de mim. e precisei enterrá-las tão profundamente. tenho escavado a terra pra encontrar essas minhas partes já curadas. a terra cura. descobri que quase todas as minhas saudades estão na terramatar saudade na terra. cultivar saudade na terra. me encontrar na terra. encontrar as raízes que me irradiam os olhos. cortar raízes, oxigenar raízes na minha cabeça tem crescido é muito mato. tanto, que já me saem pelos olhos, pelos ouvidos, nariz boca. me alimento dos inços que me brotam o corpo e a cabeça. matar a fome de ervas daninhas, dessas que chamam de pragas Pensar é um modo de sentir. Sentir sempre foi um modo de pensar. E é tudo uma coisa só. cabeça corpo coisasó Aviso se toda sorte de bicho se aproxima de você: ou você tá bem viva ou você está se decompondo. E é tudo uma coisa só. Acho que estou me de com po n d.