Jaqueline Fernandes de Melo Banai CONCLUSÃO 2016.2



Acredito que quem vem até o Biochip vive um momento de busca pessoal ou desperta pra essa busca. Eu ouvi sobre essa eletiva há algum tempo, mas só esse semestre eu consegui fazer. Não foi por acaso. Na verdade eu não acredito em coincidência. O Biochip está aqui todo semestre esperando por nós, na hora certa, no momento certo. Esse semestre foi bem conturbado pra mim. O sistema como ele o é, como funciona, sempre me incomodou, mas especialmente esse semestre eu senti muito forte o peso dele versus a liberdade. Eu me vi acorrentada a um mundo quadrado e por mais que eu tomasse consciência disso eu não sabia como sair daquela situação. O Biochip fortaleceu minhas convicções e eu vi um caminho. Como ter coragem pra agir. Pra me transformar. Pra eu ser eu mesma. Eu nunca fui eu. E só agora eu estou me conhecendo. Tenho um longo caminho pela frente. Mas agora eu me reencontrei e acho que esse mergulho dentro de mim se deu por essa reconexão com a natureza, com a terra. Quando a gente busca esse despertar, as respostas surgem. Eu estava nessa busca pessoal já e as respostas foram vindo e não só pelo Biochip. Mas acredito muito que a energia desse ambiente me deixava numa sintonia que atraia mais e mais disso. Dessa conexão com o eu, com o outro, com a terra, água, sol, e ar. Entrar pela porta dessa tenda e ficar aqui dentro já causa um efeito muito positivo na nossa alma. Ter contato com esse ser vivo chamado Ana Branco, que encanta e se encanta com tantas coisas triviais, com as coisas das quais realmente importam, nos faz acreditar. Senti esperança de uma forma que talvez eu nunca tivesse sentido.

A cada aula um enorme aprendizado, era como se eu entrasse uma e saísse outra. Uma transformação e expansão da consciência na velocidade da luz. Quando eu assisti ao filme "La Belle Verte" foi um baque também. Foram muitos questionamentos. Por que as pessoas usam brinco? Isso realmente não faz sentido nennhum. Outro dia ela disse a frase "o medo ocupa o lugar do amor" e aquela frase me tocou tão profundamente. Hoje uso como um mantra. Eu sou uma pessoa muito medrosa; tenho medo de ficar em casa sozinha; tenho medo de escuro; e agora eu uso essa frase nesses momentos e realmente algo se transforma dentro de mim.

Tinha dias que eu saia da sala e chorava, chorava muito. E não foram poucas vezes. A sensação de despertar, de reconhecimentos dos seres vivos, a sensação de estar sendo enganado e ver todo mundo indo na direção errada. Um mix de tristeza e desespero, mas ao mesmo tempo alegria e esperança. Tudo isso transbordava. Somado ao amor indescritível que eu desenvolvi pela mestre Ana Branco.

Eu tenho dificuldade em expressar e entender meus sentimentos. Mas a Ana resignificou o amor pra mim. Eu pensava nela todos os dias; falava dela o tempo todo; pesquisava sobre a vida dela e sobre os autores que ela indicava; todo dia eu queria que fosse terça e quinta onze horas. Acho que eu me apaixonei por ela. Não desse jeito popular, tosco, limitado. Acho que era uma sensação de reencontro e gratidão, minha e de toda a soma dos meus antepassados que moram dentro de mim.

Eu me sinto muito bloqueada, como se meus chácras estivessem todos fechados. Era muito frustrante nas aulas com as conchas, com a argila, eu tinha muita dificuldade em sentir algo. Mas ao mesmo tempo eu buscava dentro de mim, na minha partícula divina, nublada pelo modelo de vida contemporâneo, e sentia que no fundo eu sabia que eu era capaz e que um dia eu vou conseguir desenvolver todo meu potencial de comunicação e sensibilidade.É bom demais pensar diferente, pensar além, pensar.

Infelizmente na minha apresentação oral eu não consegui expressar nem um terço da gratidão que eu sinto por essa etapa da minha vida. Mas acredito na conexão do todo e espero que toda essa positividade dentro de mim possa se comunicar com a Ana, iluminando-a cada vez mais. Muita gratidão por ela existir e por eu ter tido a permissão e oportunidade de poder ter convivido com ela nesse 2016.2. Esperei 22 anos por esse reencontro. Obrigada.

Agradecimentos das aulas de Biochip

Dia 25/08/2016
Eu agradeço a corda de sisal pela conexão com o outro; que gerou em mim a percepção de que nós mesmos temos que movimentar nossas cordas, nossas amarras, nossos desconfortos; só você mesmo sabe o seu ponto de segurança. Saber ceder, saber ser firme.

Dia 30/08/2016
Eu agradeço a corda de sisal pelo aprendizado de trabalho em grupo; de sentir a "fraqueza" das palavras; da força do "sentir"; sempre cabe mais um na roda e a roda sempre vai se redesenhar e o desenho continuará a existir, de forma diferente claro, mesmo que uma das partes deixe o todo. O fluir natural das coisas.

Dia 01/09/2016
Eu agradeço a cenoura por mostrar que um alimento "simples" tem tantas possibilidades; diversas formas e sabores; um alimento do cotidiano possui tantas formas, imagine nós seres humanos. Eu agradeço a Ana por nos transmitir esses conhecimentos tão básicos. Na verdade, por nos fazer relembrar e nos conectar com nossa natureza. Agradeço a monitora Luiza por transmitir tão naturalmente essas experiências (através da forma como ela se manifesta). Pétalas de cenoura, uau! Tão banal e tão significativo! Foi surpreendente! Desenhar além das linhas e quadradinhos... pétalas!

Dias 04, 06, 11, 13/09 Eu assisti a aula inaugural; fui à essa aula também, mas não estava me sentindo bem e fui embora. Mas escrevi uma reflexão sobre a Acrilamida: Acho que a existência dessa substância surpreende à todos. Sempre fui uma pessoa "contra" vícios (pelo sentido negativo da dependência); nunca tive muita afinidade com as drogas tão comuns entre os jovens. Mas ai vem o Biochip e me mostra que somos todos viciados/dependentes; e também confirma minhas convicções de que todo vício traz consequências negativas para a pessoa, talvez não tão diretamente ao corpo físico (que traz também), como principalmente na mente do dependente. Isso me incomoda muito e agora vou continuar trilhando meu caminho de retorno a minha essência com essa informação preciosa.

Dia 20/09/2016
Já tinha assistido ao filme então fui embora mais cedo. Mas esse doc é extraordinário. Foi interessante eu revê-lo num momento da minha vida que o tratamento que eu necessito é me (re)aproximar da natureza e das artes. Muito importante ter tido esse "toque" com a escolha do filme.

Dia 22/09/2016
"Uma senhora de 15 mil anos". É difícil para uma mente condicionada imaginar que um pedaço de argila é uma senhora. Mas essa comparação é algo tão sútil e bonito. Tudo que é vivo carrega consigo uma sabedoria e, ao entrarmos em contato, podemos acessar muitas informações, seja conversando com nossa tia-avó, ou com um pedaço de argila retirado do mangue. Eu tenho problemas sérios com comunicação (ironicamente é o meu curso). Mas aos poucos a gente vai percebendo que a comunicação é tudo; é um toque; é um olhar; é um sabor. (Obs: amei o nome da aula quando fui ver no cronograma do semestre. REconhecimento. Linda palavra)

Dia 27/09/2016
Dentro da filosofia de vida que eu busco seguir, acreditamos que somos a soma dos nossos antepassados e que eles se manifestam em nós, através dos nossos pensamentos, sentimentos e ações. Através de nós eles podem receber luz, porque eles estão vivos dentro de nós e, assim como nos influenciam, nós também influenciamos neles. Ao longo dos tempos, fomos nos afastando das leis da natureza, movidos pelo materialismo. Coisas simples são vistas como atrasadas, quando na verdade nos mantem relaxado, nos dá força e vitalidade.

Dia 29/09/2016
Obrigada aos sabores puros e naturais, em sua essência, por me fazerem sentir esclarecida. Nós somos o que comemos e o que comemos nos forma ou deforma. O alimento comum do cotidiano, industrializado/processado/comercializado nos formam para servir o sistema do capital; nos cala; nos congela; nos cozinham; causam o esquecimento de quem nós somos. Às vezes, sentia-me um produto perfeito do sistema, seguindo todo o manual a risca, mas de uma hora para outra eu despluguei e, de relance, consegui enxergar como ele se articulava, e deu curto circuito. Desde então, sigo em buscada Verdade e do auto conhecimento. Quando a gente busca despertar e retornar a nossa essência, nós vamos nos reencontrando. Mas nada vem pronto, nada se apresenta pronto; é uma eterna construção. Nem 8, nem 80, é 1 de cada vez e talvez depois do 3 venha o 2 e depois o 5, e apesar disso, plena ordem. Muita gratidão à terra e aos alimentos vivos que nos auxiliam nesse caminho de volta.

Dia 06/10/2016
Múltiplas e especiais. Uma das conchas se encaixou perfeito no meu polegar. Mas ela era muito diferente, não tinha aquele formato "comum" de concha. Fiquei apegada à ela. De uma lado parecia a atmosfera e do outro, o mar sem visto da atmosfera (como se fossem imagens de satélite). É engraçado que eu olhava as conchas das pessoas em volta e elas tinham um formato "comum". Mas as minhas eram 80% como se fossem pedaços de conchas ou formatos bem diversos. Interessante. Minha dificuldade em comunicação nessas atividades de "reconhecimento" me incomodam, mas acredito que a prática me levará a essa realização.