Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Departamento de Artes & Design




Plano de Trabalho



1. Identificação do Partícipe:


Tel: 3527-1001



2. Justificativa:


Quero um mundo em que meus filhos cresçam como pessoas que se aceitam e se respeitam, aceitando e respeitando os outros num espaço de convivência em que os outros os aceitem e respeitem a partir do aceitar-se e respeitar-se a si mesmos.”

Humberto Maturana


A consolidação dessa parceria se justifica pela experiência acumulada, ao longo vários anos de convivência, os alunos e professores da disciplina Projeto DSG 1002, turmas coordenadas pela Profa. Ana Branco, da PUC-Rio e as escolas da Rede Pública de Ensino do Município do Rio de Janeiro - SME.


Há vários semestres nossos alunos de Design têm sido orientados a buscar a Escola Pública para desenvolverem seus projetos. Trabalhando com a Escola Pública e seus agentes, o aluno de design tem a oportunidade de realizar seu trabalho, no mundo físico. Inserido nesse espaço, o aluno da PUC produz um trabalho que considera a realidade ambiental e todo o ecossistema que faz parte dele.


Consideramos a Escola Pública como um espaço ímpar, com características plurais, onde o futuro é gestado. No nosso entender é uma incubadora de novas possibilidades de se produzir outra qualidade de vida na sociedade. Além disso, acreditamos que fazer projeto seja algo que vai além da forma e do produto final, mas que seja texto e pretexto para se (re)desenhar o fazer do designer na perspectiva do humano, da solidariedade e da alegria, algo que possa estar a serviço da construção da Paz.


Vindos de Escolas Particulares onde cursaram a Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), os alunos da PUC-Rio, em sua grande maioria, possuem um perfil sócio-cultural bastante diferenciado daqueles que se encontram nas salas de aula da Escola Pública. Diferentes, também, são as experiências por eles vivenciadas em seus percursos escolares. Apesar de tanta diversidade, encontramos tanto nos universitários da PUC-Rio quanto nos alunos da Escola Pública o mesmo desejo de jovens que são: SEREM FELIZES!!!!


Sendo assim, avaliamos como muito importante o contato de nosso designer, em formação na PUC-Rio, com a vida da Escola Pública, pois essa imersão em outra dinâmica, durante um semestre, além de poder ser extremamente benéfica, a ambos, amplia os horizontes do nosso universitário e, sem dúvida nenhuma, diminui a distância entre essas duas realidades de vida, mostrando que essas diferenças não existem, o que existe é a “diversidade”, rica dimensão para quem precisa entender de vida e de riquezas ambientais. E mais uma vez vale a pena ouvir MATURANA (2002) quando diz que

para recuperar essa harmonia fundamental é preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser, em harmonia, sem submissão.”(Maturana, 2002:34)


As experiências dos semestres anteriores têm nos mostrado o quanto as fronteiras entre esses dois mundos diminuem e suavizam-se após a passagem de nossos alunos pela Escola Pública, realizando os seus projetos. Isso se dá pelo fato de que, apesar de tratar-se de um mundo aparentemente tão diferente do seu, nosso aluno da PUC-Rio sai desta experiência, sabendo de cor (de coração!), que este mundo, é igualmente fascinante. Mais do que isso, ele tem a rara oportunidade de aprender que as fronteiras entre essas duas realidades só existem por conta de um certo modo de compreender a vida, um olhar fragmentado e preconceituoso, uma forma de ver que não prioriza o humano, não identifica a fartura e a riqueza ambiental e, principalmente, não reconhece o corpo e as relações sociais como ecossistemas locais.


Acreditamos que, em relação à Escola Pública, a presença de nossos alunos com seus projetos, viabiliza a produção de objetos de forma compartilhada, permitindo que os professores, e demais agentes escolares, participem da gênese desse objeto. Realizado dessa forma, a manutenção, a ampliação e a adequação à realidade local privilegia o cuidado com material didático o que o sacraliza.


Nessa convivência, esse futuro profissional em Design vai aprender a lidar com as relações pessoais e com os outros, ampliando a qualidade do humano, pois só assim estaremos a serviço da construção de um modo de viver amoroso e solidário, onde todos estejam incluídos onde a cultura da PAZ seja uma realidade.


3. Identificação do Objeto


O objeto desse termo de cooperação é consolidar uma parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e a Secretaria Municipal de Educação, através da entrada dos alunos do curso de Design, disciplina Projeto Planejamento DSG1002 da PUC-Rio nas escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro1, para desenvolverem seus projetos em design e, a partir daí, construírem materiais didáticos que serão oferecidos gratuitamente aos professores das escolas municipais que participarem dessa construção coletiva, ao final de cada semestre.


Fazer Projeto, da nossa perspectiva, significa lidar com as relações pessoais e, com isso, poder aprender a ver e a ouvir o outro, a partir seus olhos e seus ouvidos. Sabemos que esse fazer não é nada fácil, mas compreendemos também, que ainda assim, com todos os desafios que essa proposta possa trazer, é uma tarefa transformadora.


4. Metas a serem atingidas


Compreendemos a forma de um objeto como algo que é gerado a partir das dinâmicas de uso, a manutenção, o desuso, das relações sociais que propõe, como aprendemos com Bérgson (1989), o objeto é um germe de transformação social. Para que se produza um desenho que favoreça os movimentos criativos da vida e suas relações com o mundo natural que a cerca é necessário que se compreendam os sistemas de valores associados a sua função. Mais do que isso, é poder reconhecer e agradecer a fartura oferecida pelo entorno. Como conseqüência, o designer que compreende essa perspectiva como aquela que privilegia a vida do humano na terra, faz o seu caminho durante o percurso em muitas idas e vindas, pois atua na transformação do seu pensamento, o pensamento do outro e nas relações que caracterizam esse encontro.


Pensando dessa maneira, construindo um objeto coletivamente é trabalhar no sentido de se construir enquanto a forma se desenvolve. Assim, fazer projeto é criar condições de (re)pensar a vida.


Tendo em vista que o trabalho nessa matéria é realizado em duplas, a cada semestre orientamos entre 20 e 30 duplas de alunos. Assim sendo, por semestre, trabalhamos com aproximadamente 30 docentes, 900 discentes (se considerarmos cada turma com 30 alunos) e 30 trabalhos produzidos. Quanto às escolas, serão selecionadas e conjunto com a Secretaria Municipal de Educação.


5. Clientela


Esse trabalho não possui uma “clientela”, tomando essa palavra em seu sentido estricto, mas considera todas as pessoas envolvidas ao longo do processo, sejam elas os alunos e professores da PUC-Rio; e os professores, alunos e demais agentes escolares da SME. A parceria ora firmada envolve, especificamente, os alunos e professores da disciplina Projeto DSG 1002, turmas coordenadas pela Profa. Ana Branco, da PUC-Rio e a SME. Essa construção coletiva resulta na produção de um material didático-pedagógico, onde todos os envolvidos participaram da sua gênese, fato que facilitará a sua manutenção, tornando-o autossustentável.



6. Etapas ou fases de execução


Para desenvolver o Projeto o aluno necessita passar por vários estágios diferentes que não podem ser esquecidos nem subestimados, uma vez que, sendo esta uma disciplina de planejamento, todos os passos são igualmente importantes como etapas formadoras desse profissional de Design em formação.


Assim, o “sucesso” do trabalho reside na forma como eles vão vivenciar cada uma dessas fases contando com a parceria do intercessor, a supervisão do professor orientador e as contribuições dos professores colaboradores.


Na metodologia proposta, os alunos saem do ambiente da universidade para buscar grupos em atividade nas escolas e, então, escolher com qual deles será feito o projeto. Essa etapa trata da busca de um encontro, onde começa o exercício da intuição. Não deve ser uma seleção racional, o aluno deve buscar uma situação que esteja lhe querendo e ser capaz de perceber isso, é o início do exercício da atenção e da flexibilidade.


O grupo escolhido deve estar em plena atividade e aceitar trabalho, fato que permite ao aluno oferecer seu semestre, através de encontros semanais, onde na observação participativa, o aluno exercite o seu olhar de aprendiz, aprendendo a escutar, aprendendo a fazer um trabalho, mantendo a curiosidade e se envolvendo com as pessoas, atividades e questões do grupo até identificar seu intercessor no projeto.


Em sala-de-aula, a comunicação dos processos de desenvolvimento é acompanhada por desenhos e relatos orais e escritos das situações vividas pelo aluno com o grupo. Esses desenhos, onde os alunos se incluem, vão ampliando a complexidade a cada dia à medida que seus olhares vão se aprofundando e percebendo novos detalhes. As falas escutadas e as ações observadas relacionadas com as situações vividas e desejadas, pelo intercessor em atividade, vão constituir uma lista de palavras que chamamos de "Universo Vocabular" (Freire, 1976).


Analisando o diálogo, Paulo Freire compreende a palavra como mais do que um meio para que o diálogo se efetue. Segundo esse autor há duas dimensões constitutivas da palavra: ação e reflexão.Na opinião de Freire (1974) “A palavra verdadeira é práxis transformadora” e “esse conteúdo deve ser buscado na cultura do outro”(Freire,1974:45).


Essa lista de palavras colhidas da fala do intercessor pelos alunos ao longo dos encontros realizados é copiada, palavra por palavra, em papéis separados, formando uma espécie de baralho, podendo variar de cem a duzentas palavras. Essas "cartas" são oferecidas de volta ao intercessor com a indicação de que deve arrumá-las. Começam, então, a aparecer preferências, dúvidas, intenções e descobertas. Quando o intercessor arruma as palavras o aluno redimensiona a significação delas e se aproxima um pouco mais do universo que está convivendo. Interpretando essa organização, o aluno ousa identificar possíveis objetivos daquele grupo com quem está desenvolvendo projeto. Todos os alunos são convidados a participar e tentar reconhecer a intenção contida em cada universo vocabular. São formadas diversas possibilidades, frases, para cada "jogo" de palavras. Essas frases são reencaminhadas para o intercessor, que pensando e refletindo sobre seus fazer, define seu objetivo em conjunto com o aluno.


Iniciamos, então, o processo de dar forma no mundo físico para o conceito identificado. Então, organizam-se as iniciativas existentes no grupo relacionadas com o objetivo definido. Depois, o aluno mostra ao grupo iniciativas: vários experimentos são feitos, tentando dar visibilidade, tridimensionalidade ao conceito reconhecido como OBJETIVO. Agora os materiais são utilizados pelo intercessor do mesmo modo como no jogo de palavras, ele vai organizando as iniciativas do aluno, descobrindo coletivamente a forma, o material, as medidas, as cores conduzindo o desenho do objeto.


As etapas são:


O objeto é o resultado, portanto de uma co-autoria, uma parceria para o bem comum. O intercessor recebe o objeto já experimentado numa cerimônia de entrega e vai utilizá-lo em suas atividades enquanto atender às suas intenções. O fato de ter acompanhado e participado de todas as etapas de criação da forma, favorece que ele se aproprie do modo de fazer e seja capaz de dar continuidade ao processo fazendo a manutenção ou mesmo alterando o objeto em função de novas descobertas.


7. Plano de aplicação dos recursos financeiros


Este Plano de Trabalho utiliza-se dos acontecimentos que estão já postos, ou seja, as aulas de Projeto em Design dos alunos da PUC-Rio e o trabalho da Escola Pública. Trata-se de juntar duas práticas no sentido de que essas demandas sejam atendidas, não havendo necessidade de recursos financeiros, de nenhuma das partes.


8. Cronograma de aplicação dos recursos financeiros

Ver descrição no item 7.


9. Previsão de início e fim da execução do objeto


O trabalho realizar-se-á ao longo de cada semestre letivo, a partir da assinatura do convênio, podendo ser renovado e ou revisto a cada 2 anos/gestão, ou por demanda de ambas as partes.

10. Bibliografia

FREIRE, Paulo et allii. Alfabetização - leitura da palavra e leitura do mundo. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1990.

_____________ . Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra R.J. 1974.

_____________ . Pedagogia da Esperança. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1992.

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora UFMG. Tradução de José Fernando Campos Fortes. 3ª reimpressão, 2002

BERGSON, Henry. Matéria e memória.São Paulo:Perspectiva, 1989



1 Até recentemente os alunos da PUC trabalhavam com as escolas da 2ªCRE. Porem com o sistema de bolsas resultantes do PROUNI – ENEM recebemos alunos oriundos das diversos bairros do Rio de Janeiro. Fato que tem ampliado nossa área de atuação.

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