18/08/05             Socorro Calháu        Escola M M Montessori

 

Com o meu coração disparado desde o dia 11 fui para o galpão encontrar com Ana, Tissa, Inez , Laza e todo o pessoal da Feira do Desenho Vivo. Meu coração queria muito fazer a atividade e eu estava ansiosa por virar criança de novo, pois as experiências de adulto que estou vivendo desde o dia 26 de agosto estão me mostrando uma necessidade urgente de brincar, cantar e virar, de novo, um passarinho feliz. 

Encontrei todos rezando no galpão e corri para me integrar ao grupo em oração. Em meio a invocações dos anjos da solidariedade, da bondade, da paz, entre outros, desejei ardentemente a presença do anjo da alegria. Após a oração abraços apertados de Ana, Tissa, Inez, Lurdinha, Marta, Angelina. Sorrisos e acenos dos outros, meu coração já estava mais quentinho e ainda mais ansioso.

Ana anunciou que seriam crianças especiais. Me perguntei: Quem é especial? O que é ser especial? Para mim todos ali são especiais! Seria isso ser especial? Ser aconhegante como Lurdinha? Ser firme na sua fé como a Inez? Ser radiante como a Tissa? Ser suave como o Laza? Ser azul como a Ana?

Pedi sabedoria e discernimento para compreender melhor as palavras e seus significados aprisionados. Criança é tudo de bom! Criança é muito especial! Sendo assim, criança especial só pode ser tudo de bom ao quadrado, ao cubo,  ao infinito!

Montei os bancos por pura covardia de me meter com as mesas sem nenhuma competência. Organizei os aventaizinhos.  Ana ajudou com as mesas. Olhei de longe tentando compreender melhor como funcionam. Rezei muito enquanto montava os bancos e esperava as crianças. Fizemos bolinhas de massa, eu Tissa e Laza. Provamos as massinhas. Estavam deliciosas! Inez conseguiu obter sabores sofisticados sem usar os muitos temperos. Brinca com isso!

Eu estava ansiosa, tentando acomodar a minha dor dentro do peito de forma que sobrasse muito lugar para a alegria.

Enfim, as crianças chegaram! Pude ver imediatamente que as crianças especiais eram, simplesmente, crianças, e desta forma, é claro, muito especiais. Como todas as outras. Sapecas , risonhas, inquietas, abracentas, bonitas, com cheiro de tangerina. Fui logo pedindo abraço, é claro. Eu estava necessitadíssima! Abracei Muuuuuuuuuuito!

Um grupo chegou primeiro,deixando para trás os outros. Saí em busca dos outros e, de repente,  vi quando surgiram na ponte. Abaixei-me, abri os braços, e fui logo perguntando: Quero ver quem é bom de abraço! Pularam todos dentro do meu abraço. Foram muitos abracinhos quentes e sorrisinhos luminosos. Estavam de crachá o que facilitava saber seus nomes. Disse o meu. Como sempre, meu nome causa um certo reboliço. As crianças acham diferente, engraçado, esquisito, feio. Eles eram: Caio, Pedro, Luan, Nathália, Renata, Wellington, entre outros.

Ficamos um pouco pela barraca da Anne. Inez conversou com eles e apresentou alguns legumes, a grama de trigo e outras guloseimas que estavam expostos. Eu mostrei o quiabo que faz “clek” na boca. Provamos. Na banca do Tuíca observamos algumas verduras e legumes, seus nomes, forma e textura.

Perguntaram pela massinha, estavam ansiosos por essa atividade e por isso fomos para a mesa de massinhas.

Inez demonstrou para eles o processo de confecção da massinha. Mostrou a aveia e os outros ingredientes. Moeu a aveia, ralou a beterraba, enfim, fez massinha ao vivo e à cores para todos aprenderem. As crianças estavam inquietas com suas massinhas e logo começaram a modelar. Como  sempre, fizeram pizzas e hambúrgueres. Alguns fizeram corações, sorrisos e olhos. Provaram as massas. Gostaram. Alguns mais, outros menos, mas todos experimentaram. Laza brincava com eles de perto, com seu jeito manso, cuidando do entorno com muito carinho.

Peguei as sementes para mostrar a eles o processo de germinação deixar que provassem as sementes já acordadas.Trouxe primeiro as lentilhas, a jarra com água e contei a eles como acordar as sementes. Falei das oito horas e Pedro reproduziu com os dedos o sinal 3 + 1. Quiseram provar e distribui as lentilhas para provarem. Gostaram, alguns repetiram. Trouxe então o trigo. Também provaram. Quando falei do processo de germinação, Pedro já havia armado seus dedos em 3 + 1 para demonstrar o tempo de espera.

Finalmente trouxe o amendoim, que tanto adoram, todos quiseram experimentar. Ao lado das mesas João e um menino (acho que Wellington?), na cadeira de rodas, acompanhavam tudo.Também provaram as sementes. Cantamos com eles a música da “semente, sementinha”. Eu trouxe as sementes de girassol germinadas para eles provarem. Pedi para que cantassem uma música sobre o sol. Cantaram uma linda canção de bom dia que adoramos e cantamos juntos para aprender.

Dali, fomos para a barraca da mágica provar o suco de “Luz do Sol”. Ficaram assistindo a extração da clorofila com  um certo descaso em relação ao sabor. Alguns disseram que não queriam provar. A maioria provou, alguns repetiram. Mostraram a linguona verde e o bigode. Cantamos “tembiuporã”.

Voltamos para o local de início para provarem o doce de banana e fazermos a fogueira. Eu nunca havia feito a fogueira. Sueli fazia sempre, com muito desembaraço e confiança. Fiz meio insegura. Não sabia direito o que falar, esqueci da música, mas Tissa lembrou em tempo. Laza providenciou as folhas secas.Inez sugeriu que colocássemos a folha primeiro e depois fizéssemos os pedidos, para que o vovô fogo não fosse embora antes da hora.

Pedi amor para as crianças, em voz alta. Baixinho pedi pelas suas mães e, em particular, pela minha que ainda não sei direito onde está. Pedi a ela que me traga de volta alegria que eu sempre tive, herança de dela que sempre foi uma pessoa extremamente feliz, com aqueles olhinhos brilhantes de criança travessa.

As crianças pediram pelas famílias, brinquedos, namorados, enfim, criancices. Inez pediu por todas as crianças. Não me lembro muito dos outros pedidos, porque eu estava muito nervosa e emocionada.

Foram embora deixando muitos abraços apertados. Uma entrega sem fim. Unimos nossos corações nesses abraços sem restrições. As professoras estavam felizes, me disseram que haviam adorado e aprendido a lição de amor à Natureza e que não iam se esquecer. Partiram. Pedi a Deus que os levasse no colo, e que por via das dúvidas, me pegasse no colo um pouquinho também.Tissa estava profundamente emocionada, eu também.

Foi super ESPECIAL!

 

18 / 08 / 05      Inez Arieira               Escola Municipal Maria Montessori

 

Massa de modelar comestível

http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/anabranc/portugues/experimentos.html

 

Hoje fizemos algumas alterações na massa:

Não foi colocada cebola na massa de pigmento rosa shocking da beterraba.

Não foi colocado orégano na massa alaranjada com urucum.

O urucum não soltou cor forte o suficiente, mesmo reforçando antes de ir para a feira, a cor ficou muito desbotada.

Não utilizei luvas para espremer a curcuma, a mão ficou amarela, mas até o dia seguinte saiu.

 

 Cheguei mais cedo no local onde ficaríamos com as crianças e acompanhei e participei da montagem das mesas. Ficaram duas fileiras de duas mesas com extensões no meio de cada 2 mesas.

 Levamos mesinhas com extensões, dependendo do número de crianças; bancos de bambu; pranchetas e aventais para cada criança (e aventais para os adultos que vão participar); moedor para moer a aveia na frente das crianças (só um pouco para eles verem o processo); ingredientes para fazer um pigmento, ex.: um ralador, ½ beterraba, pano ou panela furada para espremer; azulejos com amostras de todos os ingredientes de cada massa e uma bolinha da massa já pronta como referência.

 Arrumamos a tempo todas as mesas; pranchetas, aventais e amostras em cima das mesinhas; bancos de bambu e banco com moedor para moer a aveia.

  As crianças chegaram às 11 horas direto no outro lado da feira e visitaram as hortaliças, conheceram a raiz de curcuma já lá na feirinha e expliquei que íamos vê a curcuma de novo; a grama de trigo (passaram a mão para sentir as folhas); beterraba com as folhas; cenoura etc.

  Fomos todos para o outro lado (eram umas 20 crianças de idades variadas, na faixa de 6 anos), as crianças sentaram em volta das mesas e sobraram alguns lugares; junto com as crianças vieram: a diretora, 4 professores e uma pessoa que acompanhava um menino que veio na cadeira de rodas.

  Brincaram fazendo vários desenhos e a maioria provou a massinha, uns gostaram outros não. Cantaram uma canção “Bom dia” e Socorro e Patrícia cantaram a canção das sementinhas enquanto Socorro mostrava como se germinava (sementes de lentilha e amendoim), depois comeram as sementes e vários queriam repetir. Fiz a demonstração da aveia sendo moída e ralei e espremi a cor vinho da beterraba em cima da massa, amassando para eles verem. Depois de brincarem com as massinhas, fomos até a barraca do Suco de luz do sol e tomamos suco. Na volta fizemos uma roda em volta do fogo que a Socorro preparou, cada um colocou uma folha seca e alguns fizeram um pedido para o vovô fogo (como chamou Socorro), enquanto cantávamos juntos. Quando se despediram e saíram era meio-dia e meia.

  As crianças ficaram animadas com a possibilidade de comer a massinha; falavam de seus desenhos, desfazendo e fazendo novos: flor, trem, pizza, caramujo, moto, mãe (uma menina quis desenhar sua mãe chamada Simone).

  Na hora da roda em volta do fogo, uma menina disse que seu avô já tinha morrido e na hora do desejo disse que amava seu avô e eu disse para ela que ele estava ali com a gente.

Na despedida os abraços eram abertos, sinceros – só um menino que não quis abraçar (na hora do suco não quis provar, nem a massinha; estava com sede de água e não tínhamos para dar para ele) e na hora do abraço quando disseram para ele abraçar ele abraçou com as mãozinhas fechada.

Me senti, por um lado leve de ver crianças inocentes, abertas, amorosas, ditas especiais, se envolverem no processo que oferecemos e por nos oferecerem seus sorrisos, suas tristezas, espontaneidade e amorosidade .

 

 

18/08/05          Marcio Lazaroni

 

Agradeço a Socorro por separar e prender um avental em mim. Me fez sentir mais parte do grupo.

  Agradeço à Inez por mais uma vez preparar as massas para as aulas.

Agradeço ao grupo de dança que ensaiava ao lado que colocou “uma trilha sonora” em nossa preparação.

Agradeço à senhora que, infelizmente não perguntei o nome, sugeriu uma maneira muito eficiente de colocarmos o banco sobre o bloco de cimento sem que ele ficasse bambo. Eu estava a um bom tempo pensando numa solução para aquela situação ela ajudou a resolver. Lembrou-me a ter humildade para ouvir tudo.

Agradeço a Tissa, Socorro e Inez por fazerem comigo os bolinhos de massa. Achei um momento onde começamos a formar um grupo por fazermos a mesma atividade juntos.

Agradeço a Tissa por dividir a sua ansiedade pela chegada das crianças comigo. Me fez lembrar de quando comecei a trabalhar com criança e do quanto essa ansiedade é boa no envolvimento no trabalho.

Agradeço aos “laranjinhas” que chegaram no meio de tanta gente mas logo se destacavam na multidão de gigantes. Não podia ter mais dúvidas que a oficina seria fantástica.

Agradeço ao Luan que só de chegar perto das mudas identificou de cara a da mostarda. Provou-me que a melhoria da espécie é evidente afinal eu precisei entrar na faculdade para saber identificar uma e ele com seus nove/oito anos já sabia ver uma sem mostrar muita dúvida.

Agradeço ao Lucas Madeira por me introduzir ao grupo tentando ler o que estava ler no meu avental. Estava procurando ver uma maneira de me aproximar do grupo e ele fez o favor de me chamar.

Agradeço a Tissa, Socorro e Inez pelo engajamento delas na prática e em explicar para todos me deixando poder ser mais um no grupo e agir mais localmente ao lado de um grupo menor de crianças.

Agradeço a Inez pela sua maneira fluída de ensinar sem textos decorados mas com muita empolgação e não escolhendo palavras “para crianças” ou “para adultos”.

Agradeço a Socorro por chamar a Dona Cenoura, o Vovô Fogo e outros integrante da família mostrando para mim que as duas linguagens são possíveis simultaneamente.

Agradeço a Lucas e Vitor por serem verdadeiros pesquisadores querendo experimentar tudo e ainda por cima dividir suas experiências comigo.

Agradeço a Jeovana por ser a única menina numa das mesas e que usava as massinhas para fazer lacinhos, minhocas e elefantes.

Agradeço ao Welinton pela sua aplicação em fazer vários tipos de animais e sempre querendo saber o que o colega do lado vazia para aprender junto.

Agradeço as crianças pela flexibilidade delas em provar o suco de luz sem o menor pudor ou cara feia enquanto ouvia uma amiga perguntar se eu “bebia isso”. Provou-me que é sempre possível encontrarmos pessoas de coração aberto nos mais diferentes lugares.

Agradeço ao Anderson que, na sua cadeira de rodas, junto com seu fiel escudeiro participaram de todas as atividades com uma comunicação singular. Me deu vontade de aproximar mais e abrir mais meus sentidos para entender as nuances da comunicação dele.

Agradeço a Socorro por toda hora puxar uma música. Lembrou-me de minha sobrinha Bárbara que toda hora sai cantando músicas.

Agradeço aos abraços que recebia das meninas e de alguns meninos e aos apertos de mãos incrementados que recebia da maioria dos meninos. Afinal, eu não era nenhuma das “tias” para receber abraços.

Agradeço as 14 crianças mais o anjo Anderson por mostrarem que a oficina era muito mais tranqüila do que eu imaginava com a quantidade de “monitores” que éramos.

Agradeço aos professores das crianças que acompanharam, permitiram e participaram de nossa prática.

 

18/8/05  Patrícia Berwanger    EM Maria Montessori

 

Tudo conferido, as massinhas prontas, bastante coloridas nesse semestre; as massinhas direitinhas em seu lugar com bancos e a sua volta Inez, Socorrinho e Laza prontos esperando as crianças. No galpão Ana havia falado que eram 15 crianças especiais da escola municipal. Na hora eu fiquei um pouco tensa! Vinte e cinco crianças especiais!! Pensei que seria muito trabalhoso e desgastante!! Mas quando as crianças chegaram, vi que meu pré-conceito mais uma vez me enganara. As crianças, como disse Inez, eram tão especiais que nem tinham isso aparentemente! Elas sentaram, fui colocando uma por uma nos cavalinhos. Elas me esperavam calmamente, não iam tentando sentar. Depois lavei as mãozinhas com um paninho e vi a delicadeza daquelas talentosas crianças. Com o passar da oficina fui percebendo a sensibilidade delas, a especialidade delas. Os olhinhos brilhavam de uma maneira pura e transparente. Eles entendiam tudo! Ficaram muito encantados com as massinhas comestíveis! Muitos gostaram outros não. Um menino Renzo na hora de ir embora me disse que o pai dele não tinha deixado ele levar a massinha para casa. Eu disse a ele para quando ele crescer fazer a massinha pra ele. E ele ouviu como se fosse a melhor solução!!Sorriu

No suco, todas beberam menos uma mocinha. As crianças estavam abertas para o novo. João Vitor que tinhas o olhar mais presente, me disse que queria ser grande!. Ele se achava pequeno... Eu tentei dizer a ele o quanto ele era grande, por dentro! Aliás enorme!

A experiência de desenhar com as crianças naquele local, nas araras, foi maravilhosa! A energia flui melhor! As arvores nos cercam e participam da brincadeira!