Gratidões de Bruna Cardoso

 

Eu agradeço as plantas pela diversidade de tons de verde que ela nos apresenta, me fazendo perceber que cada tom tem um gosto muito especifico. Agradeço também poder ter visto isto quando plantei a semente de girassol e a graminha de trigo, onde pude acompanhar o lindo crescimento delas, principalmente o girassol que cresceu mais rápido se entortando pro sol, e depois colhi, minha primeira plantinha, me tornando produtora, sentindo pela primeira vez a sensação de romper com minhas próprias mãos, o sistema.

 

Agradeço a couve, porque ela me escolheu pra corta-la, pelo tamanho de sua folha, e também ao hortelã, pois quando cortava com todo mundo, aquele cheirinho delicioso predominava, o que diz muito sobre o gosto forte que tem o suco de seu sabor.

 

Agradeço aos sucos, pelos verdes líquidos mais vivos que já vi, pelos diversos sabores, pelo docinho do trigo, e pela quantidade de agua que cada planta tem, onde o clima eh responsável pela dificuldade que cada planta tem de soltar.

 

Eu agradeço a pigmentação dos vivos pelo fato de que quando estava ralando os alimentos percebendo a cor que cada um tinha, gerou em mim a certeza de que todo o universo e a vida são dadas de maneira muito simples, só que hoje em dia vivemos em um mundo que rompeu com a origem. A partir das ligações atômicas que dão formas e sabores a todos os tipos de vida,as ligações externas também vão acontecendo, e na aula de hoje, foi de muita alegria compartilhar com o grupo a emoção e de ver cada cor se alterando quando virava liquido, e ver o quanto aquilo era vivo, e me passava vida. Tive muita vontade pela primeira vez de pintar com tintas vivas.

Depois de provar todos os sucos tive muita gratidão a beterrada, pelo seu sabor docinho e sua cor forte/viva, a mais linda. Percebi também que assim como o branco na cor sendo a cor neutra, no alimento também não eh diferente. O inhame, “sem gosto”, eh o ingrediente chave para qualquer comida que o sabor fica a minha escolha, e o inhame me da apenas a textura “nhec nhec”.

(11/03)

 

Sou muito grata a areia, pelo fato de ter estado , sentindo, observando e conversando com ela por um tempo, e a primeira coisa que ela despertou em mim foi esquecer do tempo. Além dela ser a historia de muitos lugares de milhares de anos, ela me contou que posso encontrar com ela, com as suas irmãs, em algum lugar da costa da África. A areia gerou em mim sua energia, que era a mais pura, energia de milhares de minerais, vidas, e historias de toda a eternidade, e eu gerei nela o meu calor, o meu amor, e toda a gratidão daquele momento em paz.

A areia me ver sentir e ver nos grãos, que na pureza mais diversa de milhões e milhões de grãozinhos diferentes, com amor, a capacidade de se unir e formar um só eh espontânea com a areia, em que chegou o momento em que eu pude me sentir ela, e ela, eu.

 

Eu agradeço aos repolhos, a soja, e a cenoura pelo fato de poder preparar um tipo de alimentação fermentada, uma alimentação já pre digerida que gerou em mim a alegria de poder montar meu potinho escolhendo um desenho aleatório, em que eu pudesse observar como as cores de comportavam, não sabendo se será apenas o roxo porque eh a mais forte, ou se poderei ter todas as cores misturadas. A fermentação da soja me deixou muito curiosa pelo fato da diferenca da semente após ser germinada, e na simples preparação do queijo, que me deixou ansiosa para experimentar e ver como iria ficar o gosto do nosso queijo.

(25/03)

 

Eu agradeço a soja e aos temperos por ter me mostrado um novo queijo que eu não conhecia, parecia uma ricota, mas era necessário somente a soja para faze-lo. Me deixou com muita vontade de fazer vários queijos, utilizando diferentes tipos de tempero, assim posso experimentar diferentes gostos, a partir de escolhas favoritas.

Já a maca, sou eternamente grata, pela doçura que tem sendo capaz de adoçar qualquer alimento, sempre dando para identificar seu conhecido gostinho.

Agradeço a aula de hoje por me deixar muito feliz e bem humorada, e muito ansiosa para horta de domingo.

(28/03)

 

Eu agradeço a corda de rami pelo fato de ter me prendido em dupla com minha amiga Theodora, onde gerou em mim rapidamente um estado de conforto e felicidade, gerando cumplicidade e cuidado principalmente nos meus movimentos, pois a corda em dupla assume totalmente a participação essencial junto com a responsabilidade única, assim como uma relação de duas pessoas integradas. Agradeço também a corda, pelo fato de quando me amarrei sozinha nela, pude perceber que o corpo tem a capacidade de relaxar mesmo com muitas partes tensionadas.

Sou muito grata a corda, pois de uma maneira muito simples, ela apresenta todas as interações da vida, das nossas escolhas ,com as pessoas e também com nos mesmos, mostrando que sempre se pode atingir o conforto no momento de maior tensão.

 

Agradeço a corda de sisal pelo fato de quando estava em roda tensionada gerou em mim um momento de conforto, onde ele só existia porque as minhas extremidades de corda estavam sendo o momento de conforto de outras pessoas no momento de maior tensão da corda.

Agradeço a corda de sisal e a dança, pelo fato de que quando dançávamos todos embolados para tentar organizar as cordas e a roda gerou em mim a certeza de que a vida eh uma dança, que esta tudo em movimento sempre e que quando começamos a dançar junto, na mesma vibração e frequência do fluxo da vida, viveremos conectados de uma forma em que claramente o melhor conforto e equilíbrio será sempre em união.

Agradeço a corda de sisal pelo fato de quando me desprendi dela, gerou em mim o sentimento de querer estar dentro dela, junto com uma nova experiência e novas pessoas e ter certeza que as trocas que teremos serão muito ricas e preciosas para o conhecimento da vida e de mim mesma.

(14/02)

 

Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de que no momento em que cheguei na sala meu universo de possibilidades se destinou a um grupo de pessoas o que gerou em mim um foco/atenção para conseguirmos montar um desenho onde não existia só o meu conforto para descobrir e sim o de todos.

Tive muita gratidão também no momento em que recebíamos ou entravamos em outra teia, em que no primeiro momento parecia ser algo bastante complicado, ate na hora em ocorreu tudo super bem, de forma simples, e rapidamente alcancei a possibilidade e responsabilidade de bem estar conjunto, oque gerou em mim uma forma muito simples de ver a felicidade, independente do mundo interior ou exterior, nós só podemos ser feliz quando o individualismo se tornar para sempre o coletivo.

A gratidão que tenho pela corda, e simplesmente pelo fato de quando estávamos nela, nos não estávamos no meio ambiente, nos éramos parte. <3

(18/02)

 

Eu agradeço a cenoura pelo fato de quando cortamos a cenoura alterando as formas e descobrindo diferentes sabores gerou em mim uma motivação para um cotidiano diferente, um momento de descobertas, alegria, apreciação e satisfação em relação à vida , a cenoura e a todos os vivos.

Nos desenhos finais a cenoura me possibilitou ver novamente um universo de possibilidades em que vivemos.

 

Eu agradeço o aipim especial que veio lá da horta orgânica com amor, pois com ele aprendi a fazer a farinha de aipim. Gostei da forma em que se corta a casca, uma camada mais grossa como se fosse uma “roupinha”, sai de uma vez só, deixando ele bem branco.

O mais legal no processo de fazer a farinha, eh o tipiti, em que se faz com mais uma pessoa. Eu e Marcos esprememos o aipim, que me deixou de muito bom humor, fazendo eu me divertir, para tirar a agua do aipim. A cor amarelada do aipim me chamou atenção, assim como seu gosto que parecia de batata crua, onde no inicio achei que não fossemos beber, mas depois quando reunimos todos para brindar a vida e bebendo um pouquinho dela partilhada com todos, não tem como não ser gostoso com todo esse amor.

 

Eu agradeço de coração a argila, pois tudo que ela me mostrou eu apenas senti, não quis usar as palavras com ela, mas durante todo meu contato com ela surgiu calafrios, surgiu partes mais densas nela em que eu pude desfazer com a mão que me mostraram que mesmo com mais de 15.000 anos, você ainda tem segredos, ainda tem nos para se desfazer e surpresas para conhecer. Jamais a perfeição vai se encontrar naquilo em que idealizo, mas ela se encontra na forma em que posso ser. Me apeguei a ela, senti meu calor, assim como senti com a areia, e ela não quis se separar de mim, mesmo quando não fiz mais esforços deixando que ela caísse, se quisesse. A conexão dos seres vivos eh incrível de se sentir e de se ver, pois num jornal, a argila não se apegou, ela não foi capaz de trocar todo o amor e informação que ela tem pra dar. Agradeço esse momento por ter surgido no meu momento, em que precisava conversar e sentir muita coisa sem me comunicar, apenas eternizando esse laco entre eu e ela.

(01/04)

 

Conviver com o biochip me levou a perceber o que é  viver. É  claro que a vida eh um grande mistério, só que quanto mais “se vive” nos tempos de hoje, mais se morre. E da maneira mais simples e mais amorosa o biochip me mostrou que, a vida se vive com vida.

Desde a primeira aula me encantava, me despertava um sentimento como se “eu já soubesse daquilo”, e de fato eu poderia saber algumas coisas, só não conseguia enxergar a junção de tudo, e o biochip me apresentou isto.

Muitas questões humanas, espirituais e emocionais que existem dentro de mim e provavelmente dentro de muitos seres humanos, foram resolvidas com a alimentação, com a informação mais preciosa do mundo, e nos só viveremos de forma plena se aceitarmos aquilo que nos foi dado pela Mae Terra, pelo Universo.

Quando comecei a minha experiência de comer vivo, senti a vida e de fato isso não tem preço. E foi ai que eu me assustei, me agoniei também, com toda essa convivência, pois o mundo esta funcionando a custa de preço, do valor, o capitalismo manipulou tudo, todas as pessoas , todas as cabeças, a minha cabeça, e isso entristece , pois perceber que o simples nos foi tirado, e voltar para ele, em geral, é praticamente impossível enquanto eu estiver viva.

Só que, “o mundo é do jeito que a gente vê” , e depois de toda essa sensação desconfortável , com o tempo, com o suco, com a companhia de cada um dessa turma ( que está guardada no meu coração) , as sementes e os alimentos vivos me fizerem perceber que o impossível não existe. Quando eu mudo, a mudança atinge grande escala, ela irradia a minha volta, e isto amplia, cresce, expande e da frutos, que nem as sementes.

Eu sou uma semente, como o biochip (ANA) foi para mim. Concluo, começando. Começou tudo nas feirinhas de quintas-feiras, quando me apaixonei pelo ambiente, pelo clima, pelas comidinhas e me apaixonei pela sua luz,Ana. De alguma forma eu senti muito forte que eu precisava desta troca, precisava e queria estar perto desse vasinho de luz de amor. E todos os dias eu começo, começo querendo viver, querendo o suco, querendo a minha energia, a minha sensibilidade, a minha felicidade, a minha VIDA, pois com isso, eu consigo ter todas as vidas. Obrigada!

 

Eu agradeço as frutas, as maravilhosas frutas, pelo fato de seu cheiro irradiar loucamente o ambiente, e te alimentar antes mesmo de provar-las. Sem ver a cor da goiaba, sentia aquele perfume. Achei muito interessante ter um conhecimento sobre as frutas doces, neutras, cítricas, e o fato de haver grupos em que as frutas tem essa combinação, facilitando o nosso processo de digestão.

Foi um dos dias mais incríveis, desenhar nos azulejos, e desenhar, passaria o dia todo desenhando com a manga, com a goiaba, com o abacaxi, e com as asinhas de borboletas de tangerina, ficaria ali que nem uma criança, descobrindo todos os meus desejos, todos os meus traços, ideias e desenhos.

Fazer uma enorme mesa de mandalas, eh a maior satisfação do mundo, mais bonito que toda a mesa, so mesmo o carinho, a troca, o oferecimento para o outro, e a fartura que isso gerou em mim, em todos os sentidos. As frutas trazem para mim o doce da vida, o doce completo da alma. Que saudade desse dia!

 

Sou muito grata a banana , canela, coco ( e como aprendi a tirar a carne , no martelinho ) pela canjica maravilhosa que comi. Sou muito grata a Theodora, por trazer o cacau da sua casa, e ter me dado a oportunidade de comer chocolate do cacau, com abacate, e uvas passas, como se fosse uma calda na canjica, e cada vez gera em mim mais opção, mais possibilidades, de viver, de me alimentar, do avanço do nosso convívio.

 

Agradeço ao solo, e ao processo de compostagem, por poder ver com meus próprios olhos a terra se regenerando, como ela vai incorporando todo aquele ecossistema que tem lá, e eh graças a essa cumplicidade da fauna e da flora que as coisas na terra acontecem. Foi incrível observar a textura de cada fase, a quantidade de minhocas que iam diminuindo,a cor o cheiro, cada indicador e característica de todo um processo de reviver.

 

Eu agradeço ao trigo, a aveia, e também pelos antigos ensinamentos deixados no Vaticano, pelos fatos de, desde de sempre a historia milenar, tem deixado mensagens, registros de uma forma de se viver a vida, fala da relação com a natureza, oque ela nos oferece, e também como a amar, respeitar a vida e o próximo. E um desses fatos deixados, era como eh feito o pão da vida, e não o pão morto. A pratica que se faz o pão, eh uma terapia eterna, um ritmo, calma e paciência tomaram conta de mim. Tais praticas só mostram para nos o quanto o alimento eh sagrado, e o quanto as pessoas se doavam para aquilo.

Agradeço também sempre aos temperos que nos proporcionaram a fazer pães doces, com maca, canela, e pães salgados com cebola, limão, alho, salsinha. Todos esses aprendizados geram em mim a felicidade, pois o mundo tem todos os ingredientes para nos alimentarmos de vida, basta aprender a voltar a ser aquilo que realmente somos.

 

Sou grata aos filmes que vi durante a nossa convivência. No dia de a dança das sementes, a agrovissicultura e a horta brasileira, foi interessante pois estavam muito relacionado a temas sobre florestas primarias , secundarias, sobre a alteração do solo e a regeneração , a mutação das sementes, onde eu estudei em ecologia no semestre passado, e começou a abrir a minha visão externa para o mundo, voltando para um interno, com criticas e questionamentos do mundo em que estamos vivendo. Achei fundamental a horta do Nasser ser rica em todos os alimentos, sem manter um padrão, uma organização estabelecida, so mostrava cada vez mais o quanto que a produção pode ser feita facilmente,em tirar oque nasce naturalmente na sua horta, ao contrario, entendia todos os sinais cada mato, capim que nascia,ou bicho que tinha, já era resposta para ele.

 

Eu agradeço ao filme La Belle Vetre por ser um filme com uma metáfora muito linda. As pessoas vivendo no mundo como ele eh, na simplicidade, encontrando e compartilhando muita felicidade. E felicidade eh por fim o que todo mundo busca, ser feliz todos os dias. Muito incrível o filme lidar com esses opostos e demonstrar toda a contradição em que estamos vivendo. Como o fato da moca escolhida ter ido a Terra e o quão aquilo era, esquisito, perturbador, todas as construções, prédios, ruas, carros, barulhos, pessoas sem respeito, e para ela era um desconhecido muito grande o nosso mundo,pois ela era um ser que pertencia ao mundo puro, o mundo do amor, o mundo que pode dar a chance de todos serem felizes.

 

Eu sou imensamente grata as conchas, porque um momento em silencio conversando de uma outra maneira eh muito especial e interessante. Foi muito importante para mim cada segundo que eu estava em contato com as conchas. Eu comecei a saber e observar, que além delas terem vindo parar na minha mão, vindas de muitos anos, elas eram a casa e o corpo de alguém, de algum ser. Ver e sentir que elas tinham formas perfeitas, que com o meu dedo eu podia tentar encaixar e sentir como aquele ser morava lá dentro. E por ser dentro, pensei na outra metade daquelas conchas, a onde elas estariam, e oque deveriam estar contando de suas experiências. Novamente, reparei e senti a delicadeza de cada uma. Suas cores em degrade, e sua superfície simetricamente inteira coberta de um traço. Quando senti elas, pensei em nos, todos os seres, da simbologia da liberdade de um, e a falta do outro. Mas também mexendo, tentando colocar encaixadinhas dentro de uma só, tentei arranjar pares umas paras as outras. Encontrei duas delas parecidas, mas fiquei intrigada quando elas se fechavam, nos menores pedacinhos tudo que faltava em uma, estava na outra. Elas não eram sua outra metade, mas podiam se preencher nas pequenas partes.

 

Que coisa linda os balões! Sou muito grata aos balões e aos baloeiros, por me fazerem sentir que ainda existe muita gente de um bom coração, e grande! Eh muito magico e emocionante ver que as pessoas ainda se juntam como família, e como eh muito importante para todas as partes se ajudarem. Todo mundo tem a expectativa do balão, da arte, do gigante, a realização de fazer com suas mãos e todo amor, aquela arte indo como um presente para a vida, subindo para o céu. Tem com certeza um pedaço de todas aquelas milhares de pessoas que fizeram os balões, indo voar lá cima. Ainda quero viver uma experiência dessas, senti muita gratidão naquele momento com vocês.