Gratidões de Maria Cecília Veloso

 

Agradeço à cenoura pelo fato de ter me proporcionado poder ver e sentir um alimento de uma maneira tão diferente, que gerou em mim uma abertura maior para enxergar as possibilidades que a comida abriga.

 

Agradeço “Ponto de Mutação” pelo fato de trazer ideias diferentes, contrapontos, expostos por personagens também diferentes, mas que buscam a liberdade, cada um a sua maneira. E por citarem Pablo Neruda também, que é o meu poeta preferido. O filme gerou em mim uma reflexão sobre como nada é preto no branco e podemos encontrar a liberdade em ideias, que se afastem dos radicalismos.

 

Agradeço à aveia e ao amendoim pelo fato de terem me ensinado a seguir a cadência do meu coração e entender que ele pode bater no mesmo ritmo do que me alimenta. Isso gerou em mim uma relação de amor direta com o pão.

 

Agradeço “Camelos também choram” e ao lanche que fizemos durante o filme, pelo fato de terem sido um respiro contemplativo para mim em um dia que eu estava muito ansiosa. Isso gerou em mim paz. Além de novos conhecimentos sobre como nós humanos podemos ter uma relação de carinho e respeito com os animais. Lindo filme!

 

Agradeço “La belle Verte” pelo fato de ter gerado em mim uma reflexão sobre o que nós, seres humanos, estamos fazendo com a Terra, nossa casa. É um filme de ficção, mas que tem um fundo de verdade, porque de fato não temos respeitado este espaço e sequer pensado sobre o que fazemos com ele. Isso gerou em mim o desejo de me tornar mais uma agente de mudança, dentro do que está ao meu alcance, para abrir minha própria cabeça e a das pessoas próximas de mim sobre como deveríamos repensar o nosso sistema.

 

Agradeço “Conexão Dioxina” pelo fato de me ajudar a enxergar e conhecer sobre algo que nunca imaginei, que gerou em mim uma compreensão muito mais ampla de tudo o que consumo.

 

Agradeço “Futuro Roubado” pelo fato de ter aberto minha mente para como o plástico está em tudo e nem nos damos conta, e como por isso fazemos tão mal para nós mesmos e para todas as formas de vida que dividem a Terra conosco. Cada vez mais vemos iniciativas crescentes para diminuirmos o nosso consumo de plástico, mas precisamos ser ainda mais incisivos em relação em a isso. Não ao plástico! Além disso, outro mal que sequer nos damos conta que nos rodeia são os agrotóxicos, que estão cada vez mais na nossa comida. Precisamos ter consciência de tudo isso e boicotarmos estas indústrias. Isso tudo gerou em mim o entendimento da importância de fazermos a nossa parte aos poucos, porque sermos mais uma pessoa que não se rende já significa muito.

 

Agradeço “A carne é fraca” pelo fato de reforçar a minha decisão de parar de comer carne. Não como carne vermelha há mais de um mês e estou muito certa de ter resolvido parar. É um processo que exige força, porque é difícil nos desvencilharmos de coisas que aprendemos desde crianças, mas que hoje eu entendo como é necessário. Isso gerou em mim empatia pelos animais que sofrem o que sofrem para que nós possamos ter o prazer sádico de comermos a carne deles.

 

Agradeço à sopa de aveia com alho-poró que comemos bem quentinha, pelo fato de ter me alimentado e aquecido, o que gerou em mim gratidão pelo que a natureza pode nos proporcionar quando sabemos conviver com ela e tratá-la com respeito. Obrigada, Ana, por abrir nossa cabeça e nos fazer enxergar que viver de uma maneira que seja sustentável para todos os seres vivos que habitam a Terra é possível!

 

Agradeço à areia pelo fato de ter me ensinado a ressignificar coisas que me são familiares, como a própria, mas que devem ser sempre olhadas como se fosse a primeira vez. Isso gerou em mim um aguçamento da minha imaginação, que voou tanto para lugares comuns - como a minha infância -, quanto para lugares que desconheço. O tato também foi protagonista desta experiência. Este e a quebra na maneira como vejo o "comum" agregaram muito para o meu dia, que a partir de agora será repleto de olhares novos para coisas já vistas um milhão de vezes.

 

Agradeço à compostagem pelo fato de ter me feito repensar o que é morrer e, consequentemente, o que é viver também. Essa revelação com certeza me fará enxergar perdas de outra maneira, além de me fazer rever o medo constante que sinto de morrer, isto vai me permitir viver o dia a dia com mais vontade e ímpeto de de me aventurar e experimentar. Amei brincar com os gongolos também, perder o nojo e passar a ter respeito por eles.

 

Agradeço ao mar por conchificar o vidro, as próprias conchas e nós, seres humanos. Para quem cresceu de frente para o mar, como eu, que cresci em Paraty, significa muito poder sentir, entender, reconhecer e aprender sobre um elemento que me é tão familiar e importante. Minha relação com o mar é transcendental e religiosa, mergulhar transforma qualquer dia ruim em paz para mim. Esse entendimento da minha relação com a praia como um todo gerou em mim uma consciência maior do que todos os elementos do que todos os elementos que fazem parte dessa experiência representam na minha vida.

 

Agradeço à argila do mangue pelo fato de ter estado em contato com a minha pele e agido como uma extensão de mim, que ao sair fez falta e me deixou melhor, mais hidratada. Essa experiência gerou em mim o reconhecimento de mais um elemento que é fundamental para a nossa existência, mas ignoramos. Que nós passemos a enxergar mais a argila, entrar em contato com ela com respeito e a valorizarmos.

 

Para mim, conviver com Biochip neste semestre serviu para que eu repensasse a minha relação com a natureza como um todo, mas especialmente com o meu alimento - que invariavelmente vem dela. Neste período  comecei a morar sozinha e acredito que o timing para participar deste curso não poderia ser melhor. Este foi o momento, na minha trajetória, em que mais precisei me adaptar e pude criar, no sentido mais puro da palavra criação. Criar novos hábitos - os meus próprios hábitos - por meio de um processo de conscientização e autoconhecimento, não apenas sobre o meu "eu", mas sobre tudo que o configura. A comida, por exemplo. Pude repensar e entender melhor do que nunca a minha relação com a cozinha. Comecei a construir  um ambiente que é só meu e que pode ser da maneira que eu desejar, mas que de alguma forma impactará no todo, então deve ser sustentável. E hoje, com o conhecimento que acumulei em Biochip, desejo que este ambiente sempre siga, aos poucos, em direção a uma estrada de comunhão com o meio ambiente. As aulas me incentivaram a fazer coisas que eu já desejava há muito tempo, como iniciar um processo para parar comer carne e dar mais atenção a coisas básicas, a origem de todos os materiais e alimentos que compro para habitarem a minha casa junto comigo, por exemplo. A separação do meu lixo também, e o entendimento da minha relação com ele. O curso abriu os meus olhos e foi um complemento para este meu processo tão especial de autoconhecimento. Por essas - e muitas outras - razões, hoje eu agradeço à Biochip pelo fato de ter me guiado para um caminho de maior conscientização e carinho pelas minhas vivências que envolvem qualquer ser vivo que seja, que gerou em mim o florescimento de um amor sincero por todos (alimentos, animais, pessoas) que fizeram/fazem/farão parte do meu caminho em algum momento.

 

Obrigada, Ana, por orientar esta experiência da maneira mais delicada e, ao mesmo tempo, forte possível. Com honestidade e brilho no olho sempre. Um beijo carinhoso no seu coração.