RENATO LAVOGADE CONCLUSÃO 2017.2
GRATIDÕES – RENATO LAVOGADE
Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de ela conseguir sustentar todos nós juntos, que gerou em mim uma surpresa de ver a capacidade disso e mais ainda de que só seria possível com todos juntos. Depois de passarmos a corda por todos nós e caminharmos até uma área mais aberta, foi o momento da sustentação de nossos corpos que chamou mais ainda minha atenção. Consegui relaxar e até alongar algumas partes do corpo, trazendo sensação de bem estar. 22/08/2017.
Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de se arrumar no ambiente mesmo que ele pareça sem tanto espaço para ela. No momento em que um grupo, um desenho recebe o outro, tudo parece, muito apertado e achei até que aquele resultado não fosse possível. Esse fato, então, gerou em mim surpresa e confiança nas possibilidades da corda de sisal e do meio ambiente em geral, que sempre tenta se adaptar da melhor forma às condições encontradas. 24/08/2017.
Eu agradeço a cenoura pelo fato de se adaptar de acordo com formas e cortes e apresentar um gosto diferente para cada um deles. Nesse sentido, gerou em mim surpresa. Se até a cenoura se apresenta de diferentes maneiras, qualquer outro ser vivo também é capaz disso e, ainda assim, mantendo sua essência e natureza. 29/08/2017.
Eu agradeço ao filme Ponto de Mutação pelo fato de ser tão instigante e mostrar, por meio de seus personagens centrais, uma visão de mundo em que as coisas tem mais relação umas com as outra. Isso gerou em mim muita reflexão e pensamentos acerca das histórias. 31/08/2017.
Eu agradeço a corda de rami pelo fato de ter muita sustentação. No momento em que, em duplas, fizemos diversas posições para nos equilibrarmos, fiquei com medo de que ela arrebentasse. Mas, muito pelo contrário, se mostrou muito forte para nossa sustentação, mesmo com sua aparência mais fina do que a corda de sisal.
05/09/2017.
Eu agradeço ao filme Camelos também choram pelo fato de gerar uma reflexão em mim acerca do camelo renegado. Ele, que era raro, passa a ser negado e passa por dificuldades pra sobreviver. Esse fato me deixou refletir sobre as diferenças e como que a sociedade as recebe. 14/09/2017.
Eu agradeço ao repolho e a cenoura pelo fato de terem cores e texturas que nos permitem criar desenhos mesmo fechados dentro de um pote de vidro. Isso gerou em mim vontade de criar mais em lugares fechados e não apenas em lugares planos e abertos, como folhas ou tábuas de madeira. Além de criar o desenho num pote, também é prazerosa a forma de contempla-lo: segurando o pote de vidro com as próprias mãos, rodando e rodando e vendo a infinidade de cor e desenho vivo ali presente. 19/09/2017.
Eu agradeço ao repolho e a cenoura pelo fato de apresentarem texturas e gostos diferentes quando apreciados vivos. Depois de cortarmos eles e desenharmos nos potes, levamos para casa. Assim, pude acompanhar mais de perto o processo de fermentação, e até virar o pote no momento adequado. Isso gerou em mim um sentimento de coletividade grande, por, mesmo cada um em suas casas, depois juntarmos toda a nossa produção e celebrarmos juntos. 21/09/2017.
Eu agradeço as sementes germinadas pelo fato de conseguirmos transformá-las em um alimento tão importante e clássico na nossa cultura diária: o pão. Participar do processo de produção da massa gerou em mim um forte sentimento de coletividade, principalmente ao passar por mais de uma etapa dele. No momento em que uma das máquinas de moer parou de funcionar e um grupo tentou junto conserta-la, senti admiração e vontade de continuar participando daquilo. 28/09/2017.
Eu agradeço ao filme La Belle Verte pelo fato de mostrar e fazer pensar que é possível sim vivermos em harmonia com a natureza. O filme mostra essa possibilidade da condição humana e gerou em mim esperança e crença de que a a sociedade pode junta fazer muito mais do que faz hoje pelo bem do planeta e da natureza em que somos agraciados. 03/10/2017.
Eu agradeço ao aipim pelo fato de ser muito mais do que eu conhecia, que era apenas cozido e frito. O aipim vivo tem muito mais textura e sabor, e tive um sentimento de muita surpresa ao saber e participar da produção do leite, que eu não sabia que existia. Pessoalmente, o aipim é um alimento muito presente na alimentação, então saber sobre essas infinitas possibilidades vivas foi de muita gratidão. 05/10/2017.
Eu agradeço ao pimentão, ao coentro, à cenoura e à farinha de aipim pelo fato de juntos formarem um bolinho de explosão viva de cores, texturas e sabores. Isso gerou em mim mais surpresa de ver as possibilidades de misturas e composições vivas que eu não imaginaria ser possível lá no início do curso. 10/10/2017.
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Agradeço as folhas verdes por esse ganho que foram os sucos de clorofila, de couve, de semente de girassol germinadas... Eu nunca teria feito isso em casa sozinho sem um empurrão, sem saber que era gostoso. Além de que, é claro, o grupo foi muito importante em todo o processo. Teve coisa melhor do que chegar com nossas plantinhas e ver a de todo mundo reunida naquele tablado? Ah, não tem não...
Agradeço a argila por tudo que ela é capaz de guardar por tanto e tempo e mesmo assim conseguir passar de geração a geração até hoje. Agradeço também à terra por essa capacidade. Elas me fizeram sentir como em uma viagem por um livro enorme, cheio de histórias. E ao proporcionar isso, fizeram com que eu também pensasse em minha própria história. Desde as primeiras lembranças que tenho de pensamento próprio, até toda a caminhada que venho fazendo na faculdade mirando meus sonhos profissionais. Na só foram uma grande máquina do tempo e de histórias como me fizeram também pensar no hoje e nos próximos dias. e o questionamento que ficou foi: Que lembrança vou deixar pra argila pra ela passar por mais gerações?
Agradeço às frutas por nos permitirem fazer arte com elas. Desenhar de forma viva foi uma experiência que o Renato de 5 anos, lá na escolinha, não imaginaria fazer com seus 21 anos. Aliás, ele nem saberia o que é ser vivo de fato, não saberia dizer o que é o biochip. Desenhar com as frutas pra mim foi como uma grande esperança. Consegui pensar de cara nas crianças e imaginar encanta-las com esse tipo de desenho. Crianças essas que muitas vezes nem querem chegar perto de frutas. Só querem saber de balas, doces, biscoito recheados. O desenho vivo e colorido pode atrair essa infinidade de crianças e leva-las a pelo menos conhecer as frutas e, mais do que isso, o biochip.
CONCLUSÃO
O curso de biochip foi uma grande surpresa pra mim. Pelos corredores da PUC, muita gente que nem fez a aula se refere a ela de uma forma visivelmente ignorante, poucos sabem do que falam. Mas os que sabiam me fizeram optar por essas aulas.
Ao longo do semestre pude aprender sobre o biochip e conhecer uma nova forma de vida e até de alimentação. Mas "nova" é uma palavra muito errada. É um estilo de vida que vem de muito, muito tempo. Hoje só se fala de vegetarianismo e de veganismo, então conhecer a comida viva foi uma surpresa maravilhosa.
As aulas me atingiram de uma forma que eu sempre conseguia lembrar do Renato criança que tem dentro de mim. Aliás, por gostar muito de crianças, sempre lembrava delas e principalmente do meu afilhado Miguel, de 5 anos. Plantar as sementes germinadas em casa, mexer com as cordas, a argila, as conchas, tudo isso me fez de alguma forma despertar a criança que vive aqui comigo. Não sei o motivo, mas foi isso que eu me sentia tocado a cada aula. Não que os conceitos tenham sido infantis, muito pelo contrário, mas cada aprendizado me fazia lembrar de algo de quando pequeno e também de imaginar o meu afilhado Miguel ali comigo sentado nos tablados de madeira.
Infelizmente, por contas de obrigação do trabalho, perdi mais aulas do que gostaria nesse semestre, e algumas delas foram as de biochip. Mas nem por isso deixei de ter muito aprendizado e também de disseminar isso com meus amigos da PUC, em conversas na hora do almoço no meu trabalho e até mesmo dentro de casa.
Preparei uma boa salada de confetes de pimentões com repolho e girassol germinados pra levar pra feira do desenho vivo, mas na correria esqueci dentro da geladeira. A chateação por ter esquecido logo bateu no peito, mas foi totalmente superada quando minha mãe mandou uma foto de seu almoço naquele dia: a salada que eu tinha esquecido! Nada melhor do que saber que sua mãe estava se deliciando com algo que você preparou cheio de sentimentos bons.
Além de tudo isso, um fator importantíssimo foi o grupo. Nunca participei de algo na faculdade tão próximo, tão de grupo, tão de comunidade como a aula de biochip. Pessoas de todas as origens e idade vivendo e pensando juntas por uma única causa e objetivos, sempre aprendendo um com o outro. As meninas especiais também, quanto amor por elas! Foi pra elas inclusive que ofereci meu desenho vivo naquela aula.
Agora, vou buscar aprender mais ainda sobre, continuar tentando receitas em casa e espalhar pelos corredores da PUC-Rio que todos precisam participar dessa grande reunião de afeto que é a aula do biochip.
Muito obrigado pela oportunidade, Ana.
Beijos com muita gratidão do seu aluno Renato. Dez/2017.