JÚLIA CHINDLER CONCLUSÃO 2015.2



BIOCHIP

Júlia Chindler

13/08/2015

Eu agradeço a corda sisal pelo fato de ter sido uma experiência mista em sentimentos. Que consequentemente gerou em mim emoções diversas. Em um primeiro momento não me conectei em si com a atividade, fiquei vagando em outras ideias. Até que a Ana nos instruiu a formar mais ou menos uma fila para que pudéssemos ir para fora. Pessoas marchando juntas em uma direção me traz sempre a sensação de aflição ou tristeza. Tem algo que me lembra o gado em direção à morte. Foi quando alguém sentiu comigo e disse: parece que vamos morrer. A Ana retrucou; mas é assim que é nascer, parece a morte. O medo a aflição e a tristeza puderam se transformar em algo confortável, quente. Meu grande agradecimento é por essa transformação.

18/08/2015

Eu agradeço a corda sisal de ter me proporcionado uma nova experiência. Que foi responsável por criar em mim uma nova visão sobre a união de dois corpos. Sempre achei que receber um corpo novo dentro de si era mais difícil. Porém a partir dessa vivencia, pude perceber que é igualmente, ou até mais complicado estar em território alheio. Ambos precisam se ver com sua insegurança e vulnerabilidade. Foi bonito perceber isso. Mudou em mim ideias sobre o amor e o sexo, como é preciso estar inteiro e forte antes de adentrar no outro.

20/08/2015

Eu agradeço a corda pelo fato de ter me mostrado meu corpo. Gerou em mim uma curiosidade sobre as possibilidades de movimento. Enquanto em dupla a sincronia se assemelhou muito a uma dança. Era bonito ver o corpo do outro espelhando seus movimentos. O momento de perceber o outro é sempre mágico. Notar que ele existe. E é tão diferente e igual ao mesmo tempo.

Com a corda sozinha há um minuto de solidão. O outro é o pai do desejo, pois é só reconhecendo nossa falta que podemos buscar em outro. Sem o outro o que fica é a falta. Até que você descobre a completude do seu corpo. O pé pode beijar a orelha. Você sente os músculos aquecendo, respira, enche o corpo de algo que é invisível e real, alonga. E então o corpo é sua casa, e você se sente bem nela.

25/08/2015

Agradeço aos mais lindos desenhos formados com o que há de mais bonito a comida.

01/09/2015

Às vezes é importante agradecer as coisas que passam despercebidas, pois nos parecem banais. É fundamental essa gratidão, pois no final são as coisas pequenas que tornam a vida tão complexa e bonita. Hoje eu agradeço as cores. E principalmente ao lindo roxo do repolho.

03/09/2015

Agradeço pela experiência de comer vida. Como sabemos se algo esta vivo? Porque muda, se transforma. Só a morte é inercia permanente. A experiência de comer vida tem a ver com isso. Com o alimento que se transforma que pode germinar fermentar e eventualmente apodrecer. Porque a vida é mudança.

08/09/2015

Eu agradeço aos vegetais primeiramente por me lembrarem de olhar. Por me fazerem sentir novamente todo o prazer que há em perceber cores. A cegueira não é, porém o escuro, cego é quem não se põe em posição de conhecer o novo. As cores vão além do olho, tocar cada bagaco, perceber cada forma, porque cor não é só imagem, é som, é musica, textura, é calor e é frio, mole e duro. Ao cantarmos antes de comer, nos lembramos que assim como as cores cada corpo vai além do que se vê. Cada corpo é um e é muitos. Forca aos índios, as plantas, e as cores. E a tudo outro que insiste nessa coisa doida que é viver.

10/09/2015

É difícil agradecer quando estamos tocados. Difícil plantar gratidão quando o nosso coração esta em estado de choque. Hoje a minha mais sincera gratidão é pelo poder critico que essa aula nos proporciona. Lembrando aos jovens que é importante questionar. Da onde vem nossa comida? Como ela é feita? O que comemos? Quais os impactos disso? Na gente? E no planeta? Tem veneno? Nada mais importante e assustador- para aqueles que se interessam em continuar modelos falidos- que mentes inquietas.

15/09/2015

Agradeço por ter sido ensinada sobre o sono das sementes. Sim, sementes dormem. Tudo o que é vivo dorme. Por que haveria de ser diferente com as sementes? Acho que pensamos que é porque nos distanciamos muito das coisas vivas. Agradeço por ter sido ensinada que quando acordamos essas sementes seus nutrientes se multiplicam. Como acordar? 8 horas de agua, 8 horas de ar.

22/09/2015

Agradeço pela oportunidade de rever um filme que eu havia visto na infância. Nada tão precioso que ter a oportunidade de rever um filme com o olhar ingênuo de quem ainda acredita num mundo melhor.

29/09/2015

La Belle Verte o filme tem um dos poderes mais preciosos que é o de olhar com estranhamento para aquilo que nos já internalizamos como sendo normal. Esse poder no filme se dá graças a uma mulher que vem de outro planeta. Mas é fundamental que nós possamos fazer o mesmo. O olhar normativo é perigoso. É a maquina de corpos dóceis. O diferente é perigoso, pois ele ameaça. Mas é so ele que é capaz de verdadeiras transformações.

02/10/2015

Colhemos o que plantamos. Foi mágico. Hoje estamos distantes do que produzimos, viramos meros consumidores. Devoradores daquilo que nos dão. É importante por a mao na terra. ENTENDER UM OUTRO TEMPO. Não é o tempo de Kronos, que nos devora, que é cruel, e a qual estamos sempre atrasados na luta contra o relógio. É o tempo do ciclo, das estacoes, do que vive e do que morre para que outra coisa possa então nascer. É um tempo generoso para quem vive, pois nele não há medo da morte, a morte não é o fim, é um novo começo. A morta fertiliza a terra para que algo novo venha a existir. A morte é o adubo da vida.

Documentário a carne é fraca:

Sou vegetariana há alguns anos. Não fui no dia da aula que foi passado esse documentário, confesso não conseguir assisti-lo. Porém sou grata que tenha sido exibido em uma matéria na Puc. Acho muito importante que as pessoas repensem de onde vem a comida, e o sofrimento que a ela e proporcionado. Será que é mesmo necessário tanta dor por puro prazer?

O mais gritante de tudo é que mesmo os carnívoros não possuem estômago para o filme. Doido isso né? Como as pessoas preferem viver de olhos fechados!

Reconhecimento de conchas:

Perdi o papel no qual eu escrevi sobre cada concha. Provando que coisas a gente perde, experiência não. Lembro de passar a mao, os dedos Em cada concha escrever sobre cada uma sem ao certo saber o que estava fazendo. Quando a Ana contou cada história fiquei chocada. Não precisava ouvir da Ana suas histórias, pois elas mesmas já tinham me contado. As conchas falam!

As mais chocantes foram as mais antigas que eu pude saber na hora que elas não eram desse tempo. É as recém cantadas na praia, ainda molhadas, que eu escolhi como única palavra para descrevê-las saudade.

Aula sobre a farinha de aipim:

Como a Ana mesmo disse a farinha é algo brasileiro. Só a gente tem. Herança dos índios. Achei lindo quando durante a aula a Ana contou sobre os "pau de araras" que vinham do Norte e pra comida não estragar enfiavam numa lata com Muita farinha que funcionava como um isolante de temperatura. É maravilhoso perceber dentro da cultura popular o conhecimento. Não precisa de laboratórios, de pesquisas, de pílulas mágicas, tem algo que se passa adiante e que o homem aprende e sabe. Sem nem saber porque mas sabe.

Bolinho de nana:

Esperamos a farinha da aula anterior secar, usamos o tipiti. Tipiti precisa de duas pessoas, herança indígena de um povo que não faz nada só pra si, tudo é pra todos.

Os bolinhos foram a melhor coisa que eu comi durante o curso de biochip sou eternamente grata por isso.

Supersize me:

Sou grata por não comer no mc donalds. Que nojo!

Compostagem:

Essa aula foi a mais especial para mim. Logo após o desastre( eu prefiro chamar de crime) eu estava angustiada. Fiquei sem conseguir entender, meu coração apertou. Olhar as imagens daquele rio me quebrava todas as esperanças. Foi mágico quando a Ana trouxe a terra, os papa defuntos, mesmo que naquela terra não houvesse nada tóxico pude perceber que a natureza sempre se regenera. A vida é maior, e mais forte, que a morte.

Desenhos natalinos:

Foi muito legal perceber que há outras possibilidades de comidas para a ceia de natal. Comidas vivas, longe dos industrializados e mortos de todo ano. Sou gratíssima a isso.

Texto final de curso:

Esse curso foi muito importante para mim. Inúmeras vezes ouço pessoas dizendo “ah, mas a Ana branco é muito radical". Talvez seja. Mas e o nosso modo de vida não é? Produção em massa, desastres naturais, pessoas morrendo de fome, consumo enlouquecido.

Vivemos num mundo tão capitalista que quem não contribui para o sistema é chamando de radical. Radical é a vale matar um rio, o mc donalds entupir artérias, a sadia tratar os bichos dessa forma... Radical é estar convencido de que essa é a única maneira!