Gratidões de Andre Buarque
14/03/2019
Eu agradeço à corda de sisal, pelo fato de ter se apresentado de forma inesperada, me gerando certo encabulamento. Ainda mais o fato de que eu aceitei a corda, e fui aceito por ela também. O fato de ter me pendurado e puxado a corda, que me puxou de volta e gerou em mim estabilidade.
Eu também agradeço a corda de sisal pelo fato de, em momentos de confiança, ter me fixado em um ponto do espaço, onde pude acompanhar todas as coisas que aconteceram ao redor de mim. O movimento das folhas, as cores e os insetos.
Pude alterar meu próprio ritmo em contato com a corda de sisal e por isso sou grato. Meus movimentos se tornaram vagarosos e só aconteciam em função de um equilíbrio que não dependia de minhas decisões racionais, era natural.
Mesmo após me despedir da corda de sisal sentia sua fiscalidade, sua presença associada a minha. ao me mover, o fiz com mais cuidado e atenção, observando as evidências do meu movimento pelo espaço.
19/03/2019
Eu agradeço à corda de sisal pelo fato de ter me envolvido com presença e me trazido para uma teia. A corda me mostrou a novidade maravilhosa de me movimentar em trama. Modificou meus passos e a minha postura, gerando em mim surpresa. Enquanto eu me pendurava numa rede eu percebia que o mundo ao meu redor atuava em rede.
A árvore ao meu lado, cada pedaço dela só poderia crescer em relação a todos os outros. A bolinha na ponta do galho se multiplica e cresce, e a raiz sente isso e se acomoda na terra para facilitar o crescimento da árvore toda.
Durante o processo eu tive momentos de maior responsabilidade, a tensão gera o equilíbrio da rede, e o meu peso e posicionamento devem se colocar em função desse equilíbrio. Quando alguém que está conectado a mim se move e modifica o desenho da rede, eu me ajusto a isso para que todos permaneçam em pé, apoiados na teia.
Este processo gerou em mim calma e uma aceitação da minha condição humana, responsável pelas minhas atitudes e ao mesmo tempo um corpo solto no universo.
02/04/2018
Agradeço a Ana Branco no dia dois de abril de dois mil e dezoito, pelo fato de ter dado uma aula profunda sobre o conceito de BioChip, e por contar a história da guerra contra a vida, que a humanidade escolheu para si, e terminou por criar um mundo caótico e doente, no qual estamos vivendo.
Esta compreensão gerou em mim uma responsabilidade pelos meus próprios atos. A minha mudança deve partir de mim e pode englobar todos os seres ao meu redor.
Eu agradeço ao curso BioChip, e à Ana Branco e seus assistentes, e a toda a turma pela experiência das cores vivas, de experimentar a alimentação de uma forma nova.
Poder reduzir um alimento a sua essência mais básica, ao líquido colorido fresco. Pelo fato disso ser possível.
Eu me abri a experiência da abóbora, de quem me alimentei em diferentes tamanhos, texturas e gostos. Descobri que adoro abóbora, e prefiro ela assim do que cozida. Pelo fato de ter provado o suco de repolho e o de beterraba, e depois a grande vitamina de maçã com nossos alimentos coloridos.
Geraram em mim profunda novidade e emoção em poder comer e beber alimentos que me entregam sua história de vida junto com o sabor.
30/04/2019
Hoje, eu agradeço à combinação das cores e sabores do repolho, cenoura e outra cor de repolho.
Eles foram ralados por mim e misturados, amalgamados, triturados. Por fim foram colocados num pote e até quinta vamos comê-los, a expectativa cresce.
O fato de que a espera faz parte da alimentação gera em mim mais respeito pela vida.
23/05/2019
Hoje vou agradecer ao ato de desmistificar a comida. Batata faz parte do universo de comidas cruas. Devemos mudar as coisas às vezes para que nosso cérebro possa aceitá-las de uma nova forma. Muitas vezes criamos formas de enganar nossa percepção e nem percebemos que estamos criando estas formas. Desta vez tentamos fazer isso de forma voluntária, o que gerou em mim maior compreensão sobre minhas própria natureza interpretativa.
11/06/2019
Hoje, numa terça-feira, eu agradeço a natureza da vida, que acha um jeito de transformar tudo que há no mundo. As conchas te transportam para um toque novo e especificamente marinho. Transportam para outro lugar e por essa característica algo mágico existe dentro das conchas. Elas devem ser divinificadas, sacralizadas em rituais rotineiros de meditação e apreciação lenta e gloriosa. Eu gostaria de colocar as conchas na minha vida de novo, elas trazem algo de poesia com elas.
Desenho com frutas:
Primeiramente devo agradecer a Ana Branco por falar um pouco sobre as frutas, sua essência básica, cítrica, “ácida” e neutras. Sobre como estar atento para as misturas das frutas nos extremos dessa divisão. E como podemos relembrar a dificuldade na digestão nessas misturas de frutas. Nós fizemos um desenho vivo, comestível, que me mostrou como é intuitivo desenhar. Não existe um desenho melhor que o outro afinal, todo desenho é uma figura única. Isso gerou em mim alegria e prazer de compartilhar.
Argila
Hoje tenho que agradecer a argila do manguezal, que foi trazida para ser reconhecida por nós em um experimento belíssimo de auto-conhecimento. Eu brincava de argila incessantemente quando era mais novo, criança mesmo no jardim de infância. E até hoje a sensação de algo ocupando a superfície da minha mão, essa sensação de mão suja mesmo, me transporta para um tempo prévio a tudo que me cerca. Antes do celular, antes da minha mortalidade. Esse contato gerou em mim uma saudade do que era possível quando eu não conhecia os meus limites.
Baloeiros
O filme francês visto em sala me fez pensar mais sobre a sociedade em que estamos inseridos. Por que é que na frança existem festivais de balões, e os baloeiros são reconhecidos como artesãos, e aqui no Rio de Janeiro, um lugar de onde essa arte brota naturalmente, estamos perdendo essa cultura para a criminalização da mesma?
Eu penso muito na paixão que as pessoas têm pelos seus objetivos de vida, pelo que faz uma pessoa não conseguir abrir mão daquilo que ela gosta. E concluo que o verdadeiro crime é privar estes artistas de poder explorar seu meio de forma mais segura e digna.
02/05/2019
Eu agradeço, hoje, ao queijo de soja, que foi colorido de amarelo e mudou a minha forma de entender queijo.
A espera para utilizar nosso fermentado foi boa, e a partir dela posso aprender melhor a preparar esta comida e a sacralizar o momento da refeição, que é muito facilmente banalizado hoje em dia.
Houve a mistura dos ingredites picados e eu aprendi que a comida é um desenho.
Este aprendizado causou em mim profunda gratidão.
Hoje é dia de agradecer a areia e ao puro contato que ela oferece. Senti ela correndo pelos meus dedos e amontoando-se sobre ela mesma. Depois desenhei com areia.
Lembro-me de sentir a areia desde a minha infância, e os desenhos que fiz com ela não foram em cima de uma prancha, e sim na imensidão da praia. Aqui era tudo diferente, eu tenho a ilusão de controle, posso controlar a direção do monte. Só até certo ponto, como fica evidente bem rápido.
Isso gerou em mim uma meditação ativa. Eu me movia junto com a areia e perdi a noção de tempo. Fico feliz de forma espacial quando desenho.