Entendendo melhor a rede...
Há quem pense que alimento orgânico e alimento sem agrotóxico são sinônimos. Nada mais equivocado. O simples fato de não utilizar veneno durante o cultivo não é suficiente para que determinada fruta ou hortaliça seja considerada orgânica. Pelo menos, não para nós.
O que, então, entendemos como orgânico?
O alimento orgânico, para nós, é aquele que é orgânico em todas as suas relações. E o que confere “organicidade” a essas relações é algo bastante simples: respeito. Respeito à Terra, ao solo, às águas, ao que é produzido e, especialmente, aos próprios produtores e a nós mesmos, que compartilhamos dos seus excedentes.
Entretanto, infelizmente, o que se tem visto na quase totalidade dos arraiais onde se vende produto orgânico é uma realidade bastante diferente. O alimento orgânico deixou sua simplicidade geradora de vida para trás e, manipulado pela corrosiva mentalidade do capital, transformou-se em mercado. De luxo, diga-se de passagem.
A infinidade de feiras orgânicas que tem surgido a cada dia está longe de representar um avanço. Sabe aquele papo de “quanto mais feira melhor, pois, com a concorrência, os preços vão cair e vai aumentar o acesso”? Então... Como todos os outros papos desse tipo, é mentira. O que está acontecendo é que boa parte dos produtores, atraídos pelos altíssimos preços que as pessoas estão se dispondo a pagar nessas feirinhas da moda, estão, simplesmente, deixando de produzir para se tornar atravessadores. Daí essa quantidade enorme de feiras. Afinal, não precisa ter lá muito conhecimento de agricultura para saber que ou se passa a semana na cidade fazendo feira, ou se produz. Com isso, o risco que se corre, além da perda da real procedência dos alimentos, é que a oferta de orgânicos se torne ainda mais escassa.
Por isso, valorizamos tanto o que fazemos na rede. Porque aqui temos a oportunidade não só de viver, mas também de ensinar a partir disso que é possível uma experiência de consumo diferente, não pautada pelo pegapacapá do capital. E é, justamente, essa simplicidade que, muitas vezes, gera estranheza a alguns que chegam distraídos.
A rede nasce, basicamente, do desejo de um grupo de amigos que decidiu se reunir para adquirir alimentos produzidos com respeito junto a outros amigos que, por sua vez, se recusam a relacionar-se com o alimento que cultivam reduzindo-o a um produto. Sua abertura para que outras pessoas participem acabou acontecendo como um ato quase que natural, simplesmente como uma forma de transbordamento. Exatamente como as árvores fazem em toda a terra ao seu entorno. Não há, em momento algum, portanto, a ideia de uma prestação de serviço.
É por isso que nosso foco será sempre maior na organicidade das nossas relações e no nosso aprendizado enquanto grupo do que naquilo que a mentalidade regida pelas leis do mercado entende como qualidade. Tudo o que fazemos, fazemos voluntariamente e por amor. Entendemos que, num ambiente onde todos se responsabilizam – consigo mesmos, antes de tudo –, não há culpados e nem cobrança. Partimos do pressuposto de que cada um está sempre fazendo o seu melhor, na medida das suas possibilidades.
Pensando nisso tudo, percebemos que o próprio nome da rede (Rede Solidária de Consumidores Orgânicos) estava dando margem a entendimentos bastante equivocados a respeito de quem somos e do que fazemos. Para evitar esses mal entendidos, decidimos, portanto, fazer uma pequena alteração e gostaríamos de – repletos da gratidão que essa experiência tem nos proporcionado – comunicar a todos que a partir de agora, a rede passará a se chamar: Rede Solidária de Comedores Orgânicos. Afinal, os comedores são seres muito mais simples do que os consumidores.
Beijos e abraços a todos! Rodrigo Melo
Rede Solidária de Comedores Orgânicos, se deseja participar dessa rede envie mensagem para anabranc@puc-rio.br