Joao Roma CONCLUSÃO 2016.2



Agradecimentos das aulas de Biochip

Dia 25/08/2016
Agradeço à corda de sisal pelo balanço que lembra o mar, que gerou em mim o ritmo acolhedor do coletivo. Agradeço à corda pelo tempo de volta à barraca, que gerou em mim a possibilidade de ver o que não vi na ida. Agradeço à corda pelo fato de sustentar meu corpo, que gerou em mim a sensação de ser só mais um dentro de um corpo maior.

Dia 30/08/2016
Agradeço à corda de sisal pelo fato de me aproximar com o outro, que gerou em mim notar as diferenças de ritmos e iniciativas das partes individuais e uma equalização pela corda e também nos diferentes momentos de receber e de entrar com suas variações de adaptabilidade.

Dia 01/09/2016
Agradeço à cenoura pelo fato de ser tão múltipla e única em suas formas e desenhos, que gerou em mim uma sensação de pertencimento ao ver a composição visual das tábuas sobre a mesa, tudo parecia tão diverso e ao mesmo tempo tão uniforme. Agradeço à cenoura pela cor do seu bagaço que gerou em mim uma lembrança de terra, e dunas.

Dia 06/09/2016
Agradeço à corda de rami pelo fato de me permitir fazer balanço comigo mesmo, que gerou em mim uma sensação de equilíbrio e de potência da força que tenho e nem sempre é acessada. Agradeço à corda de rami pelo conforto encontrado no outro e ainda assim continuar a me movimentar e a me explorar, que me fez refletir sobre relacionamentos e suas relações.

Dia 15/09/2016
Agradeço ao potinho de repolho pela transição de cores ao decorrer do tempo, que gerou em mim a sensação de transitoriedade, e memória, me fez pensar sobre a sequência de fatos ao longo da vida a serem vistos menos como etapas isoladas e mais como parte de um processo como um todo.

Dia 29/09/2016
Agradeço a argila pelo fato de me possibilitar um contato com um ser vivo com mais de 15 mil anos de existência. A experiência gerou em mi nostalgia, e me surpreendi com a capacidade que tenho de orar enquanto me relaciono com as coisas no mundo.

Dia 29/09/2016
Agradeço ao repolho, à beterraba, ao inhame e à abóbora pela beleza de suas cores, que gerou em mim encantamento ao ver as tonalidades no suco em forma líquida e no bagaço como massinha de modelar. Agradeço ao coração pulsante da beterraba no voal pelo gesto da mão que aquece o bagaço. Agradeço pelo doce do líquido, que gerou em mim a surpresa da diferença entre o morder e o beber.

Dia 06/10/2016
Agradeço ao amendoim, à aveia, e ao trigo pela minhoquinha que sai do moedor que gerou em mim o vivo do alimento. Agradeço ao pilão pelo seu som de coração que gerou em mim uma nova percepção de marcação de tempo. Tum, tum, tum, tum.

Dia 11/10/2016
Agradeço aos brotos de girassol e trigo pelos diferentes gostos de tons de verdes experimentados, que geraram em mim a possibilidade de colorir de acordo com o gosto. Agradeço também às sementes, à terra e aos brotos pelo tempo de espera até nascerem que me fizeram repensar o tempo de duração do comer em relação ao que é comido.

Dia 18/10/2016
Agradeço ao aipim pelo sua cor branca, que enquanto o ralava gerou em mim a sensação de estar brincando com o um gizão de quadro negro. Agradeço ao aipim pelo leite torcido à quatro mãos que gerou em mim a sensação de que fazer junto é bem mais legal que fazer sozinho. Agradeço também ao aipim, pela goma que decanta no fundo do leite, que parece não ser nem sólida nem líquida e me fez pensar no quanto podemos ser fluidos e maleáveis também como pessoa.

Na Horta em São Jose do Caetitu
Agradeço ao aipo por ter saído pela metade durante a colheita na horta, que me fez ajoelhar na terra para retirar o restante e logo me fez conhecer as minhocas e caramujinhos com quem dividimos a terra.

Agradeço ao chuchu bebê pelo seu desenho e sabor que gerou em mim percepção das diferentes possibilidades de tempo, de forma, e de desenho que a proximidade com a horta possibilita e como isso não é possível dentro do nosso sistema de consumo e distribuição.

Agradeço à bacia branca pela saudade gerada em sua ausência que me fez perceber a importância da apreciação da beleza do que nos é oferecido como alimento durante o desenho de comer.

Agradeço ao tempo, pelos vasos de plantas (velhos, sem plantas, só restos secos) que pus do lado de fora da janela. A natureza fez por ela mesma, talvez pombos ou passarinhos, semearam e começou a crescer vida. E as sementes que passaram da hora de comer pediram para voltar para a terra. Teve até gêmeas.

Agradeço a Ana Lucia pelos montinhos de folhas secas e pela conversa gerada a seguir, que contou como as folhas secas só são lixos para quem não tem visão espiritual, já que cada uma pode ser uma coisa que já foi ou que ainda vai ser. "Essa uma tartaruga, essa um besouro grande, olha esse amarelo como é forte", olha essa como é comida por alguém. Arte é ver o que quiser ver". Me contou, varrendo folha por folha para o montinho.

Agradeço à agrofloresta pela bagunça "desumana", não cartesiana, que gerou em mim a percepção de que o dito ruim pode ser bom, e melhor que walt disney.

Agradeço ao biochip, por me oferecer a possibilidade de me reconectar comigo mesmo, me reapropriar do meu próprio eu, do meu corpo, das minhas decisões, das minhas escolhas. Agradeço ao alimento vivo pela subversão dos valores da casa, que proporcionou a descoberta de novos lugares e de nova vida a lugares antes inabitados. Os frascos transparentes que armazenam as sementes e dão vontade de brincar, de misturar e criar, o fogo que sai de baixo e vai para cima da mesa, a montanha que sempre esteve lá e resolveu se mostrar e me mostrar novas possibilidades de resistência, aliviando certa inquietação por timidez e revolta, que por momentos me impediam/impedem de caminhar. Agradeço por ver a beleza da unicidade de cada coisa criada, e a forma como a natureza vai seguindo em transformação sem se gabar de cada obra criada ou culpa por erro. Agradeço também a inteligência que poe a cenoura a crescer em direção ao sol, que gerou a percepção de que essa é a mesma de que nos coloca para nascer, andar, crescer e seguir construindo em conjunto. Agradeço a Ana pelo seu desprezo ao que não merece atenção, que gerou em mim uma nova forma de persistir sem o embate, e a possibilidade de aprender com qualquer coisa viva, observável e absorvível. Agradeço aos filhotes, por me ensinarem a graça do brincar de errar, pela fofura destemida em suas tentativas e frustrações. Obrigado ao desenho em rede de corda de sisal pela segurança e confiança, me fez lembrar o balanço do mar, e me ensinou que quando a saudade bate, basta darmos as mãos em roda para cantar que o movimento do mar volta a emanar de cada um.