Joana Brandão Meirelles CONCLUSÃO 2016.2
Dia 25/08/2016
Eu agradeço a corda de sisal por ter podido perceber através dela
uma forte ligação com pessoas que eu inicialmente não conhecia, que
são novas na minha vida. Isto me proporcionou um sentimento de
paz e expectativa diante das experiências e conhecimentos novos que
estamos prestes a viver como grupo e como indivíduos.
A corda proporcionou confiança. Senti desconforto no início da
atividade, e aos poucos consegui me adaptar. Houve momentos em
que eu sentia vontade de mexer em outras cordas, de falar pro
colega ao lado o que eu achava que deveria ser feito. Compreendi
que este não era o meu papel ali, que cada uma daquelas pessoas e
sua escolhas eram parte daquela obra, e que não havia jeito errado
de realizar esta atividade.
As lições que aprendemos com a corda ficam com certeza pro resto
das nossas vidas. Uma curiosidade que passou pela minha cabeça foi
no momento em que alguns elementos da estrela foram deixando a
rede. Nessa hora, achei que não fosse possível manter a estrela
esticada e bonita. Percebi que não,que a estrela se moldava conforme
os novos movimentos. Este momento me lembrou uma sensação de
perda, de morte, a cada pessoa que saía da obra. Da mesma forma
que a morte, era difícil de lidar com a perda assim que ela acontecia,
mas a vida segue, assim como a corda de sisal continua fluindo, de
outras formas, de novas formas, mas ainda assim, funciona.
Devemos aprender a descobrir as novas realidades e possibilidades.
Dia 30/08/2016
A vivência com a corda de sisal hoje foi diferente da última
experiência. Hoje, preciso agradecer a corda de sisal por ter
proporcionado esta nova vivência, em que o grupo já estava mais
familiarizado com a corda, com as formas que poderíamos criar, com
a confiança que já sabíamos que podíamos construir (e reconstruir).
O momento mais surpreendente foi aquele em que o grupo inteiro
conseguiu relaxar, encontrar o conforto na corda e confiar. Passamos
alguns minutos em silêncio absoluto, desfrutando o momento de paz,
ouvindo apenas o som da natureza.
A experiência de se inserir em uma estrela de um grupo já existente
exigiu mais intuição corporal do grupo, e menos lógica. Demoramos
para ajustar as estrelas uma com a outra, mas percebemos que esta
pode ser feita com a mesma facilidade em que é desfeita. As formas
vão modificando, mas em todas as situações o principal se manteve:
a ligação do grupo construída pelos momentos de paz e confiança.
Dia 01/09/2016
Eu agradeço a cenoura por me proporcionar um novo mundo de
percepção, de arte e de sabores. O que mais impressionou foi a
possibilidade e a diversidade de sabores que variavam com a forma
da cenoura: desde a casca que era mais amarga, até o brigadeiro que
era super doce; desde o resíduo e sua textura peculiar até o frescor
do suco.
Os sabores descobertos foram todos muito bons, cada uma sua
maneira. Me remeteram, de fato, à beleza do encontro entre o céu e
a terra.
Dia 13/09/2016 Eu agradeço ao repolho roxo, ao repolho branco e à cenoura pela experiência do dia de hoje. Poder utilizar todo o alimento, sem desperdiçar nem um pedacinho, é de uma beleza muito grande. O alimento que não precisa ser somente nutriente, mas também arte, me inspira e desperta a curiosidade de como estas cores vão seguir dançando até a próxima aula.
Dia 15/09/2016
Eu agradeço ao potinho de repolho por poder observar o fenômeno
natural da fermentação. O fato de ter sido eu a preparar os alimentos
me fizeram sentir parte deste processo vivo, e também um carinho
enorme pelo potinho de repolho.
Me sinto muito feliz de ter superado o preconceito de comer o
fermentado. O cheiro, a princípio, não me parecia muito convidativo,
mas misturados com as coisas lindas que preparamos na aula de hoje
– com muita reza e energia boa canalizada – ficou verdadeiramente
bonito e despertou uma curiosidade gostosa.
Depois de provar – e repetir a dose! – fico muito surpresa de ter
gostado de verdade da comida viva, e principalmente muito feliz, por
ter superado um preconceito e ter feito parte deste processo. Foi uma
das aulas mais emocionantes para mim.
Dia 22/09/2016
Agradeço ao filme “Camelos também choram” por me fazer perceber
que homens e animais são feitos da mesma coisa. Não somos
superiores a eles, mas sim iguais. Eles possuem os mesmos receios
que nós, as mesmas travas que nós, os mesmos problemas que nós.
Podem, portanto, se emocionar como nós.
A beleza da música foi capaz de despertar no camelo a sensibilidade,
o amor e carinho da mãe pelo filho. É lindo como a arte e a música
transcendem todos os mundos. Podem resolver qualquer problema,
só é preciso dar espaço para que elas possam ser e existir.
Dia 27/09/2016
Eu agradeço a argila por me permitir conhecê-la, poder sentir as
diferentes formas de vida que habitam nela, desde sementes,
gravetos, asas de insetos. Ao entender que a argila é vida, foi
possível imaginar a história daquele pedacinho de argila, a
quantidade de coisas que ela deve ter passado ao longo dos seus 15
mil anos, por quantos lugares ela já passou, quantos ventos e mares
a carregaram e quanta história ela carrega consigo.
Em seguida, pude explorar mais os meus próprios sentidos. Quis
sentir seu cheiro, sentir sua textura mais firme ao fazer desenhos
com a argila, sentir sua textura mais mole ao amassá-la por toda a
minha pele, até ela ficar grudada em mim. Pude sentir que a argila
era parte importante de mim.
Dia 29/09/2016
EU agradeço ao inhame, ao repolho roxo, à beterraba, à maçã e à
abóbora pela beleza de suas cores, que se manifestam de formas
diferentes quando em forma de suco ou forma de resíduo. A beleza
das cores fortes desperta em mim a vontade de querer provar todos
os sucos, inclusive porque alguns deles eu nunca tive a oportunidade
de provar durante a minha vida.
Agradeço a oportunidade de provar todos os sabores. Nem todos os
sabores isolados me agradaram, mas as possibilidades de misturas
estavam curiosamente deliciosas. A melhor mistura foi com certeza a
de todos os sabores juntos! Com a riqueza de cada um dos
alimentos, a mistura formou a cor mais bonita e o sabor mais
gostoso.
Dia 04/10/2016
Eu agradeço às sementes germinadas a possibilidade de pegá-las em
minhas mãos, e também a possibilidade de juntos fazermos o pão
vivo.
Durante a aula, pude perceber a história que elas carregam, também
como a história que os moedores carregam. Conseguimos acessar
nossa memória óssea, algo que faz parte da nossa cultura brasileira,
que foi trazida pela história dos nossos ancestrais.
13/10/2016
Eu agradeço ao filme La Belle Verte por me fazer repensar todo o
nosso modo de vida “terráqueo”. Este modo de vida passa
despercebido por nós, já que aprendemos a viver deste jeito
automático, ignorando as coisas que realmente tem valor.
O filme desperta o questionamento: me vi naqueles personagens que
visitam a Terra e, como eles, me vejo perplexa diante da nossa
realidade. Consigo parar para refletir que esse mundo que existe hoje
não faz nenhum sentido. É preciso contornar esse mundo de valores
capitalistas e desiguais, para poder encontrar na vida um sentido,
uma felicidade, uma razão de ser.
Dia 18/10/2016
Eu agradeço o aipim pela reza do dia de hoje. Nunca me vi uma
pessoa muito “religiosa”, mas parece que estou aprendendo. Cada
vez mais tenho compreendido a importância do processo de preparar
a comida, e não só na finalidade dela. Isto me faz pensar na correria
que a gente vive cotidianamente, e o quanto ela não tem sentido. A
sociedade moderna só faz as coisas pelas finalidades, e não pelo
prazer do processo. Agradeço a chance de viver esses momentos
junto dos colegas de Biochip, momentos de paz e reflexão.
Dia 20/10/2016
Eu agradeço o bolinho de nanã por me apresentar uma nova
possibilidade de alimentação viva. Foi uma emoção muito grande
poder comer o alimento que veio de um processo de algumas aulas,
produto de um trabalho de grupo, que eu participei. Comer um
alimento produzido por você mesmo nunca foi um hábito na minha
casa, e preciso agradecer ao Biochip e à Ana por proporcionar isto,
porque é uma experiência muito emocionante. Vou guardar cada
etapa do processo de fazer o bolinho comigo para sempre, pra poder
inventar novas receitas. Vou guardar o aprendizado com muito
carinho dentro de mim.
Dia 27/10/2016
Agradeço o filme “A carne é fraca” por abrir meus olhos para
questões horríveis que no dia-a- dia são mais fáceis de serem
ignoradas. Foi muito duro assistir o filme, confesso que ele me
sensibilizou de uma forma muito impactante, e por isso eu agradeço.
Foi uma tristeza difícil de assimilar, mas acima de tudo, necessária.
Saio dessa aula mais triste, mas mais informada e consequentemente
mais consciente do mundo em que vivo. E este é o primeiro passo
para iniciar uma grande mudança.
Moro com a minha família, que não acredita nestes valores
apresentados pelo filme. Desde criança, estive sujeita a comer
exatamente o que a minha família me oferecia, claro. O fato de eu
comer comida morta é uma questão que vem cruzando meu
pensamento há um tempo e me incomodado bastante. Acredito que
por comodidade ou preguiça, eu nunca tive força pra mudar meus
hábitos: chego em casa e já tem comida pronta, já tem refrigerante
gelado, já tem carne temperada pronta pra ser comida. Hoje, eu tive
a motivação que eu precisava para deixar de ficar acomodada e ouvir
com mais atenção o meu coração e a minha razão. O poder do
cinema e da arte é grande a esse ponto: começo hoje uma pesquisa
intensa, de novas possibilidades de alimentos: alimentos vivos,
alimentos saudáveis, que não são comprados na minha casa. Começo
hoje a fazer minhas próprias compras, porque tenho sim autonomia
para escolher o que vou comer. Começo hoje, com muito orgulho e
muita gratidão, a vivenciar novos hábitos alimentares. A partir de
hoje me proponho a começar a revolução no meu próprio corpo.
Dia 01/11/2016
Na aula de hoje, foi estranho observar como as pessoas (inclusive eu)
têm receio de tocar na terra, nos bichos, de conhecer, de se
aproximar. Me pergunto quem inventou que terra é sinônimo de
sujeira. Em que momento da nossa vida assumimos isso como
verdade? Desta forma, passamos a ter medo do natural. É triste que
o homem queira se distanciar do que é bonito, do que é natural.
Passamos a não mais respeitar a terra, mas, tomados pelo medo do
poder que a natureza tem, decidimos inventar diversas formas de
dominar a terra, modificar o seu funcionamento, colocar cimento
onde há vida... A relação acaba sendo de dominação ao invés de
uma relação de respeito e igualdade, como se o homem fosse
superior e mais importante do que a terra.
A aula de hoje foi muito importante para perceber que eu só tenho a
agradecer à terra por me fazer perceber que ela também é vida; que
nela habitam outras vidas; que ela é feita das mesmas coisas que eu
e, portanto, como eu, ela é um ser de vida e é morada de outras
vidas. Por isso não há motivo para ter medo, para evitar a
aproximação, para me distanciar do belo e do natural da terra.
Dia 10/11/2016
Eu agradeço à areia por ter aguçado os meus sentidos, percepção e
imaginação. Ela me deixou sentir sua textura macia que, embora
tenha a mesma composição do meu corpo, em nada se parece com a
minha pele, unha e cabelo. Mas temos em comum o fato de estarmos
vivas.
Pude senti-la acariciar a minha pele quando ia ao seu encontro. Pude
enxergar suas cores e seu brilho, e observar quão pequeninos e
delicados são os seus grãos. Pude imaginar sua história, os caminhos
pelos quais percorreu durante milhares de anos, para hoje estar aqui
conosco sob a tenda da sala entre árvores.
Os desenhos e movimentos que eu fiz com a areia foram obra
conjunta de nós duas: eu fazia movimentos e ela respondia de
formas que eu não poderia prever. Esse momento me fez pensar nos
ventos e nas forças da natureza, e me fez imaginar que desenhos
estas forças e a aquela areia já puderam construir juntos.
Dia 22/11/2016
Agradeço à bibliografia do curso por me emocionar. Foi lindo
vivenciar cada relato da professora, cada história e todo o significado
por trás de cada livro. Pretendo carregar Maturana comigo pro resto
da vida, dos autores o que mais me tocou o coração. Levo dessa aula
a certeza de que ainda quero ser professora um dia – algo que, na
verdade, eu sempre soube, mas momentos como esse reforçam essa
vontade.
Ser professora significa que o conhecimento nunca vai acabar. O
conhecimento continua a ser construído em conjunto: professores
ensinando alunos, alunos ensinando os professores, alunos ensinando
alunos... O trabalho em escritório não me acrescenta em nada, mas o
trabalho em sala de aula, sim. Se eu pudesse, ficava o dia inteiro na
faculdade/escola. Para o resto da vida.
Mas também queria mudar o que a escola é hoje. Queria que ela
fosse um lugar de mais liberdade, mais acolhedor. Queria que ela
fosse um lugar de maiores possibilidades, e que não passasse pros
alunos que suas únicas opções aceitáveis como profissional são
restritas às profissões óbvias, como direito, engenharia, economia,
comunicação. Queria ter descoberto na escola um monte de coisa que
sei hoje! E por que não? As crianças têm tanto direito de conhecer o
mundo como eu o conheço hoje. Quero que as crianças possam fazer
menos provas e possam brincar mais; criar mais; revolucionar mais.
Desejo passar pros meus alunos a mesma emoção que a Ana passa
para a gente a cada aula.
Dia 29/11/2016
A festa de Natal foi muito linda! Agradeço a todos que estiveram lá
construindo esse momento juntos. Provar a comida que fizemos me
fez querer fazer essa comida para todo mundo. Me fez querer levar
pro meu Natal em família e dizer “olha só que delícia o que vocês
estão comendo, isso é comida viva!”.
Quando você descobre suas verdades, dá vontade de gritar pra todo
mundo o que está estampado na cara deles.
Dia 01/12/2016
Agradeço ao filme Les Ballons Pirates de Rio por me mostrar uma
realidade que não conhecia antes. Nunca havia conhecido um
baloeiro, não sabia quão bonita podia ser a paixão que eles têm pelos
balões. Até então, só sabia que os balões eram proibidos no Brasil,
mas nunca soube que eles eram legalizados em outros países. É
bonito ver a paixão atrelada a esse traço cultural tão forte, que
representa o nosso país. É triste ver que, como sempre, investe-se
apenas no lucro e falta vontade política para resolver questões tão
simples, que são de cunho emocional e de verdadeira importância
para o povo brasileiro.