Gratidões de Ciro Duprat

 

Apresentação da pesquisa Convivência com o Biochip 2020.1

Eu agradeço a criatividade da terra pelo fato de que, através do PH básico, criou sementes, flores, frutos que gerou em mim a felicidade pela oportunidade de comer pães e queijos a partir desses produtos da natureza.

Eu agradeço a professora Ana pelo fato de que ela explicou por que o nome da matéria é Biochip, o que gerou em mim a surpresa em saber que, dentro do computador, existe um chip envolvido por uma molécula de água para que o silício, isso significa que dentro de todo corpo existe, vivo ou não, existe silício dentro de molécula de água. Por meio desse armazenamento, todos os seres podem se comunicar.

Eu agradeço novamente a professora pelo fato de que eu não sabia que o nosso organismo é viciado na acidez do sangue, isso é, o corpo somente sente que está alimentado ao ingerir comidas que elevam os níveis ácidos no organismo, o que gerou em mim a vontade de comer, cada vez menos, alimentos cozidos.

Eu agradeço ao MST pelo fato de que é o único movimento no mundo o qual produz semente nativa, o que gera em mim a esperança de que o Brasil, país que mais usa agrotóxicos no mundo, ainda se conscientizará sobre o amplio nutricional daquilo que come.

Gerou em mim o aprendizado de que o cozimento é uma herança de guerra, visto que é uma técnica antiga a qual permitiu que os alimentos não tivessem mau cheiro muitos dias depois de preparados para atender aqueles que estavam na frente da batalha pela conquista de terras cada vez mais longe dos castelos.

 

Desenho de Investigação com a Cenoura

Eu agradeço a cenoura pelo fato de unir dois universos diferentes, terra e céu, cujo tempo subterrâneo marca anéis no corpo do vegetal. Gerou em mim a felicidade de descobrir, no alimento, múltiplas funções e estas driblarem a percepção arcaica sobre determinadas comidas: a parte marrom, conexão entre “terra e céu”, rica em nutrientes; o corte e o laçado da cenoura em lâminas; a remoção da parte interna comparado à argola exterior de sabor diferente; o corte em formato de pétalas, o que estimula comer a cenoura como snack; etc. Eu agradeço as sementes pelo fato da germinação em intervalos de oito horas, dentro e fora da água, responsável pela biogênese, potencializar seu valor nutritivo, o que gerou a vontade de me alimentar da potência divina, ou seja, a semente no estado de desencadeio do processo germinativo.

 

Desenho de Investigação com a Fermentação

Eu agradeço a cenoura, ao repolho roxo e ao branco pelo fato de iniciarem a fermentação no pote de vidro usado no experimento, o que gerou em mim o conhecimento de um ecossistema alimentar que facilita a digestão e o encantamento com as cores da terra, observado, ao longo do dia, no desenhar do roxo sobre o branco. Eu agradeço a fermentação pelo fato de que esse processo permite a pré digestão de certos alimentos, facilitando a absorção pelos doentes ou idosos.

 

Desenho de Investigação com Fermentação

Eu agradeço ao queijo pelo fato de ter sido produzido por mim através do processo de fermentação do feijão de soja, o que gerou o entusiasmo em criar algo comestível e gostoso a partir de sementes, algo que eu nunca experimentei. Após ser temperado com cebola, alho e orégano, misturei o queijo com tomate, pimentão vermelho, sal, limão e mais cebola. Eu agradeço a fermentação por ser uma das diversas ferramentas possíveis de sacralizar o que comer, o que gerou em mim a reflexão acerca do que eu coloco dentro do meu organismo, através de todos os sentidos do corpo, o que é uma reeducação alimentar que afeta todos os sentidos da vida.

 

Desenho de Investigação com Pigmentos Vivos

Eu agradeço ao sol pelo fato de criar as cores nos alimentos por meio da estrutura molecular de cada um que retém, por exemplo, cor roxa, no caso do repolho roxo, ou laranja, no caso da abóbora, o que gerou em mim o aprendizado de que a forma interfere diretamente na cor, portanto, na experiência, provei o sabor das cores. Eu agradeço a abóbora e ao inhame coados pelo fato de o suco misturado ter gerado em mim um sabor incrível nunca experimentado. Eu agradeço a beterraba pelo fato de a cor fúcsia poder ser aplicada no papel, assim como a abobora (no entanto, o tom laranja se tornou esverdeado, enquanto que a fúcsia da beterraba continuou vigorante), o que gerou uma nova atividade para fazer com a minha irmã mais nova de sete anos, além de ser um exercício palatável e educativo.

 

Desenho de investigação com a desidratação de sementes germinadas

Eu agradeço à semente pelo fato de ser um entendimento da sacralidade da vida que gerou em mim um processo meditativo ao descascá-las. Eu agradeço às sementes de aveia e amendoim pelo fato de que, moídas, formaram uma massa que secou ao sol e formou um pão delicioso, o qual pude experimentar com o conhecimento adquirido nas aulas passadas, o queijo, que gerou em mim o despertar de uma visão acerca da minha alimentação, isto é, a partir de receitas simples, posso comer comidas deliciosas e saudáveis, uma experiência que une trabalho manual próprio à sabores nunca pensados antes. Eu agradeço por essa experiência pelo fato de que nunca pensei em fazer pão a partir de sementes moídas, somado ao queijo, produto de outros testes orientados pelas aulas, o que gerou em mim a felicidade de descobrir nas comidas mais simples, como sementes, a possibilidade de elaborar uma receita, a exemplo do sanduíche de pão com queijo, feitos a partir dos frutos da terra. Eu agradeço a professora Ana pelo fato de que eu não sabia que o cozimento dos alimentos eleva o ph e, por conseguinte, a produção de ácido no organismo, o que gerou em mim a satisfação de comer alimentos sem derivados animais, como ovo e leite, e sem fogo.

 

Desenho de Investigação com a desidratação de raízes

Eu agradeço ao aipim, à lentilha, à cebola e ao pimentão pelo fato de que misturada a farinha de aipim com a lentilha germinada, com a cebola roxa e o pimentão vermelho, formaram um bolo que se transformou no meu lanche do dia. Na minha opinião, foi uma das experiências mais saborosas porque já gosto bastante de aipim, cebola e pimentão, além disso, o roxo e o vermelho coloriram o branco, o que gerou em mim a redescoberta de que o ser humano precisa de pouco para viver, seja para fazer arte, a exemplo do desenho feito segundo sugestão da professora Ana, tanto para alimentação saudável, a exemplo do lanche que fiz por volta das 15:30h, o qual me satisfez até a próxima refeição. Esse processo gerou em mim a sensação de que meu organismo está mais sensibilizado, visto que cada poro e orifício do corpo deve ser respeitado por aquilo que é ingerido. Como todxs na minha casa gostam de amendoim, aproveitei para germinar a semente e misturei à uva passa dentro do liquidificador. Essa etapa foi nostálgica porque me lembrou um doce de ameixa que eu costumava comer quando era pequeno nas casas de festa em aniversário de amigos, o gostou ficou fantástico e doce!

 

Desenho de Investigação com Alteração de Temperatura

Eu agradeço ao alho poro e a aveia germinada, batidos no liquidificador com água, pelo fato de que estavam em ordem para virar um creme. Agradeço ao alho comum e ao pimentão vermelho pelo fato de temperarem o creme prestes a ir para o fogo. Usei uma panela de moqueca, feita de barro, parar aquecer a mistura até virar sopa. Na minha opinião, essa foi a experiência mais inesperada e diferente e foi até engraçado sentir até quando minha mão aguentava o calor da panela, enquanto misturava, antes de ser sopa.

 

Desenho de investigação com clorofila

Observei a quantidade de líquido expelido pela chicória, couve e talo, hortelã e agrião. De primeira pude apontar como a folha da chicória possui bastante líquido. O processo foi divido em cortar em pedaços bem pequenos as folhas, pilar dentro de um pote (usei uma cumbuca de madeira que minha família usa para amassar frutas) e extrair o líquido com um pano. Eu agradeço por essa experiência pelo fato de que foi possível observar, na prática, como a organização molecular desses alimentos interfere no design, ou seja, com as folhas da couve flor, por exemplo, o alimento deixa passar todas as cores e fixa o verde, desse modo, a forma é ligada diretamente a cor. A clorofila ressalta o verde escuro intenso nessa folha. A aplicação desses líquidos no papel foi feita após todas as folhas serem espremidas pelo pano, desse modo, observei que o líquido feito com o talo e folhas da couve flor ficou mais claro, a cor da hortelã ficou intensa, parecida com a cor da chicória e o agrião gerou um verde de tom médio para escuro porque também possui bastante clorofila. Essa experiência serviu para ressignificar a minha visão sobre esses alimentos, distantes da dieta de rotina que tenho, pois novamente, é exposto pelas aulas como as comidas são aproveitáveis em diferentes sentidos, além disso, em comparação com o experimento do repolho com a abóbora, observei como a cor verde das folhas evaporou mais rápido do que o roxo e laranja dos alimentos previamente testados.

 

Desenho de investigação com a compostagem de terra

Eu agradeço à compostagem pelo fato de desconstruir a invalidade dos alimentos consumidos como sementes, cascas de fruta e grãos, a partir dessa perspectiva, a morte não é vista como o fim de um ciclo, e sim como renovação de uma etapa circunscrita nele. Esse ponto de vista é estendido até, por exemplo, às folhas secas que cobrem a terra no recipiente, as quais retém umidade que mantém o ecossistema vivo, e que podem ser usadas para criar uma composteira. Meu pai tem um quintal em casa onde há espaço para o plantio diverso, onde podemos começar o processo de compostagem, em prol da troca entre animal e planta, exemplificado pelas minhocas/larvas que perdem tamanho à medida que o tempo progride, assim, quando a terra estiver pronta, esses animais serão invisíveis porque se tornaram microrganismos. Essa aula gerou em mim a motivação pela alcalinização do meu corpo, em contrapartida à acidificação estimulada por comer, em excesso, alimentos que aumentam o ph do organismo. Após assistir a aula, iniciei na minha casa, onde moro com mãe e irmã, uma composteira com resíduos de sucos e as cascas de frutas, misturas à terra, após o consumo da família.

 

Desenho de investigação com a textura para modelagem

Eu agradeço à semente de amendoim e ao coco pelo fato de que formam a massa modeladora da experiência, uma “argila branca” que é colorida pelas cores dos legumes e verduras como couve, abóbora, beterraba e repolho, o que gerou em mim a diversão de colorir um doce com esses tipos de alimentos. Descasquei o amendoim com o apoio de uma tábua de carne rugosa. Por sorte, meu irmão sabe abrir coco e retirar a goma, então ele me ajudou inclusive a descascar. O processo com os legumes e verduras já tinha sido realizado anteriormente, o que consiste em processar e coar, em ordem para criar as cores que colorirão a argila formada pelo amendoim e o coco. Como resultado, o verde, laranja e fúcsia da couve, abóbora e beterraba foram os pigmentos mais fortes. O pigmento do repolho não foi suficiente para ter cor forte, o resultado foi a cor lilás. Eu agradeço à essa experiência pelo fato de que foi proporcionada uma receita de doce, natural e saudável, por meio de uma combinação de ingredientes que eu adoro, amendoim e coco, o que gerou em mim o estímulo por abandonar o consumo pelas marcas de grande escala, que baseiam sua produção em trabalho escravo e infantil. Essa experiência foi simples e surpreendente, sobretudo, por comer um doce com a cor incrível da beterraba.

 

Desenho de Investigação com Manutenção de Temperatura

O passo a passo que compreende as atividades da manutenção de temperatura da semente de cevadinha foi dado desse modo: comprei a semente de cevadinha e germinei entre intervalos de 8 horas na água e no ar; enchi uma panela de barro com água e aqueci até uma temperatura suportada pela minha mão; ao atingir a temperatura proferida, embrulhei a panela em folhas de jornal e embrulhei novamente em uma manta; no dia seguinte, após a panela esfriar ao longo da noite, a semente acordou um pouco mais inchada; ralei uma cenoura para colorir o prato e uma maçã para adocica-lo; processei as sementes com um dente de alho até formar um creme que driblou minha percepção, parece que eu comi um purê temperado, o que gerou em mim o espanto precioso que vai valer por muito tempo; misturei todos os ingredientes e esquentei mais uma vez para comer. Eu agradeço o fato de ter feito um prato na aula 17ª, o que gerou em mim uma produção de conhecimento, devido ao cruzamento de informações que me surpreenderam, e uma vontade por buscar novas surpresas todos os dias. Ainda que não tenha sido o meu prato preferido, foi uma experiência encantadora porque me lembrou as comidas das épocas de celebração como aniversário e natal, datas importantes para mim porque estou com a minha família, portanto, foi uma sensação muito boa.

 

Reproduzindo sabores comemorativos de Festa Junina

Nessa aula, fizemos a canjica de banana. A receita requer amendoim e eu ainda tinha um restante da aula 16, o que foi ótimo. Usei a mesma tábua rugosa para descascá-lo. Fatiei 2 bananas d’água e processei, formando um creme. O coco ralado que cobre a receita eu já tinha em casa. Por cima do creme, coloquei o amendoim, o coco em cima do amendoim e adicionei canela. Eu agradeço por essa aula pelo fato de que recriou uma das principais sobremesas de festa junina, a canjica, originalmente feita com milho branco. Nessa aula, fizemos a canjica com banana, o gosto não ficou parecido, mas estava delicioso! O que gerou em mim a ideia de celebrar a festa junina apenas com as pessoas que moram comigo, afinal é uma comemoração que eu e minha família adoramos, portanto, ao ver a proposta da canjica, conversei com todos aqui para fazermos essa festa junina pequena. A canjica de milho foi a sobremesa e todos gostaram!

OBS.: as fotos e gratidões das atividades com a mandala foram enviadas por email previamente.

 

CONCLUSÃO:

Eu agradeço pelo curso de Biochip, ministrado pela professora Ana Branco, pelo fato de que suas aulas transcendem o espaço letivo e fornecem ensinamentos de vida pela revisão de si a partir de produtos da terra, afinal, “você é o que você come”. Conceitos de arte e design são transmitidos por meio da análise dos universos contidos nos alimentos utilizados em aula, os quais geraram em mim a gratidão por ressignifica-los para além de verduras, legumes e sementes. São alimentos que proporcionam experiências reflexivas sobre as condutas de cada um e, sobretudo, experiências com as pessoas que amamos, como foi com minha irmã gêmea e eu na festa da prova. Na prova, eu fiz um queijo utilizando semente de soja germinada, algo que ninguém na minha casa havia provado antes, especialmente feito por um de nós. Minha irmã tem uma rotina inversa à minha porque ela sai para trabalhar às quatro da manhã e dorme ao voltar, portanto não conseguimos passar muito tempo juntos e o curso de Biochip se transformou numa oportunidade de investimento nesse laço. Outro ponto a ser notado é que minha irmã é vegana, o que trouxe algumas dificuldades para minha mãe e minha tia em conciliar dois tipos diferentes de regime, logo as receitas ensinadas pela professora Ana foram mais que úteis em proporcionar momentos de ligação entre família, quando todos se reuniram na cozinha para tentar fazer as receitas. Eu agradeço a professora Ana pela disposição de continuar seu curso mesmo na plataforma online, o que gerou em mim uma importância reforçada à natureza, uma nova perspectiva sobre a vida e, acima de tudo, como eu a conduzo.