Mariana Magalhaes CONCLUSÃO 2016.2



Agradecimentos das aulas de Biochip

Dia 25/08/2016
Agradeço à corda de sisal por me ensinar que, vivendo em teia, não devemos nos responsabilizar pelo outro. Não devemos deixar de fazer algum movimento pelo outro. Mas, para ele se sentir seguro e confortável, devemos afrouxar a corda para que ele mesmo encontre o seu lugar na teia, e, ao encontrá-lo, devemos estar lado a lado vivendo a segurança e o conforto em união e comunhão.

Dia 30/08/2016
Agradeço à corda de sisal pelo fato de ter me ensinado que, quando vivemos em união na teia, a confiança não deve se dar através da lógica, mas pelo movimento gerado por todos em união. Isto gerou em mim a percepção de que a gente só alcança o que procura através da vivência; da experiência; da repetição. A repetição é o que traz o aprendizado.

Dia 01/10/2016
Agradeço à cenoura por ter me ensinado a comê-la. Antes da experiência de hoje, eu nunca havia comido cenoura crua e mal comia a cozida, a não ser quando misturada com outros alimentos. Ela despertou um novo sabor em minha boca e em minha vida. Acredito que o manuseio nos deixou íntimas e que nunca mais deixarei de apreciá-la. Ela despertou minha relação com a terra e com o céu. Gratidão!

Dia 06/10/2016
Agradeço à corda de rami, primeiramente por ter me encantado com o seu perfume. Através do exercício em dupla, a corda gerou em mim a sensação de unidade antagônica, que me sintonizou com a minha dupla através dos diferentes experimentos que vivenciados. Percebi que, para haver confiança e conforto, cada um deve respeitar a própria disposição da corda em seu corpo e seu próprio movimento. Ao mesmo tempo senti que em nossa ligação, qualquer sutil movimento gerava o movimento no outro; estávamos super ligadas. No exercício individual me senti muito à vontade com a corda para descobrir em mim mesma movimentos inusitados e interligados. Agradeço à corda por ter permitido movimentos a partir de partes do corpo nunca antes pensadas. Fiquei mesmo com saudades da corda.

Dia 13/10/2016 Agradeço às folhas do repolho verde e branco e à cenoura por terem me recordado a beleza que vi, na infância, nos desenhos de areia. Fiquei encantada com os desenhos da turma e estou feliz em saber que ele, vivo, ainda vai se transformar e gerar em mim novos encantamentos.

Dia 15/10/2016 Agradeço ao desenho vivo no potinho de vidro por ter gerado a surpresa positiva das diferentes transformações que se deram em seu pequeno ecossistema. Agradeço por ter me permitido acompanhá-lo em seus processos vivos, desde a cor, o som, e agora o sabor. Agradeço à soja por ter produzido um alimento tão rico e saboroso de uma forma tão simples. Agradeço aos temperos por terem dado ainda mais sabor aos nossos alimentos, gerando lindas cores que encantam e dão ainda mais vontade de comer.

Dia 29/10/2016 Agradeço ao repolho, à abóbora, à beterraba, ao inhame e à maçã. Ao repolho, por mais uma vez me encantar com suas cores, agora numa nova configuração, em forma de suco, trazendo a surpresa de um novo sabor para o meu corpo e minha alma. À abóbora, tão presente em minha vida, mas até então, cozida, por me encantar com a possibilidade de consumí-la crua e descobrir a verdade viva de seu sabor. À beterraba, por mais uma vez em minha vida como um lindo pigmento de colorir e agora em sua forma pura, com um sabor singular e doce. Ao inhame por dar uma cor branca e opaca às misturas, e à maçã por sua doçura, que misturada aos sucos trouxe novas sensações.

Dia 04/10/2016
Agradeço primeiramente à leitura que a Ana fez de um livro muito antigo, que gerou em mim ainda mais esperança e fé no que estamos aprendendo durante esta jornada do Biochip. A leitura nos mostra que o que estamos vivendo hoje, como uma revolução, já é uma ideia muito mais antiga do que imaginávamos. Agradeço ao trigo, ao amendoim e à aveia germinados e também ao pilão e aos moedores, por nos recordarem de um movimento antigo que se instala no nosso biochip, que era feito pelos nossos antepassados para a preparação dos alimentos. Agradeço aos temperos por darem ainda mais sabor à nossa mistura e à massa do pão vivo que será desidratada, por gerar em mim uma ansiedade positiva de comê-la na próxima aula.

Dia 06/10/2016
Agradeço às conchas por gere gerado em mim sensações tão diversas. É difícil explicar com palavras as sensações que o contato físico com elas gerou em minha alma: ao percorrerem meu antebraço, causando o arrepio e depois por cada um dos meus dedos; ao colocá-las sobre meus olhos; ao pressioná-las sob meu terceiro olho e praticar uma respiração relaxante; ao observar meu entorno através de um buraco em uma delas; pela massagem que fizeram em meu rosto ao apoiá-las nas pontas dos meus dedos indicadores; Agradeço por ter entendido sobre sua duplicidade: uma de nossas infinitas características comuns. Agradeço pelo carinho que elas fizeram em mim; pelo afeto. Foi uma surpresa fantástica o contato com as conchas. Agradeço também ao pão vivo, que preencheu minha boca com um sabor fantástico de vida!

Dia 11/10/2016
Agradeço à chicória, à couve, ao trigo, ao girassol e ao hortelã por terem me surpreendido com o sabor de seus sucos. Sempre achei que o hortelã fosse ser o mais doce, quando achei o de chicória, planta que nunca tinha experimentado, o mais doce e saboroso: fiquei com vontade de comer chicória. Foi uma experiência inusitada que acordou meu paladar para a identificação do sabor de cada planta e meu olhar para as diferentes colorações do verde. Agradeço também à maçã por sempre adoçar de forma sutil, trazendo um sabor gostoso até pros sucos em que tive mais dificuldade de tomar.

Bolinho do pescador
Agradeço ao pescador por ter ensinado uma receita tão simples que representa tanto da nossa cultura brasileira: o bolinho de farinha de mandioca com coentro, alimento vivo, feito com uma farinha viva, preparada por nós em sala. É muito especial participar da preparação lenta de uma receita: em uma aula fazer a farinha e colocá-la pra secar, e na outra ver o resultado aplicando-o a uma nova receita. Nessa aula passei por muitos desafios, neste caso eu não gosto muito de coentro. Mas é muito bom poder provar sem preconceitos, com a alegria do preparo. E gostar. Não apenas pelo gosto, mas por o que aquilo representa para a mudança interna muito intensa que vem acontecendo em mim.

Aquecidos
Agradeço pela oportunidade de comer uma comida viva que traz o conforto do calor, sem que seus ingredientes percam a identidade biológica que alimenta o meu corpo. Tive a oportunidade de provar uma sopa de aveia com agrião que me trouxe uma nova experiência do alimento vivo, além de um novo sabor pro meu paladar: a picância do agrião, que eu não conhecia.

Maçã e batata
Agradeço aos “pommes” por terem confundido meu paladar e me dado a oportunidade de comer batata crua, coisa que antes eu nunca pensei que seria possível. A mistura ficou deliciosa e me fez perder o preconceito: um dos muitos que perdi ao iniciar o curso do Biochip.

Aquecidos II
O risotto sempre foi um dos meus pratos preferidos. Sempre gostei do arroz al dente e das misturas cremosas. Agradeço à cevadinha germinada por ter me dado a oportunidade de comer o melhor “risotto” da minha vida. Uma deliciosa mistura viva e que aqueceu minhas memórias afetivas com seu calor suave, que respeita o chip vivo do alimento. Os temperos também despertaram minhas memórias afetivas por serem os meus preferidos: cúrcuma, limão e alho. Gratidão!

As cores das frutas
Agradeço às frutas pela deliciosissíma oportunidade de desenhar com as suas lindas cores. Agradeço à oportunidade de aprender sobre a temperança na hora do preparo: tornar o momento de comer uma celebração da vida e não uma banalidade. Agradeço à oportunidade de poder presentear meus colegas com o meu desenho e também ser presenteada, e pela oportunidade de comer um alimento vivo e doce na aula.

Celebração de natal
Agradeço ao natal e ao Biochip por terem me dado a oportunidade de celebrar com frutas e misturas deliciosas. Fiquei encantada com a massinha de amendoim com passas, que já estou me preparando para fazer no meu natal em família, e pela calda de banana com canela e limão. Foi muito divertido desenhar com as frutas temas natalinos e presentear alguém com aquilo que fiz com tanto carinho, além de ser presenteada com um lindo desenho.

Filme e visita dos baloeiros
Agradeço imensamente por ter visto o filme e depois ter conversado com o baloeiros. Eu não tinha ideia do que era um balão e muito menos da paixão dessas pessoas pelo que fazem. Ver pessoas apaixonadas pelo que fazem me traz encantamento. Ver pessoas que lutam pela sua arte me emociona. Ver como o sistema trata a cultura popular brasileira me entristece, mas são essas pessoas, que lutam, que trazem esperança para um mundo com mais respeito ao nosso povo. Agradeço aos balões por unirem tantas pessoas através da arte, agradeço aos balões por me ensinarem que a arte pode ser efêmera e que a sua magia é essa. Agradeço pela oportunidade de mudar de opinião sobre o tema, que antes era totalmente influenciada pela tv. Nada mais gratificante do que ouvir de quem faz, de quem luta, de quem é apaixonado e apaixona outras pessoas. Viva o balão!

Festa da prova
Agradeço imensamente à festa da prova por ter me dado a oportunidade de colocar em prática tudo o que vivemos ao longo desse semestre, pela oportunidade de criar com minhas próprias mãos e poder oferecer esta criação aos meus colegas. Agradeço pela oportunidade de poder expressar oralmente o que vivi. Foi muito gratificante provar o que cada um trouxe, o que cada um em suas casas pensou, montou e ofereceu na nossa barraca. Foram muitos sabores, cores e ideias deliciosas e vivas! Que permanecerão vivas em mim para sempre. Agradeço por poder provar, que era a minha maior dificuldade em relação à alimentação, agradeço pela partilha… Gratidão!

CONCLUSÃO
É difícil expressar com palavras tudo o que esse curso me proporcionou. Este foi meu último período da faculdade, e eu buscava aulas que pudessem me trazer um momento de paz diante de toda a correria e ansiedade que o projeto de conclusão gera, ainda mais quando se está trabalhando fora e tem que lidar com responsabilidade em dobro. Ao mesmo tempo eu vinha vivendo mudanças radicais em meus hábitos alimentares, vivendo um processo de reeducação alimentar. Ao me matricular na matéria, achei que não seria fácil, mas entrei como um exercício complementar dessa mudança que nascia em mim. No início tinha medo do que seriam os ingredientes, de como seria provar, de como seria o convívio com o Biochip. As aulas foram acontecendo, e eu fui perdendo o receio, fui aprendendo sobre o prazer do provar! Minha maior dificuldade sempre foi essa, a maioria das coisas que eu provava, rompendo esta forte barreira interior, eu gostava, e muito. No Biochip aprendi a provar sem preconceitos; sem ficar pensando em cada ingredientezinho que compunha a receita, e comecei a me encantar com o todo, com o resultado dos desenhos que fazíamos, com os nossos modelos vivos e suas diferentes cores, aromas e sabores! A quantidade de coisas que passei a comer depois de iniciar o curso é realmente impressionante, tem pessoas que dizem que não estão me reconhecendo, tem coisa melhor do que mudar? A vida é mudança, é curso de um rio que sempre se diferencia de si mesmo a cada instante, e eu sou como o rio. Trago em mim um aprendizado para o resto da vida; uma nova maneira de lidar com o momento de comer e com o alimento. Aprendi sobre a energia do vivo, sobre a celebração da vida, sobre perder preconceitos. Agradeço imensamente a você, Ana Branco, te admiro muito! Obrigada por presentear o mundo com o seu trabalho. Obrigada por todos os ensinamentos, por todas as palavras e comentários sobre qualquer assunto, de cada coisa que você disse tirei lições pro resto de minha vida. Tembioporã!