Gratidões de Theodora Duvivier
25.02
Agradeço à corda de Rami, pelo fato de ter realizado um desenho com a minha dupla Bruna, que gerou em mim ver que poderíamos fazer movimentos opostos e ficar totalmente em equilíbrio estando 100% relaxadas. Além disso, pude sentir a energia que se transmitia pela corda. Também agradeço a corda por ter feito um nó no meu corpo que possibilitou movimentos que iam além do meu limite. Isso gerou em mim ver que a corda poderia ser um ótimo material para eu me alongar.
04.03
Carnaval e dia em que eu nasci.
11.03
Agradeço ter participado dessa experiência que mexeu com cada um dos meus sentidos. O cheiro se tornou mais forte, as cores mais bonitas, a textura mais macia. E tudo isso fez com que eu criasse uma relação mais próxima com as verduras, o que para mim é novidade. Já que há alguns anos atrás eu não podia ver uma cor diferente no meu prato. Esses pigmentos me deram vontade de experimentar mais coisas ligadas a natureza. Agradeço à cenoura, ao repolho roxo, à beterraba, à maçã e ao inhame por me darem toda essa experiência com os sentidos, nunca vivida antes.
14.03
Agradeço à areia que Ana nos deu, pelo fato de ter sido, mais uma vez, uma experiência estética que gerou em mim muitas sensações ao mesmo tempo. Não só sensações, mas emoções. Essa areia me remeteu à viagem que eu fiz em fevereiro para o sudeste da Inglaterra, aos lugares espirituais que eu conheci, onde eu senti as mesmas coisas. Uma vontade de chorar e agradecer a tudo que eu vivo hoje. A cada situação, e ao acaso, que me fez parar aqui nessa aula.
Pude esquecer todos os meus problemas e pensamentos que vinham me atormentando durante a semana. Essa areia me distanciou da vida real e me aproximou mais da terra por causa do seu cheiro, da sua textura, da sua cor. No final, vi que a areia mágica estava transmitindo sentimentos diferentes a cada pessoa, apenas a partir do que os nossos sentidos nos disseram.
18.03
Agradeço à chicória, à couve, ao hortelã, à grama de trigo e de girassol, por terem melhorado o meu humor. Saí de casa e fiquei mal humorada por causa do bafo que estava de manhã, dos 10 caminhões que estavam estacionados na calçada da rua debaixo, e da quantidade de carros que transitavam aquela hora da manhã enquanto eu descia para a PUC.
Ao cortar o hortelã, o cheiro que veio me deixou alegre automaticamente, assim como o gosto da grama de girassol que provei. Foi mais uma experiência que mexeu com meus sentidos e dessa vez, com meu humor, pois conseguiu me dispersar, me fazer ficar de bem com a vida, e refletir no porque de eu estar daquele jeito se existem tantas coisas muito piores na vida. Aprendi que experiências estéticas podem ser uma solução para os dias que eu acordar assim.
21.03
Agradeço ao filme “Camelos Também Choram”, por me mostrar toda aquela cultura no deserto da Mongólia, que eu não fazia ideia que existia. O filme me fez refletir sobre o fato de um filhote ser rejeitado pela mãe só porque nasceu diferente dos demais camelos ou por causa da dor traumática do parto. Existem mães humanas que têm a mesma atitude e que influenciam totalmente a vida do filho por não darem o carinho preciso. Me fez ver a importância do cuidado e do carinho materno, que ainda falta em muitas pessoas no mundo.
Também me fez ver que aquele povo, vivendo tão solitariamente no meio de um deserto gelado, sem acesso à grande parte da tecnologia, mesmo assim é feliz e leva uma vida ideal.
25.03
Agradeço à cenoura, ao repolho roxo e ao branco por estarem sempre me surpreendendo e me mostrando seus “talentos”. Desse jeito, acabo criando uma sintonia com eles, que faz com que eu tenha mais vontade de me aproximar deles com mais frequência, já que eu não faço isso em casa. Continuam sendo uma das poucas verduras que eu não sinto muito prazer em ingerir, mas sei que da próxima vez, vou me lembrar da aula que eu tive hoje, estando ciente do poder que elas têm.
Agradeço às sementes por me mostrarem que a partir delas, pode ser feito um queijo, que é uma coisa que eu gosto muito mas sempre me sinto mal depois de comer. Fiquei feliz que tenham outras alternativas saudáveis que eu mesma possa preparar.
01.04
Agradeço à argila por ter me feito parar alguns minutos para ouvir o que eu tinha a dizer e mostrado o seu talento, de forma com que minha atenção estivesse voltada sò à ela.
Nesses minutos com a argila na mão, só consegui pensar no meu pai. A argila me levou para minha infância, aos tempos que eu passava horas no atelier do meu avô, que também era escultor e vivia com as mãos na argila. Meu avô morreu quando tinha 8 anos, por isso as lembranças são poucas. A argila não só me trouxe algumas, mas fez vivê-las.
Tive contato com argila desde muito pequena e talvez tenha sido ela que me fez estudar arte, e por acaso, parar nessa aula.
04.04
Agradeço ao filme “La Belle Verte” por me fazer refletir sobre o nosso planeta e a vida que levamos nele. Será que aquele filme na verdade não é ficção e é nós que estamos vivendo uma? O filme me mostrou que estamos vivendo da maneira mais errada e maluca possível, e que o correto seria levar uma vida igual a daquele planeta, onde todo mundo é livre e vive num mundo utópico mas que poderia ser enxergado como um mundo possível se dependesse daqueles que realmente quisessem.
08.04
agradeço ao aipim por ter me mostrado sua outra imagem. Quando pensava em aipim, visualizava-o frito, e sei que agora não vai mais ser a mesma coisa, vou lembrar da aula que eu tive hoje, de cada etapa que tivemos que fazer para chegar no resultado da farofa. E, mais uma vez, essa aula me deixou melhor, pois hoje de manhã tinha feito um suco que me deixou enjoada. Agora, depois de tomar o "suco de aipim" eu espero que saia tudo de ruim que esteja dentro de mim.
11.04
Agradeço ao bolinho de farofa de aipim que comi hoje feliz da vida. Nunca imaginei que cada etapa dessa experiência fosse gerar um resultado assim, tão delicioso. O gosto que senti foi além dos diversos temperos e do forte sabor que tinha, pois também pude sentir o amor e o carinho de cada mão que o fez, de cada pessoa do grupo que participou. Aprendi que tudo muda dependendo da maneira que é feita, do humor e astral que a pessoa que faz.
Agradeço à terra por ter me atraído e me feito pegá-la, sem nojo e sem medo, como se aquilo fizesse parte de mim. Sempre tive medo de minhocas, e na aula, por mais que tenha batido um pouco, depois de ter sentido a terra de hoje, de 6 meses e de 1 ano atrás, pensei: “por que ter medo delas?”.
Depois da aula de biochip tive um "workshop" de mídia digital, para fazer um site (em 4 horas). Cheguei um pouco atrasada e avisei ao professor que iria subir para comprar uma água. Ele disse que se eu fosse, eu não poderia mais voltar. Ele falava muito alto e tinha um ritmo muito acelerado, não parava de falar que o tempo estava terminando e era para irmos mais rápido. No final, nosso grupo não tinha conseguido terminar a tarefa, e por isso recebemos uma bronca enorme dele, que me deixou tremendo e muito nervosa. Me lembrou os professores do Lycée Molière, que me deixavam exatamente assim e por isso eu não gostava de estudar lá.
Saí muito chateada e fiquei pensando o porquê de existirem pessoas assim no mundo, de existirem esse aulas como essa e não serem todas iguais a biochip, que é a aula ideal para deixar alguém feliz.
15.04
Agradeço ao filme "Futuro Roubado” por ter me mostrado um outro lado que eu não conhecia. Nunca pensei que corríamos o risco de estar comendo peixe por ele poder estar altamente poluído, devido ao plástico. Isso me fez pensar profundamente sobre o uso do plástico, que eu já sabia os malefícios, mas também do pobre peixe que hoje não é mais o mesmo. Agradeço muito ao filme “A Carne é Fraca”, que também mostrou um outro lado que eu já estava ciente, porém sempre fugia para não querer saber a verdade. O filme me chocou e me fez ter mais certeza de que não é para eu comer carne, nunca mais. Fiquei muito comovida com cada cena. A partir daí, senti que comecei a ter uma relação muito mais forte com qualquer animal.
25.04
Agradeço ao trigo e à aveia por terem servido como uma meditação para mim. Mais uma vez, este tipo de atividade me desligou de tudo que eu estava sentindo de ruim e de todos os meus problemas acumulados durante a semana. Além disso, me surgiu a vontade de preparar comidas vivas com mais freqüência.
06.05
Agradeço às conchas por terem me levado ao mar nessa terça-feira de manhã. Logo antes da aula, eu tinha pensado em como eu queria ia à praia. Bastou fechar os olhos, com aquelas conchas na mão, que não consegui imaginar nada além do mar e da minha avó. O barulho das conchas umas com as outras me lembravam de sua casa, que era do lado da praia de Ipanema, onde nós sempre íamos juntas. Até seus 90 anos, ela ia todo dia à praia dar um mergulho e andar pela areia. Foi ela quem me ensinou a gostar tanto disso. Levava seu caderno, e desenhava tudo que observava. Até hoje vivo muitas situações que me fazem lembrar dela, mas essa foi muito especial pois senti ela presente não só na minha cabeça, mas ali, junto a mim.
09.05
Agradeço ao amendoim por me dizer que eu posso germiná-lo quando quiser, porque seu gosto fica ainda melhor do que normalmente. Descobri, com ele, que germinar é um ato muito mais simples do que se pensa, além de muito mais saudável. Senti, depois dessa aula, o prazer de germinar uma semente.
13.05
Agradeço as frutas que fizeram comigo um lindo desenho. Me deslumbrei só de ver Ana cortando cada uma delas. Fiquei tão abismada com o resultado dos desenhos pois aquilo era uma prova concreta de que podemos fazer arte a partir da comida viva, com cores magníficas e totalmente naturais. A partir desse dia, fiquei ansiosa para fazer refeições em casa só para poder fazer um daqueles desenhos lindos. Cheguei em casa e fiz um creme de caqui com mamão, que ficou com uma cor, um gosto, e um cheiro incrível. E com isso, agradeci essa aula que foi onde pude aprender o poder das frutas.
20.05
Agradeço a Ana por ter me mostrado um lindo uso do cacau. Nunca pensei que se pudesse fazer um doce tão bom a partir de algo colhido lá na minha casa. Foi aí que percebi que eu podia explorar outras frutas que eu tinha disponíveis no meu jardim, sem precisar comprar, ou se preocupar com os agrotóxicos. Descobri que alimentos colhidos e preparados na hora são os melhores.
Convivência com Biochip
Desde que descobri a feira, passei a freqüentá-la feliz da vida por ser o único lugar da PUC onde eu poderia me alimentar bem. Além disso, um lugar em que eu poderia sorrir só de ver tantos sorrisos voluntários.
Ao mesmo tempo, minha vida estava num processo de mudança. Estava prestes a viver um novo ciclo que eu ainda não havia descoberto. Estava mudando completamente minha alimentação desde que voltei de Oxford, onde havia morado por 6 meses. Lá, morei sozinha e tive, no final da estadia, duas crises renais. Voltei com 10 quilos a mais, ovário policístico e infecção urinária, para completar. Foram duas horas de consulta com um nefrologista amigo dos meus pais, que me fizeram pensar: “Ok, é preciso começar a me alimentar direito”.
Quando criança, era motivo de preocupação para todos que estavam ao meu redor. Sempre fui abaixo do peso e a hora do almoço era um pesadelo. Meu prato seguia tons de preto, branco e amarelo. (Pode-se imaginar o que eu comia).
Eis que então, me forcei a gostar das folhas, e fui, por questões de saúde, abandonando as carnes. A hora do almoço se tornou um prazer. Os pratos coloridos que eu fazia não me deixaram com a menor saudade de comer um filet mignon. Na casa do meu pai, já fazíamos um suco verde (mas sem as sementes), e que me deixava muito bem.
Enfim, em fevereiro desse ano, fui convidada, muito por acaso, a filmar uma viagem espiritual na Inglaterra, pelos caminhos celtas, com uma chamã aqui do Rio. Um dia, fui a Tintagel, no castelo onde Rei Artur teria sido criado, e lá, me deitei no meio de um gramado. Fiquei um bom tempo pensando na minha vida e soltando gratidões automaticamente por estar naquele lugar.
Naquela semana, havia acabado de solicitar as disciplinas da 2a fase da matrícula da PUC. Uma delas era “Design e expansão dos sentidos”(matéria obrigatória de mídia digital). Esta, se coincidia exatamente com Biochip. E foi ali, deitada na grama, que me veio um sinal de que era preciso trocar, no de-para, uma pela outra, e pegar com o Bonelli uma outra disciplina, que, por sinal, veio a ser a qual me fez gostar mais da minha habilitação.
Finalmente, isso foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.Troquei uma pela outra e acabei descobrindo que Biochip era exatamente expansão dos sentidos, só que de verdade, sem um computador na sua frente. Nossos sentidos diante à natureza, com quem eu nunca teria tido uma relação tão próxima.
Biochip mudou a minha relação com a vida. Esse ciclo, que eu estava para começar, se deu graças a essa disciplina. E eu penso que era para ter acontecido isso. Nunca passei dias tão felizes como nos últimos meses. Hoje, vejo a felicidade como algo essencial na vida de qualquer pessoa. Não reclamo de mais nada ou me aborreço a toa pois penso que a vida é curta e é preciso aproveitar cada segundo dela. Vou dormir já pensando em acordar e fazer o suco (de verdade) e saborea-lo e ter um dia maravilhoso (esquecendo qualquer problema) por causa dele.Aprendi a ter mais prazer no ato de fazer qualquer coisa. Nunca gostei de cozinhar por preguiça e falta de paciência, e hoje em dia penso: "por que cozinhar, se posso preparar um desenho lindo com as frutas que tenho na minha própria casa?" Passei a observar como eu me sinto após botar algum alimento para dentro de mim, passei a entender muito mais o meu corpo, passei a ter muito mais coragem e confiança na vida. Enfim, foram muitas atitudes desenvolvidas que fizeram total diferença na minha pessoa.
E por isso eu sou, e serei, eternamente grata a você, Ana. Afinal, você que é a grande causa de tudo isso que eu escrevi. Você quem me mostrou um lado da vida que eu não tinha descoberto.
Muito obrigada!!!Vou voltar nas aulas quando puder. E gostaria muito de "trabalhar" na feira.
Beijos e um abraço apertado,
Theodora