Agradecimento ao biochip e aula perdida
Biochip é purificar-se com a vida, com as cores, com o que há de mais natural em nós. É repensar a sua própria vida até então, seus hábitos alimentares, seu entendimento do mundo; encarar a existência de uma forma mais bonita. Desde entender-se como uma rede única, uma teia que nos conecta e nos sustenta, até experimentar com forma e conteúdo para criar comidas mais vivas. Aprendi que se quisermos viver, precisamos viver juntos. Junto do outro, do diferente, do semelhante, dos animais, das plantas, fungos, bactérias, ar, água, terra, luz, sol, lua... Precisamos viver com a Terra.
Não é a toa que o biochip muda a vida das pessoas. Não é a toa que no meu último período da faculdade eu precisei fazer essa matéria. Que mesmo sem tempo, tendo que faltar diversas vezes, eu queria vir à aula. Uma aula que não te pressiona, não te cobra, não se encaixa no nosso sistema enlouquecedor de educação, Uma aula que te dá vontade de participar. Que, mesmo eu passando mal ou num dia ruim, era capaz de me transformar e mudar meu dia.
Ao Biochip, só tenho a agradecer
Para a prova no sábado, eu escolheria talvez algo relacionado aos mosaicos, às mandalas que fizemos. Pois me encantou a conexão entre a comida e a pintura.
A expressão artística através da alimentação.
Obrigado Ana,
Por seus mil ensinamentos e sua maneira inspiradora de viver.
G1 – Agradecimentos
13/03/18.
Agradeço a corda de sisal por me fazer perceber que a confiança deve ser mútua. Não adianta um dos lados confiar em você se você não confiar de volta. Através dessa analogia da corda, fica claro que se você jogar o peso para trás mas a pessoa que está do outro lado, conectada a você, não fizer o mesmo, você fica em constante desequilíbrio. Confiança é uma via de mão dupla.
Eu estou acostumado a fazer e realizar essas propostas de jogos de confiança por causa do teatro. Lá, aprendi que arte não se faz sozinho. Teatro é comunidade, é grupo. Entretanto, jogar com pessoas que são de teatro é talvez mais fácil do que foi aqui na aula. Talvez por uma predisposição ou conhecimento prévio que, aqui, algumas pessoas não tiveram a oportunidade de ter. O fato é que é preciso saber lidar e e confiar em todas as pessoas, pois nem todas vão ter essa facilidade pro jogo.
15/03/18.
Agradeço à corda de sisal pelo fato de evidenciar a necessidade de saber lidar com redes externas que não são a sua própria. É preciso saber sobrepor redes, se entrelaçar de confiança para que vivamos apoiados. Não basta saber viver na sua micro-rede, deve-se ter noção de que somos um rede única planetária. O desafio de juntar a sua rede com a rede dos outros; confiar em quem os outros confiam.
Ao materializar essas conexões através da corda de sisal, percebemos que mesmo depois de desamarrá-la, continuamos apoiados.
E é interessante reparar a personalidade de cada pessoa pelo modo como ela age no exercício. Quem confia demais ou de menos, quem se estressa, quem tenta ajudar, quem dá ordens ou dicas, etc.
O jogo tem gerado em mim um sentimento de que nos falta confiança. Anda-se muito sozinho hoje em dia. São tempos escuros, deixemos que os outros iluminem o caminho comum. Afinal, todos queremos a mesma coisa, só discordamos em como chegar lá.
20/03/18.
Eu agradeço à cenoura pelo fato de mostrar que o dilema forma/conteúdo existe até nas comidas. É possível alterar a forma sem que o conteúdo seja afetado? A mesma coisa pode ser dita de duas maneiras diferentes ou a partir do momento que se usam outras palavras para dizer aquilo, a informação contida na fala passa a ser um outro conteúdo?
A cenoura gerou em mim esse questionamento. Ainda que a cenoura – nosso conteúdo – seja a mesma para todos os cortes que fazemos – as formas – a experiência de comê-la difere a cada nova vez. Pessoalmente, gostei mais da cenoura ralada, em cortes finos. Parece que quanto mais delicado é o corte, mais o gosto e a sensação também são. O inverso é válido. Cortes bruscos, formas brutas: sensação igualmente indelicadas
Tudo isso poderia ser dito através de um desenho, um poema, uma música... Mas acho que não seria a melhor forma.
27.03.18.
Eu agradeço à corda de rami por evidenciar a discrepância de se trabalhá-la em dupla e depois individualmente. Com a minha experiência, pude perceber que sozinho é muito mais difícil. Não consegui encontrar uma posição de conforto e descanso absoluto em hora alguma. Somente explorei tensionamentos e apoios que ora me permitiam descansar uma perna, por exemplo, mas que doía no pescoço ou ombro, onde a corda estava segurando. Já no trabalho em dupla, conseguimos descobrir posições variadas de apoio mútuo sem que um ficasse em incômodo. Foi possível pros dois estarem em descanso ao mesmo tempo. Porém, também exploramos casos onde fazia força extra para que o outro pudesse se poupar de qualquer esforço. Basta confiar.
Uma rede não se faz sozinho. E uma relação de dois não deve ser um espelho, mas sim entender onde podem se complementar.
10/04/18.
Eu agradeço à experiência do desenho com legumes pelo fato de despertar em mim a curiosidade e a vontade de experimento o uso de “tintas alternativas” para se pintar/construir uma imagem artística. Achei interessante observar o pigmento de cada alimento, o formato, a espessura e tudo que interfere na estética do desenho. Gostei de reparar nas milhões de possibilidades que existem apenas usando cenoura e dois tipos de repolho, e como cada pessoa consegue fazer um desenho único e diferente.
Fiquei curioso para saber como o tempo deixa sua marca no desenho, já que nossas tintas são vivas e orgânicas. Naturalmente, a decomposição faz parte da obra e me intrigam os efeitos que ela pode acrescentar.
12/04/18.
Fazer nascer pra que a gente possa se alimentar. Não é matar para comer, é criar para renascer. Essa inversão bateu em mim desgovernada e inesperadamente. Pensar que o alimento é nosso fusível, é o que nos recarrega e reenergiza, e pensar no que a gente comumente chama de chama de comida provoca em mim um tremendo baque. Nossa forma de alimentação sistemática, industrial, assassina e maléfica é completamente ausentada de sentido. Como viemos parar aqui? Nos perdemos por completo.
Comamos vida, não morte. Somos terra e precisamos dela para ser.
19/04/18.
Eu agradeço ao pilão e à moenda por trazer de volta a experiência meditacional do processo do fazer alimentício. É sempre bom relembrar e entender o verdadeiro significado de comer. Nós banalizamos muito essa prática hoje em dia, que acabou se tornando, na nossa sociedade contemporânea, uma mera obrigação vital (dada a real necessidade que temos de comer de fato) ligada a um prazer mundano de sentir gostos que nos agradam e à pressa da vida cotidiana que nos impossibilita de preparar um alimento vivo.
Tenho ficado cada vez mais afetado pelo discurso “se matamos nosso alimento, ele nos matará da mesma forma”. Estamos precisando comer mais vida. Ter mais vida. Relembrar o que é a vida de fato.
03/05/18.
Agradeço ao girassol e ao trigo por serem meu contato verde com a aula e a natureza nessas últimas semanas, pois estava atolado com trabalhos e não consegui vir às ultimas aulas. Regar as plantas e vê-las crescer foi a forma de me manter conectado com o biochip mesmo não estando presente.
Cortar as plantas aqui hoje foi um processo quase terapêutico, que me fez até esquecer o cansaço e as tensões cotidianas.
É bom voltar à aula logo em contato direto com o verde.
08/05/18.
Eu agradeço aos bolinhos de farinha, cenoura, coentro, cebola, côco, limão, pimentão e lentilha pela experiência sempre boa de cortar e picar os legumes, misturá-los e fazer disso alimento através do processo terapêutico de manusear a comida com a mão.
O resultado dos bolinhos é incrível, quando se junta tudo ao azeite e à farinha de telhado.
Hoje estou em baixa criatividade para escrever alguma coisa mais interessante e profunda, então somente agradeço a experiência e o aprendizado, que já são suficientes.
15/05/18.
Eu agradeço ao processo de hoje por afirmar ainda mais na minha cabeça que é sim possível comer bem – saudável e vivo – e comer coisas boas, gostosas e saborosas. O risoto foi umas das melhores coisas que comi nas aulas até aqui. Agradeço à Ana por ter me convencido a ficar e assistir a aula mesmo eu estando doente. Como sugerido, deitei ao sol, fechei os olhos por uns momentos e quando vi já estava completamente imerso e presente na experiência.
Confesso não ter apreciado muito o gosto da sopa de aveia e agrião, mas somente devido ao fato do meu paladar não estar acostumado com esse alimento específico. O sabor me bateu forte e um pouco azedo.
Em geral, ter ficado pra aula gerou em mim um estado melhor do que estava antes. Bom que fiquei.