Luna Castro CONCLUSÃO 2016.1
Meu avo é produtor de leite na região em que eu moro, ele nunca entende nem
nunca entendeu minhas escolhas de vida.
Primeiro eu parei de comer carne, depois ovo, e agora leite. Tudo num processo de transição e auto-conhecimento lento e profundo.
Durante essa viagem para dentro da minha alma, meu avô estava sendo um empecilho, não ele, como pessoa maravilhosa que é, mas a questão de eu conviver com algo que não concordo diretamente, a produção de leite.
Nesses meses de aprendizado, fui compartilhando tudo que vivi nas aulas de biochip com ele, explicando sobre as frutas, legumes e verduras que tanto encantam meu velhinho, durante uma de nossas longas conversas, comentei da farinha de mandioca. Incrivelmente, os olhos dele se encheram de lagrimas e disse que muito o emocionou, porque o fez lembrar dos tempos em que fazia farinha com seus irmãos.
Logo fui contar pra Ana, com o coração cheio de felicidade, parecia que eu tinha encontrado a alma de meu avô em meio a tanta divergência de pensamento. Ana logo propôs: "faz a farinha com ele!".
Genial! Não pensei duas vezes, liguei pra ele e perguntei se tinha aipim no quintal, ele disse que sim, falei que na próxima vez que nos encontrássemos iríamos fazer a farinha juntos.
Num domingo, em meio a panos, farinha, leite e goma de tapioca encontrei o perdão que tanto precisava, enrolando o pano de um lado e ele para o outro, percebi naquele momento, que, mesmo que nossas vidas tenham rumos diferentes, eu e ele somos essencialmente iguais. E que eu precisava aceita-lo, para que ele me entendesse.
Eu agradeço ao meu avô, que logo eu quando parei de comer carne achou que eu estava fazendo isso para tentar emagrecer. Isso gerou em mim uma graça, aprendi que eu tinha ainda muito a ensinar a um velhinho de 86 anos apesar de minha pouca idade ,
Eu agradeço à mandioca, por ter me conectado diretamente ao meu avô, minha raiz e força, isso me gerou uma incrível sensação de plenitude e pude perdoar meu avô por não me entender.
Eu agradeço à Ana, pelas oportunidades incríveis de conexão que ela tem me proporcionado ao longo desses semestres, projeto, biochip, feira. Isso gera em mim, diariamente, uma sensação de completude e parte do grupo que não sentia ha muito tempo.
Eu agradeço à tudo que é vivo, por me mostrarem a possibilidade de ouvir e amar todos os detalhes que me cercam, aprender e desaprender, isso gerou em mim uma possibilidade de construir certezas baseadas em ensinamentos passados por seres que agora reconheço como meus irmãos.