Gratidões da Nina Berman Schatovsky

 

Eu agradeço à corda de sisal, pelo fato de poder ter uma experiência de confiar e entrar em harmonia com pessoas que não conheço. Que gerou em mim uma abertura maior - mesmo que momentânea - ao olho. Agradeço também pelo momento que enriquece os dias ao mostrar tanto com tanta simplicidade. Outro agradecimento à corda de sisal é por ter proporcionado essa brincadeira dentro da PUC-Rio, permitindo que o riso e os outros se sobreponham à vergonha de estar brincando no meio da universidade. (20/08/2019)

 

Eu agradeço á corda de sisal, pelo fato de, mais uma vez, ter me proporcionado uma experiência de troca, relaxamento e conexão com meu equilíbrio e o dos outros; pelo fato de ter podido segurar, cuidar e mostrar algo diferente ao outro. Que gerou em mim uma calma e paz que permitiram uma descontração e contemplação desse nosso encontro. (22/08/2019)

 

Agradeço à cenoura, pelo fato de ela ceder a si para que nós pudéssemos aproveitar, aprender e nos conectar com a terra e o ar.. Que gerou em mim uma experiência de respeito, contato e descontração. Agradeço pela sua pele, seu miolo, seu cheiro e sua água. (27/08/2019)

 

Eu agradeço à corda de rami, pelo fato de ter enroscado, segurado, tensionado, rodado, virado, torcido e equilibrado. Que gerou em mim uma descoberta de formas e formatos que meu corpo pode ter e me deu conhecimento sobre o quanto se pude puxar e o quanto se pode ceder, respeitando os limites das cordas e dos amarrados. (29/08/2019)

 

Eu agradeço ao repolho roxo, ao repolho verde e à cenoura, pelo fato de termos podido experimentar com suas cores. Que gerou em mim a curiosidade de interagir com as cores e as vivências de todos os alimentos enquanto formas vivas e formas de vida (03/09/2019)

 

Eu agradeço à cenoura, ao repolho, ao repolho roxo, à cebola, à maçã, à soja, à cúrcuma, ao alho, ao azeite, ao sal e ao aipo, pelo fato de eles terem se transformado, se deixado mudar sua forma, cor e sabor para que nós pudéssemos aproveitar, degustar, experimentar e reinventar a nossa percepção de seus gostos. Que gerou em mim uma reflexão acerca das possibilidades de mudança física e afetiva que a comida pode ter. (05/09/2019)

 

Eu agradeço ao filme "Ponto de Mutação", pelo fato de ter exposto diferentes ideias sobre a sistemicidade da vida e sua (não) mecânica. A conversa das personagens é como uma dança de pontos de vista que se tangenciam, se perpassam e se contrapõe. Que gerou em mim o desejo de trocar pontos de vista, agregar ideias e ter meus pensamentos questionados. Além de ter deixado o desejo de ler o livro homônimo no qual o filme foi baseado. (10/09/2019)

 

Não encontrei o meu agradecimento do dia 12/09, porém me lembro que fui a aula.. :(

 

Eu agradeço à aveia, ao amendoim, ao alho, à cúrcuma, ao moedor e ao pilão, pelo fato de, juntos, se transformarem em uma massa de pão. Que gerou em mim uma curiosidade em relação às diferentes maneiras com as quais podemos pegar algo conhecido e fazê-lo de outra maneira. Por proporcionarem um conhecimento que deve ser universal da vida e presente na rotina. (17/09/2019)

 

Eu agradeço ao pão e à guacamole, pelo fato de, combinados, ficarem deliciosos. Que gerou em mim uma felicidade e satisfação que só alcançada com gosto de afeto e amparo, feita com carinho e sentimentos bons.
Agradeço ao filme "Camelos também choram", pelo fato de as personagens se preocuparem com a natureza e os espíritos como uma manifestação divina e o respeito à eles e ao animal. Que gerou em mim um sentimento de representatividade das minhas crenças. Uma contemplação. (19/09/2019)

 

Eu agradeço ao repolho, à abóbora, à beterraba, ao inhame e à maçã, pelo fato de poderem se transformar nas suas cores para termos a oportunidade e o privilégio de podermos experimentá-los. Que gerou em mim o desejo de transformação. Me ajudando cada dia mais, a entender sobre como é simples transformar e mudar. E sobre como quando você está pronto e aberto para a transformação, a mistura, o contato e a troca fazem com que cada parte se torne uma parte melhor do todo. (24/09/2019)

 

Eu agradeço à mandioca, à lentilha, à cebola roxa, à cebolinha, ao limão galego, ao alho, à pimenta, ao pimentão, ao coentro, ao sal e ao azeite, pelo fato de terem se transformado em um só, entre si e conosco, no processo de acariciar a comida, sentir a comida e prová-la com os sentidos. Que gerou em mim um sentimento de descoberta. O que sempre me toca e me surpreende é a possibilidade de transformação, eu sou muito grata por essa luz, por ser sempre lembrada que, quando se acredita no potencial de algo ou alguém, é quando se cria a possibilidade de mudança, de transformação e de surpresa. 
Importante citar que o limão galego me abraçou pela boca e dançou com o seu sabor em lugares que não estou nem acostumada - foi uma surpresa muito feliz. (03/10/2019)

 

Eu agradeço à natureza, ao Sítio São Cosme e Damião, ao Paulo e a Virgínia e a todos os orgânicos que pudemos colher e comer lá. Pelo fato de terem se disposto a dar um pouco de seu tempo e atenção para que pudéssemos ouvir, ver, cheirar, sentir, provar a comida orgânica e viva. Pela oportunidade de (pela primeira vez) eu ter podido andar em uma horta colhendo com minhas próprias mãos, lavando e preparando comida para oferecer aos outros e por ter podido aceitar o que me ofereceram. Que gerou em mim uma reafirmação de como eu quero que meu futuro seja. Mesmo entendendo que ainda não posso mudar minha vida assim, pude ouvir de alguém que vive essa história sobre como é possível. E gerou em mim uma experiência e felicidade inenarráveis, senti uma plenitude tão pura e livre de vícios e toxicidades (apesar de achar que poderia facilmente me "viciar" em colher e comer orgânicos direto na horta :) ). (06/10/2019)

 

Eu agradeço ao agrião, ao alho poró, ao brócolis, à batata, ao pimentão, à aveia, à maçã, à panela de Vitória, à água, ao sal, ao azeite e ao limão, pelo fato de proporcionarem uma comida quentinha e viva, para acalentar o corpo e o espírito. Que gerou em mim uma nova animação - a descoberta da possibilidade de mudar os hábitos sem fazer uma "mudança radical" - existe um jeito de comer alimento vivo sem ser segundo um esteriótipo de pessoa que não pode ou não tolera a comida temperada e quentinha. 
Agradeço também pela oportunidade de comer uma das comidas mais gostosas que já comi - pelo sabor, pela oportunidade de ter feito com as mão e por saber que são vivos. (08/10/2019)

 

Eu agradeço às sementes de girassol e do trigo, que germinaram e cresceram, pelo fato de estarem sendo a vida acontecendo bem diante dos meus olhos. Agradeço à couve, à maçã, à hortelã, ao trigo e ao girassol, pelo fato de terem se tornado sucos verdes vivos que complementam nosso sangue. Que gerou em mim mais uma experiência super agradável e mais conhecimento sobre como nutrir meu corpo, alma e mente (e ainda me deliciar com sucos inesperadamente deliciosos). (17/10/2019)

 

Eu agradeço ao filme "A carne é fraca", pelo fato de ser um manifesto e uma luta a favor dos "mais fracos", dos que são subjugados ao homem sem chance de defesa. Que gera em mim um desgosto com os costumes predatórios e injustos da nossa sociedade e me faz querer mudar, lutar e desistir. O filme gera em mim sentimentos negativos que me colocam em movimento, o que, no final das contas, me faz sentir coisas boas. Saber que o assunto é algo tocante a mim, me lembra da minha empatia e humanidade.

Eu agradeço à todos os restos que se transformam em matéria de compostagem, aos insetos que vivem na terra e ajudam o resto à se transformar e a terra fértil que é produzida por essa relação. Pelo fato de me encorajarem a não temer nenhuma mudança - a morte é um dos maiores medos do sujeito médio e ter certeza que ela é só mais uma volta no ciclo é algo que acelera o coração ao mesmo tempo que o tranquiliza. Que gerou em mim mais uma certeza de que as coisas que eu decido para mim só importam agora e que nada, nenhum erro ou vacilo é tão fatal que vai fazer com que eu não possa tornar algo fértil. Saber que a efemeridade das coisas não é só algo que condena, mas algo que também liberta é muito importante para ser capaz de viver uma vida e não sobreviver à uma existência. E também fiquei contente por poder apreciar os animais que normalmente me dão nervosinho e são tão desvalorizados que ninguém os agradece por permitir que nosso planeta ainda consiga se renovar e possibilitar a vida. (24/10/2019)

 

Eu agradeço à cevadinha, ao feno grego, à cenoura, ao aipo, à maçã, ao azeite, ao sal e ao limão. Pelo fato de terem composto uma comida muito boa que me gerou muita alegria em estar presente naquele momento. (29/10/2019)

 

Eu agradeço às conchas e aos cacos de vidros. Pelo fato de terem aguardado o seu momento de interagir sem machucar, se lapidando durante quanto eles precisaram até que deixassem de possuir a vontade de machucar alguém. Que gerou em mim uma compreensão do tempo e um respeito à ele que nunca precisei ter. É uma reflexão que me marca pois eu conheço minha ansiedade em resolver algumas questões que ainda estão precisando de tempo para deixarem de ser lâminas, então acabo me machucando e machucando aos outros. É fácil falar de respeito ao tempo e ao momento sem parar para refletir no esforço que isso necessita. Hoje eu gosto muito de passar a mão nas conchas que vejo na praia e tento conhecer sua história e seu tempo. (31/10/2019)

 

Eu agradeço à argila do manguezal. Pelo fato de estar tão disposta a ser movida e transformada que é quase difícil fazer uma escultura com ela. Que gerou em mim um sentimento de compreensão maior do que o tempo pode fazer - saber que a argila é composta por várias partes muito pequenas da terra mostra que tudo é possível quando se aguarda seu tempo e se está disposto a se misturar com os outros que hoje são como você, mas não necessariamente tem a mesma origem (e isso já nem importa mais). (05/11/2019)

 

Eu agradeço ao amendoim, às passas, à canela, ao limão, à jaca, à banana, ao abacate e ao mamão. Pelo fato de terem me mostrado uma cultura diferente da minha - tanto por serem feitas para celebrar o Natal, quanto por serem tortas doces vivas. Que gerou em mim uma felicidade de experimentar e estar aberta à conhecer as novidades, ao que é diferente do que meu mas na verdade é igual. (19/11/2019)

 

Eu agradeço aos vídeos "Dança das sementes", "Agrossilvicultura" e "Horta brasileira". Na verdade, eu acabei cochilando durante o segundo e achei melhor mudar o meu agradecimento. Eu agradeço à Ana Branco, pela sua compreensão, por entender que as vezes os alunos podem estar cansados e não fazer um juízo de valor que me faria me sentir muito culpada por alguma coisa que meu corpo e mente precisavam. (21/11/2019)

 

Eu agradeço à todos meus colegas de classe e seus convidados, à toda comida que foi utilizada, à troca e ao carinho que todos levaram para celebrarmos. Pelo fato de terem aproveitado o semestre, absorvido o conhecimento, as experiências e aos sentimentos e colocado na comida que foi oferecida à todos. Que gerou em mim um sentimento de completude, de sinceridade e de afeto, me fez me sentir parte de um grupo que não tinha nenhum motivo fora sua própria vontade de estar junto, trocando e aprendendo. Agradeço pelas comidas que estavam deliciosas e pelo tempo que todos investiram em prepará-la. (23/11/2019)

 

Eu agradeço à Ana Branco e à oportunidade de ter convivido com o biochip. Pelo fato de terem me ensinado tanto, me surpreendido, me mostrado coisas novas e inesperadas, por ter sido um pequeno oásis de paz, de escuta e empatia. Que gerou em mim um sentimento de nostalgia, um sentimento de saudade, ter o conhecimento de que esse momento me fará falta no futuro - e falta no sentido de ter para sempre um espaço em mim que cabe a experiência, o momento. Agradeço também por ter tido a oportunidade de me colocar no meu lugar como alguém que ainda pode aprender tanto, que não estou nem perto de cuidar de mim, dos outros ou do mundo tanto quanto posso. E agradeço pela compreensão em todas as vezes que o exercício não chegou no esperado e eu fui recebida com um abraço caloroso. É muito bom ter certeza que o sucesso não é o objetivo final e que minha frustração tem data de validade - ela dura até o momento de eu conseguir dar a volta por cima e as vezes é difícil fazer isso sozinha. Termino esse curso com muitos sentimentos bonitos e germinados, muitas ideias bonitas e germinadas e muitas experiências bonitas e germinadas que vão continuar a crescer porque eu pretendo cuidar deles e continuar germinando os próximos que cruzarem meu caminho.

 

Nenhum agradecimento poderia ser suficiente, mas mesmo assim,
Muito obrigada