Gratidões de Gabriela Meireles
Agradeço à corda de sisal, por ter me tirado do conforto, por ter gerado calor no meu corpo, em especial nas costas e quadril. Agradeço por ela ter me permitido sair do ritmo comum. Acredito que, a partir da corda, criei novos laços e pude me entrelaçar com pessoas desconhecidas.
Agradeço à corda de sisal por ter me permitido viajar e sair dos meus eixos de apoio comum. Agradeço-a por ter me permitido, lembrar da praia e do balanço do mar. A partir da corda, pude estabelecer laços afetivos com pessoas, de maneiras não verborrágicas - algo de difícil costume no nosso dia-a-dia tão corrido. Espero levar comigo a sensação de equilíbrio que a corda gerou em mim.
Agradeço à corda de sisal, pela memória afetiva e sensorial que ela gerou em mim. As marcas da corda ficaram em meu corpo e a minha energia, passou pela corda. A partir de hoje, carrego comigo a textura, o equilíbrio e a pulsação da corda.
Agradeço à cenoura, por ter me ensinado que os alimentos são muito mais complexos e ricos do que eu achava que eram. Nunca tinha pensado em como o corte do alimento influenciaria no gosto que ele transmite. Me deu vontade de brincar e experimentar outros tipos de cortes, para assim, gerar outros gostos. Observar, ao final, a forma criada por cada um me fez perceber também, o quanto somos diferentes e, ao mesmo tempo, complementares.
Agradeço aos moedores, por terem gerado em mim uma nova percepção sobre o ato de cozinhar. Nunca tinha imaginado em ritmar os passos do preparo da comida com o funcionamento do corpo. Buscarei, a partir de agora, na minha rotina pessoal, conectar os meus pensamentos e a minha mente com o preparo de cada alimento.
Agradeço ao aipim, por ter me ensinado um novo canto, por ter me ensinado a meditar enquanto cozinho. Percebi que, por meio da música, pude me concentrar ainda mais no ato de cozinhar. Além disso, agradeço ao aipim e a Ana, por terem gerado em mim a percepção de gratidão sincero aos alimentos. Ralar e cortar um aipim, é uma operação que fazemos em algo vivo, como um médico faz em um paciente. O respeito ao alimento deve ser criado, uma vez que é ele que nos dará prazer e sobrevivência.
Agradeço ao filme, ter me feito questionar sobre a forma como devemos sempre estar abertos a ouvir opiniões diversas e dialogar com elas. Os diálogos apresentados me fizeram pensar muito sobre a política e a forma como temos levado o nosso país. Ao mesmo tempo que me traz tristeza perceber que esse diálogo está se perdendo nas relações interpessoais do nosso dia-a-dia, me traz conforto em ver que ainda existem pessoas, como nós, nas aulas de Biochip que estamos dispostos a experimentar.
Agradeço ao queijo e aos alimentos fermentados por terem me desafiado a provar algo diferente e por terem expandido meus gostos. Quando comecei a fazer o curso de Biochip, acho que, no fundo, eu ainda não acreditava que eu realmente poderia me deliciar com uma comida que é cru, mas esses alimentos me mostraram que eu estava errada. Depois dessa aula, me senti mais confiante para provar comidas diferentes e acho que confiei mais em mim para isso. Estou animada e feliz com essa nova descoberta.
Agradeço ao filme de hoje, por ter feito eu me questionar a respeito do consumo da carne. Infelizmente, a carne ainda é um alimento muito presente na minha alimentação e percebo que eu ainda tenho uma dependência desse tipo de alimento. No entanto, as informações que o filme trouxe me fizeram realmente questionar o fato de parar de comer carne. Pensei em começar as poucos e então, intensificar com o tempo.
Agradeço às cores, por terem feito eu articular diretamente a pintura com o alimento. Por meio da cor e do sabor das cores, entendi que o ato de cozinhar e arte estão, mesmo na prática, extremamente ligados. Com os meus dedos sujos de cores, eu desenhei no papel. Eu pintei algo com as cores de um alimento - isso é fascinante! As cores tornaram meu organismo mais rico e me permitiram brincar, desenhar e pintar.
Agradeço ao filme por ter gerado um pensamento reflexivo, em mim, a respeito do mundo e do ambiente ao qual estamos inseridos. Percebo, através do filme, a necessidade de conexão com o alimento, com tudo o que é vivo e também com o que é simples.
Agradeço às cores verdes por terem gerado em mim uma identificação pessoal com os alimentos. Minha cor preferida é verde musgo e, ao ver a cor do girassol, me identifiquei com o alimento. Eu me vi no girassol. Além disso, ao experimentar o trigo, pude pela primeira vez, sentir a diferença das zonas de paladares existentes em nossa língua. No instante que eu engoli o trigo, senti um gosto amargo, mas segundos depois, um gosto muito doce. Experiência incrível.
Fogueira - Agradeço à fogueira pelo calor que produziu em mim em um dia tão frio. E quando falo sobre calor, não me refiro, necessariamente, ao corpo físico. A fogueira, pra mim, é um lugar do coletivo, da união, de relações. Das vezes que estive em volta de uma fogueira, sempre haviam pessoas comigo, perto de mim, ao meu lado, na minha frente. A fogueira está sempre acompanhada da roda, e é por isso que se torna um lugar de convívio.
Balões - Agradeço à aula de hoje, por ter expandido meu olhar para a cultura brasileira - fazendo eu enxergar mais um elemento que nos compõe e nos forma como povo. A prática de soltar balões, por ser distante do meu dia-a-dia, sempre foi desconhecida por mim. Por conta disso, como muitos, eu achava perigoso. Ver o filme e ter podido participar de uma roda de conversa com uma pessoa imersa nesse mundo, foi uma oportunidade de desmistificar a cultura do balão e humanizar essa prática que muito tem a ver com a nossa própria identidade.
Conchas - Comecei tocando nas conchas, antes de observá-las. Queria sentir a sensação ao tocá-las, apertá-las. Entendo a mão como uma grande transmissora de afeto e energia, por isso, inicialmente quis buscar um contato com as conchas, por meio de minhas mãos - que tanto falam sobre mim. Percebi, de cara, duas coisas: eu transmiti meu calor a elas e pude perceber o quanto eram diferentes umas das outras (tamanho, cor, peso, textura). Entendo que cada concha é uma e, a partir disso, busquei perceber como era a sensação de cada uma delas, separadamente. Esfreguei, uma após uma, em minhas mãos. Após a segunda concha, percebi que, para cada uma delas, eu fazia um movimento diferente, depositava um ritmo diferente, uma intensão. Entendi que cada uma delas tem uma personalidade - e por isso, se manifestam, falam, andam, tocam de maneiras diferentes. Fiquei curiosa, nesse momento, em saber qual a memória e história de cada uma delas. Quantos anos estiveram no mar? Quantos anos têm de idade? São brasileiras, como eu? Ao final do exercício, percebi minhas mãos ásperas. Sei que são as marcas das conchas - as memórias que elas deixaram em mim.
Argila - Agradeço à argila, por ter me tirado do dia-a-dia corrido e me proporcionado um momento de criação. Trabalhar com cerâmica e argila sempre foi um lugar de prazer para mim. Mais do que criar formas, na argila depositamos a energia de nossas mãos - e por meio delas criamos formas. A diversidade de formas criadas por cada um, nos mostra o quando somos diferentes - e o quanto nossas mãos são capazes de criar.
Canjica - Agradeço à canjica por ter me feito gostar de canjica - e assim, ter expandido meus gostos nos alimentos. Agradeço ao Biochip, por ter gerado em mim reflexões sobre a vida, sobre meu corpo, sobre mim. Ao longo desse processo, expandi minha percepção a respeito do meu funcionamento e me entendi mais como um sistema uno. Levo, com muita gratidão, os ensinamentos que tive.
Ana, agradeço profundamente, todos os ensinamentos que você nos passou. Não sei se você entende a dimensão que é estar presente em uma aula sua e ter a oportunidade de aprender com você - ainda mais pra jovens, como eu. Desde a primeira aula, fiquei encantada com a sua trajetória e pessoa. Você fala como quem recita uma poesia, enxerga a vida sobre outra ótica, tem fé que podemos chegar em um lugar melhor. Ter tido a oportunidade desse convívio - por mais breve que tenha sido - me modificou. Levarei comigo seus ensinamentos e buscarei passá-los para outras pessoas, assim você fez conosco. Ana, agradeço a você, de coração, pela paciência e dedicação com Biochip. Sua vontade em fazer diferente e em impactar pessoas, me move. Biochip é lindo. Sua tenda é uma alegria e, sua história, muito inspiradora! Grande beijo!