Desenho vivo Desenho vivo
voltar para página principal

voltar para página principal
 

Ministério da Saúde - Creche Albert Sabin

 

AGOSTO - Dia 24 das 10h as 12h

 

 

Relatórios de Gratidões

 

Socorro Calhau

Encontros, desencontros, fé e escolhas...

Socorro Calhau (24/08/2006)

 

Hoje cheguei ao Galpão às 7 horas, pois havia germinado a aveia em casa e combinado com o Laza de fazermos juntos a massinha para a oficina. Eu e Laza chegamos praticamente juntos e começamos a moer a aveia e a pintar a massinha enquanto o restante dos feirantes ia chegando aos poucos. Eu esperava por Marcio Breda, olhava a porta, desejava a sua presença, estava com saudades e preocupada com ele desde a última feirinha. Entre um moer e outro, eu ia dando e recebendo beijos e abraços saudosos e apertados nos companheiros da feira que chegavam alegres, em bando, como pássaros. Laza, experiente na tarefa de fazer a massinha, me orientou passo a passo, com paciância e alegria. Ele havia preparado o urucum e trazido a curcuma e demais temperos. Eu levei alho, cebola e beterraba, além da aveia. Em duas horas tudo estava praticamente pronto, faltando apenas alguns detalhes de tempero, arrumação e limpeza do material. Ana chegou e me abraçou apertado, com muito amor, demoradamente. Retribui, seu amor me aqueceu. Minutos depois, Ana pegou o Laza para montagem da feirinha e, em seu lugar, deixou Ines Braconnot e suas estrelinhas no sorriso. Achei ótimo, pois o trabalho já havia terminado, mas com sorte, uma das estrelinhas do seu sorriso poderia cair na massinha e colocar nela um brilho e um sabor muito especiais. As crianças iriam adorar!

Arrumei o carrinho e subi, já eram 9:30. No caminho avistei meu velho e querido amigo e companheiro de trabalho, Carmelo, que ia para o NEAd, nosso núcleo, para uma reunião na qual eu deveria estar presente, mas que eu tinha escolhido não ir, uma vez que havia avisado que não poderia estar porque tinha assumido um compromisso antes da marcação desse encontro. Pensei em dar a volta, evitar o encontro, mas resolvi não fazer isso. Temi que ele ficasse chateado, mas fui ao encontro dele e ele me cumprimentou, assim, meio sem jeito, e eu também. Consultei meu coração para ver se havia alguma dúvida, só encontrei certeza, a certeza da fé e o conforto de poder ser verdadeira. Segui adiante, confiante.

Chegando lá comecei a montar a sala de aula com o Laza. Marcio Breda não chegava e eu comentava com Laza o meu desejo que ele chegasse logo e que viesse alegre, sem a tristeza da semana passada, assim como ele foi para Cotia, feliz e cheio de vida e esperança. Não como ele voltou de Cotia! Laza falou: “Chama que ele vem!” e continuou dizendo, “no outro dia, uma criança queria ver os miquinhos, não havia nenhum, de repente ouvi um grito, era ele chegando.” Comecei a rezar enquanto montava as mesas e bancos querendo muito que minhas orações chegassem até o coração do Marcio Breda e dissessem a ele tudo o que eu estava sentindo naquele momento, ou seja, queria dizer sem falar, através do meu coração e do meu amor, que eu desejava muito que ele encontrasse a alegria e, com ela, também pudesse obter respostas para a sua caminhada, e percebesse, de vez, que a doença é uma ilusão que nos afasta da realidade. Desejei, também, que esse encontro com a esperança, colocasse, no rosto dele, aquele sorriso lindo e o fizesse vir brincar conosco e misturar suas estrelinhas às nossas inaugurando uma outra forma de (re)começar a viver feliz essa vida linda que eu amo tanto. Queria que o meu amor pela vida atravessasse o espaço e fosse parar bem dentro do coração dele, onde quer que ele estivesse. Agradeci a Deus poder amar a vida desse jeito sem nunca ter precisado levar um “susto”. Mas acho que não funcionou. Talvez as minhas orações não tenham tido força suficiente para realizar o meu desejo... Ou então, não compreendi a vontade de Deus... Fiquei em silêncio... Em contemplação, pedi entendimento para compreender o que estava acontecendo.

Quando terminei de montar a primeira mesa e alguns bancos, sob a supervisão do Laza, pois eu estava meio destreinada, eram 10:10. Avistei as crianças vindo em nossa direção, meu coração acelerou. Me adiantei e fui ao encontro delas e nos encontramos perto do local onde estavam as mesas. No momento em que eu me apresentava vi que Prof. Augusto Sampaio também se juntava a nós com um sorriso cheio de encantamento e criancice. Tornei a falar com as crianças: Eu me chamo Socorro, mas esse moço aqui, apontando o Prof. Augusto, me chama de Socorrinho. Mostrei o Laza às crianças e disse a elas que nós dois, o Laza e eu, iríamos brincar muito durante a oficina.  Falei com as crianças que queria adivinhar seus nomes e perguntei: tem algum Tiago aqui? E alguém levantou a mão. Tem Paulo? Não. Tem Pedro? Sim. Fui brincando com eles, enquanto ia descobrindo seus nomes e guardando na memória aqueles rostinhos lindos e alegres. Tinha Clara, Pâmela, Sofia, Igor, Iuri, enfim, muitas crianças de 3 anos de idade, ao todo 20. Elas pertenciam à creche Albert Sabin, e eram filhas de funcionários da saúde. As professoras também eram muitas talvez seis ou sete, não contei.

Passado esse momento de encantamento o Prof. Augusto foi embora rindo sozinho, contagiado por nossa alegria. Falei com Laza que eu iria para a barraca das verduras, pois ele estava às voltas com a montagem da feirinha e terminando de montar a nossa “sala de aula”, ele assentiu com a cabeça. Eu procurava Ana e seu sorriso que sempre nos acompanha durante a oficina, de longe fisicamente, mas de perto em contentamento. Não consegui vê-la em momento algum. Eu via uma ou outra estrelinha que haviam soltado de seus cabelos pelo caminho onde ela havia passado, mas ela, não. Pensei em quantos desencontros essa oficina estava produzindo. Reacomodei a fé no meu coração.

No caminho das verduras perguntei se queriam ouvir uma história. Disseram que sim. As professoras disseram que essas crianças adoravam histórias. Comecei a contar a história da sementinha que, eu e a Inês Arieira, havíamos criado, em parceria, em Cotia. Lembrei de Manoel de Barros, “tudo que eu não invento é falso”. Contei a história enquanto caminhávamos para a feirinha, mas as crianças pararam para ouvir melhor. Alguns nem piscavam, estavam atentos, totalmente conectadas ao mundo da fantasia (ou da realidade?). Alguns seguraram as mãos dos outros. Outros, olhavam para céu e para as árvores ao mesmo tempo em que voltavam o olhar para mim. Quando a história terminou estavam pensativos e felizes, querendo conhecer as sementes e aprender a germinar.

Chegamos à barraca do Tuíca, começamos a explorar as verduras. Falei sobre todas as verduras e legumes e deixei que dissessem o que sabiam sobre cada uma delas. Sem dúvida, o funcho fez o maior sucesso, não só pelo seu tamanho, mas certamente por seu perfume inebriante. Permanecemos por bastante tempo em volta das verduras e legumes. Todos queriam pegar, cheirar, dar sua opinião. Dali, fomos para a barraca das sementes. Crianças e professores rodearam a mesinha e eu comecei a falar sobre “sementes dormindo” e “sementes acordadas”, fiz uma conecção disso com a historinha que haviam escutado. As professoras prometeram germinar sementes na escola, as crianças ficaram animadas com a idéia. Nesse momento o Laza se aproximou de nós com a câmera fotográfica e fez algumas fotos. Reapresentei o Laza às crianças. Elas disseram seus nomes. O espaço estava apertado, nos comprimíamos e tornávamos aquele aglomerado de gente em um espaço de muito calor humano, bom de sentir. Ofereci sementes germinadas às crianças: amendoim (a que mais gostam!), aveia, trigo, ervilha, lentilha, grão de bico, entre outras.

Dali fomos para a nossa “salinha de aula” brincar com a massinha de modelar. Chegando lá começamos a vestir os aventaizinhos nas crianças. Havia uma moça com uma criança no colo muito lindinha, pequenina, talvez 3 anos também , como as outras. Ela me perguntou se podia colocar sua filhinha para brincar conosco. Falei que sim. Ela sorriu agradecida. Perguntei o nome da menina e a menininha respondeu: Dora. Laza perguntou se já tínhamos lavado as mãos. Respondi que não e nos encaminhamos para uma torneira perto dali. Lavamos nossas mãos e fomos para a mesa brincar com a massinha. Enquanto distribuímos, Laza explicava como a massinha foi feita e mostrava os ingredientes que usamos para isso. Olhei de relance o entorno e vi um rapaz nos fotografando, com a câmera bem junto ao rosto. Por uma fração de segundo meu coração se alegrou e deu um pulo. Pensei ser o Marcio Breda que havia chegado, mas assim que fixei meu olhar vi que não era ele. Que pena! O rapaz, que tirou muitas fotos nossas, estava com um crachá da Mostra PUC, disse que era do RDC. Ofereci massinha a ele. Ele sorriu, agradeceu, mas não aceitou. Laza começou a moer aveia e explicar como fazíamos a massinha. As crianças ficaram ao seu redor querendo experimentar a moagem. Laza paciente, como sempre, conduzia a atividade com tranqüilidade, com seu lindo sorriso e sua calma doce e bonita de se ver.

As crianças começaram a brincar com a massinha fazendo, como sempre, muitos desenhos, sol, flores, casa, bonecos, sanduíches, minhocas e tudo mais. Sugeri que provassem. Estava deliciosa. Eu comi um “tantão” da amarela, minha preferida. As professoras também provaram e gostaram. Clara e Pâmela eram as mais animadas, pediram mais e mais massinha. Brincamos por bastante tempo, cantamos, rimos. Quando as crianças estavam começando a se dispersar, propus que fôssemos tomar o suco na barraca da Lourdinha. As crianças saíram da mesa, tiraram os aventaizinhos e fomos nos encaminhado para o suco cantando a música da Chapeuzinho Vermelho. Pela estrada a fora eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha...

Chegando lá comecei a falar sobre o suco, retomei a historinha da semente germinada e notei algumas carinhas ficaram meio “fechadas” pela possibilidade de tomar um suco verde. Expliquei que o suco era delicioso. O espaço estava apertadíssimo, pois a feira estava montada num lugar menor do que costuma ser, por conta da Mostra PUC. Falei sobre os índios, sua gratidão pela Mãe Terra e contamos “tembiuporã”. Lourdinha cantou junto, as professoras também cantaram com algumas crianças. Laza sempre por perto, no apoio indispensável, formando comigo uma parceria muito bonita, cuidando da “infra” e dos detalhes necessários para que nossa oficina fosse um sucesso: toalhas, fogueira, fósforos, fotos, máquina de moer, docinhos, folhas secas, copinhos, gentileza. Quando o suco foi servido algumas crianças não quiseram, por um momento, outras imitaram as primeiras tapando a boca, mas em seguida, uma criança começou a pedir mais e uma nova onda correu o grupo, dessa vez desejando provar o suco. Saímos dali para fazer nossa fogueira. Chegando no espaço onde Laza e eu, havíamos determinado fazer a atividade, fizemos uma roda grande. Expliquei que iríamos nos encontrar com o fogo, as crianças se animaram, afinal, brincar com o fogo é sempre uma atividade proibida para elas. Falei que o fogo adorava nos unir e que também gostava muito de realizar nossos desejos. Pegamos uma folha seca, cada um de nós. Laza falou da música da fogueira e começou a cantar. Nós o acompanhamos com a melodia do “fogo pegou”. Eu e Laza fizemos um movimento sincrônico nos adiantando em fazer nosso pedido ao fogo primeiro. Ele gentilmente me cedeu a vez. Fiz meu pedido. Pedi Amor para todas a crianças do mundo. Laza fez seu pedido em silêncio. As crianças vieram, uma a uma, colocar suas folhas, e pediram, Paz, Amor, e alguns outros desejos que não consegui ouvir. Clara veio mais de uma vez. Também , com esse nome! As professoras também fizeram seus pedidos. Uma menininha linda pediu; “eu quero ter muitas estrelinhas nos cabelos” e completou, “eu quero ver”. Após nossos pedidos Laza trouxe os docinhos. Eu falei que aqueles docinhos eram os chefes dos Brigadeiros e, portanto, muito mais gostosos e importantes, eram os Almirantes. As crianças comeram com alegria. Penso que todas gostaram, não me lembro de devolução.

Começamos a nos despedir com abraços muito apertados. Eu e Laza quase fomos derrubados pelas crianças que nos rodearam e quiseram nos abraçar todos ao mesmo tempo. Quando terminamos as despedidas as crianças e as professoras foram se encaminhado para o ônibus e um menininho lindo olhou para trás e falou bem alto comigo e com o Laza, que estávamos perto da fogueira, que estava já quase totalmente apagada:  “Não pisem nos Desejos!!” Perguntei às professoras como era o nome dessa criança. Elas responderam: Gabriel. Pensei emocionada e falei com o Laza: “Só podia ser um anjo!”.

Mais tarde, fui para a minha sala e encontrei o Carmelo do jeito de sempre, afetuoso e delicado, como a me dizer que compreendia minha escolha da manhã em participar da feirinha ao invés da reunião. Agradeci a Deus ter o companheirismo do Carmelo no trabalho durante 10 anos. Isso gerou em mim acreditar que quando estamos inteiros não precisamos de nada, basta deixar o coração dar o rumo e acompanhar com amor e fé essa escolha.


 

Laza

 

20 crianças – 12 professores/educadores/auxiliares

 

Agradeço a Socorro por germinar aveia e chegar cedo para processá-la junto comigo gerando em mim parceria e alegria por tê-la ao meu lado.

 

Agradeço a Martha por emprestar um moedor com buraquinho menor gerando assim um menor número de passagens para que a massa fique pronta. Ao invés das 3 no moedor “mimoso”, agora passamos 2 e o efeito além de ser igual o esforço para tal tarefa diminuiu significamente. Gerou em mim evolução e economia de tempo.

 

Agradeço a Socorro por sugerir tal objeto para experimentarmos gerando em mim inovação e aprendizado.

 

Agradeço a Inês B. por ajudar a preparar as massinhas ralando a beterraba enquanto eu carregava mesas e cadeiras para a baleia. Gerou em mim flexibilidade para ora estar no preparo, ora estar na periferia. Creio que esta será a tônica do semestre.

 

Agradeço ao grupo da creche Sant Anne por vê-los rodeando uma pequena jaqueira. Esta jaqueira, novinha assim como todas as crianças, fascinados por uma pequena jaca que protava a altura da minha cabeça. Gerou em mim ternura por ver essa cena bucólica. Logo quis estar junto

 

Agradeço aos professores, educadores e auxiliares por virem praticamente na mesma quantidade que as crianças. Gerou em mim refletir que na idades que eles tem (cerca de 3-4 anos) a atenção tem que ser redobrada.

 

Agradeço a Socorro por ir indo com o grupo para as hortaliças enquanto eu fiquei na área de trabalho montando as mesas e cadeiras que faltavam. Gerou em mim trabalho em equipe.

 

Agradeço ao Marcio Bredariol por não vir participar da oficina gerando em mim atenção redobrada para realizar as ações.

 

Agradeço a Lourdes por estar na feira na hora de falarmos do suco gerando em mim alegria por podermos falar do suco com a barraquinha montada e a demonstração acontecendo.

 

Agradeço a menininha que já estava sentada na mesa com o avental e já impcientemente disse : “Como é que a gente vai desenhar sem caneta ?!”. Isto gerou em mim graça por ver uma criança tão pequena já tão sabida que não dá para desenhar sem elementos para isso.

 

Agradeço às aos educadores que queriam provar e saber a receita de cada massinha. Gerou em mim fé que de que futuro elas queira fazer essas massinhas com essas crianças.

 

Agradeço a todoas as crianças por sua atenção na hora da fogueira e o cuidado para que ninguém pisasse na fogueira mesmo depois do fogo. Gerou em mim cuidado e respeito pelos elementos.

 

Agradeço a Ana e a Fevuc por nos fazer a oficina muito afastada da feirinha gerando em mim perceber o quanto o trabalho fica mais valorizado no meio de pessoas que também acreditem nisso.

 

Agradeço a Socorro por não só participar do desmonte como fazer questão de lavar todos os elementos. Gerou em mim carinho e apoio.

voltar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Visite o site da PUC-Rio
 
Visite o site da PUC-Rio
e-mail: ana.branco@uol.com.br

english version