Sofia Esquenazi CONCLUSÃO 2016.2



Agradecimentos das aulas de Biochip

Dia 25/08/2016
Eu agradeço à corda de sisal pela oportunidade que ela me proporcionou de visualizar e compreender os laços de interação de um grupo, estes que existem a todo o tempo nas relações cotidianas, mas de forma invisível. Também agradeço pela surpresa que a experiência me proporcionou com a questão da segurança e da confiança que fazer parte da teia, sentir e me jogar nela gerou em mim. O sentimento de estar entrelaçada, unida, segura e dependente de um grupo de pessoas devido a uma corda também foi muito surpreendente. Consegui sentir a tranquilidade e a calma da interação com a corda e com as pessoas. A corda, a meu ver, representa os laços de convivência humana que com essa vivência ganharam matéria e puderam ser visualizados, mas eles estão sempre presentes na vida de maneira invisível. Foi uma ótima vivência e o sentimento que ficou guardado em mim foi o de conexão, além do que pude confirmar que a "saudade da corda" é algo real depois que a deixamos. Para mim, ele foi real porque a corda gerou conforto e segurança, sensações muito boas, que quando “chegam ao fim” faz falta.

Dia 30/08/2016
Eu agradeço à corda de sisal pelo aprendizado gerado por ela na vivência em questão. A partir dessa vivência, pude perceber que a consciência individual só pode ser formada através da convivência em grupo, o que reafirma a importância das interações e de “viver em rede”. As estrelas formadas pela corda de sisal representam pra mim as redes de pessoas as quais estamos inseridos. Nelas, quando organizadas com esforço coletivo, é possível formar uma tensão que representa a confiança. Ou seja, entrelaçada na corda com os meus colegas, posso me despreocupar, posso confiar completamente em todos, posso ter o sentimento de liberdade e soltar o meu corpo. Outro fato interessante que a experiência despertou nos meus pensamentos é a percepção de que a rede funciona perfeitamente bem porque não há alguma liderança, não há ninguém se destacando, não há ninguém diferente dos demais. Todos são iguais e estão lado a lado da mesma forma. A partir disso, pude entender que uma sociedade horizontal, sem hierarquias, sem poderes, que contradiz a construção piramidal, pode funcionar muito bem, com valores inseridos, confiança e conforto de estar em grupo, estar interagindo e aprendendo.

Dia 06/09/2016
Eu agradeço à corda de rami por ter me proporcionado enxergar e sentir a minha relação com o outro e comigo mesma. Na vivência em dupla, pude perceber que qualquer movimento feito por alguém gera uma reação oposta no outro, o que faz uma alusão às relações e interferências que alguém pode causar em outra pessoa. Também percebi que quando nos movimentamos e deixamos a corda se ajeitar, é possível encontrar o conforto estando conectado com o outro. Já na vivência individual com a corda de rami, o que mais me chamou a atenção é o fato de que partes do meu corpo, que antes eu não imaginava que podiam se relacionar, podem estar conectadas. E isso tudo é intensificado e ocorre melhor quando movimentamos a corda de forma inconsciente, deixando-a se ajustar naturalmente e não interferindo racionalmente em sua disposição.

Dia 08/09/2016
Eu agradeço ao filme ponto de mutação por pensamentos maravilhosos que este me incentivou a ter. A partir dele, pude compreender que a importância do conhecimento que quando compartilhado, não morre com quem o possui, mas permanece com aqueles que o receberam. Além disso, entendi que o mundo vive uma grande crise de percepção. Todos deveriam tentar buscar a si mesmo e deixar se seguir as regras impostas por quem quer que seja: sistemas, políticos, religiões, pois no fim tudo que resta é apenas nós. O que deixaremos quando partimos é o principal motivo de estarmos aqui, e o que estamos deixando para as próximas gerações não é bom. O filme também me fez refletir sobre o fato de que nós não evoluímos no planeta, evoluímos com o planeta, então a dinâmica evolutiva básica não é a adaptação, mas sim a criatividade, que surpreende, transcende a si mesmo. O sistema humano e o sistema ambiental, por tanto, não se adaptam um ao outro, eles co-evoluem, o que remete às vivências com as cordas de sisal e a ideia de que somos todos parte de uma teia inseparável de relações.

Dia 13/09/2016 Eu agradeço ao repolho roxo, ao repolho branco e à cenoura pela oportunidade de aprender um pouco sobre a origem das cores dos vegetais. Também agradeço pela oportunidade que o contato com esses vegetais me proporcionou, o fato de sentir o toque, as texturas, os cheiros, as cores e os formatos de cada um. Agradeço também ao lindo desenho vivo que pude fazer somente com essas matérias naturais, tão simples e cada um com sua origem, sua beleza e suas particularidades.

Dia 15/09/2016 Agradeço à vivência da fermentação pela oportunidade de ter percebido que os vegetais cortados e colocados no vidro – repolho roxo, repolho branco e cenoura – quando não estão em contato com o ar, começam a fermentar, tomando gostos, formas e cheiros completamente diferentes das originais. Esse processo, que podemos visualizar muito claramente, nos faz perceber todos os microrganismos que já estão nesses alimentos e quando são estimulados (com a retirada do contato com o oxigênio), começam a fermentar, se desenvolvendo e criando verdadeiros pró-bióticos. Gostei disso porque nos mostra as diversas possibilidades, gostos e texturas que os mais simples vegetais podem assumir, enriquecendo muito a alimentação viva e incentivando a mudança dos hábitos alimentares. O fato de ter cortado e preparado os alimentos com as minhas próprias mãos também me proporcionaram a percepção de como o nosso contato com o que vamos comer é importante, o quanto os alimentos ficam melhores quando participamos de todo o processo de preparo, o quanto o valor daquele alimento aumenta para a gente quando o conhecemos por completo. Confesso que primeiramente, ao sentir o cheiro forte proveniente do fermentado, tive uma resistência em experimentar. Mas quando misturado com os outros alimentos frescos e temperos, o sabor e o visual gerados foram surpreendentes, quebrando um paradigma pessoal meu que é o da alimentação ruim, o paladar infantil. Espero cultivar esses hábitos alimentares e dessa forma reconstruir minha relação com os alimentos, com a minha saúde, com o meu corpo, com os meus valores e as minhas origens indígenas. Algo muito interessante relacionado aos indígenas é que estes consideram todo o preparo da comida uma forma de reza e conexão. Essa espiritualidade é algo que quero resgatar.

Dia 22/09/2016 Agradeço ao filme “Camelos também choram” pela oportunidade de reflexão quanto aos povos diferentes, que estão desconectados do mundo ocidental moderno e dessa forma cultivam rituais tradicionais, vivendo integrados ao meio com muita religiosidade, espiritualidade e respeito à natureza. Com o filme, pude perceber claramente que o homem e os animais, como as cabras e os camelos, estão num mesmo patamar, sentem sentimentos semelhantes e devem ser tratados da mesma forma. A tentativa da família do deserto mongol de aproximar o recém-nascido camelo albino da mãe que o rejeitava é fascinante. É incrível perceber que isso aconteceu por algum motivo que mexeu com o pensamento do camelo mãe, seja o doloroso parto que pode ter a traumatizado, ou algum tipo de depressão pós-parto ou até mesmo a rejeição devido ao fato do não reconhecimento pelo filhote ser albino e, portanto diferente. Isso me levou a entender que sentimentos muito parecidos com os nossos regem também os animais considerados irracionais e determinam as suas escolhas e vidas. Isso ficou mais claro ainda com as cenas de sofrimento do filhote devido à essa rejeição pela mãe e a lágrima que escorreu dos olhos dela quando ela por fim amamenta o filhote. Assim, consegui visualizar todo o conceito de família e afeto entre mães e filhos que existem entre nós, homens, e também entre os outros animais. A forma com que a família mongol interage e respeita os animais e a natureza no geral também é muito interessante, pois nela pude sentir a pureza primitiva. A relação é natural e a partir dela, ocorre o convívio, a interação e o respeito entre ambas as partes – o homem e o natural. Outro ponto que achei muito interessante e agradeço por ter percebido foi o contato das crianças mongóis com a tecnologia, com o mundo ocidental e o desconhecido. Pude sentir o medo que os mais velhos demonstravam pela ameaça que essa aproximação podia ocasionar, fazendo associações às suas lendas e tradições.

Dia 27/09/2016 Agradeço à argila pela possibilidade de percepção que ela me proporcionou ao poder compor diversas formas de acordo com cada toque, cada sentimento de cada pessoa. O que senti foi que a argila responde com diferentes formatos, texturas e ideias cada tipo de ação e sentimento que lhe é imposto. Também agradeço por ter entrado em contato com a argila, esse elemento natural, que carrega em si mesmo muita história, muitos restos e vestígios de milhares de anos atrás. Ao pensar nisso, pude imaginar diversas situações que o mínimo grão de argila que se encontrava na minha mão já pode ter vivenciado, o que foi muito bonito e emocionante.

Dia 29/09/2016 Agradeço à beterraba, ao repolho roxo, ao inhame, à maçã e à abóbora pela oportunidade de me proporcionarem visualizar diferentes lindas cores e sabores únicos e exóticos. O paladar e o visual me remeteram a diferentes sentimentos, lembranças e sensações, me fazendo explorar um mundo interno vivo e belo. Os gostos diferentes do suco e do resíduo de cada vegetal também foi algo surpreende que eu realmente não estava esperando, assim como os diversos sabores que combinações podem propiciar. Essa vivência sensorial foi muito gratificante e única, a sensação final foi de ter contato com a essência de cada cor em si e não com cada vegetal.

Dia 04/10/2016 Agradeço às sementes germinadas de trigo, aveia e amendoim pela oportunidade que elas me proporcionaram de participar de todo o processo produtivo de um alimento. Pude perceber que os atos de pilar e moer não compõe simplesmente a ação mecânica sobre a semente, mas também remetem muito a quem está realizando a ação, que com os movimentos repetitivos é possível se concentrar, meditar e sentir a beleza de diferentes elementos. Pude entender que a industrialização de alimentos nos priva dessas etapas que são essenciais no preparo da comida e que podem nos poupar de diversas “necessidades” impostas nos dias atuais, como aulas de ginástica e de meditação. Para mim, foi surpreendente entender que é possível meditar e se exercitar ao mesmo tempo em que preparamos sementes para produzir um alimento tão natural e nutritivo como o pão vivo. Outro fato interessante e gratificante para mim foi a partir da leitura e ensinamentos, entender a diferença entre o fogo da morte e o fogo da vida, e também que ao ser germinada a semente é “abraçada pelos anjos da água e do ar”, algo que achei muito bonito e emocionante.

Dia 11/10/2016 Agradeço primeiramente ao trigo e ao girassol, que depois de plantadas em terra germinaram, me proporcionando a emoção de ver vida crescendo depois de plantada pelas minhas mãos, com a minha ajuda ao colocar os vasos na luz e molhar a terra quando necessário. Essa experiência e reflexão foram únicas para mim, pois percebi que é possível que nós, humanos, saiamos da posição de predador e viramos criador e coletor do que criamos e cultivamos. Também me surpreendeu o fato de que de acordo com a incidência do sol, as plantas podem se desenvolver em tons de verde diferentes, mesmo sendo originárias da mesma semente e mesma terra. As plantas com maior incidência do sol ficaram com um tom de verde mais escuro, enquanto as com menos incidência ficaram com um tom de verde mais claro. Isso mostra a variedade de aspectos visuais que a natureza pode nos trazer, apenas devido a maior ou menos taxa de fotossíntese de plantas e consequente produção de clorofila. Por fim, agradeço ao trigo, ao girassol, à chicória, à hortelã e à couve pela oportunidade de me propiciarem visualizar os lindos tons de verde – cor esta que tem a maior variedade de tons existentes – e também de provar esses tons de verde, sentindo o gosto de cada vegetal, o gosto de cada verde. A mistura de todas as cores e sabores, em conjunto com o suco de maçã proporcionou um lindo sabor, um verdadeiro suco verde.

Dia 13/10/2016 Agradeço ao belo filme de Coline Serreau, “La belle verte” pela ótima crítica que este realiza com muito humor. A partir desse filme, pude refletir a respeito do sistema capitalista e dessa sociedade egoísta em que vivemos. Ficou evidenciada em vários momentos a hostilidade em que vivemos; o jeito intolerante com o qual lidamos com as diferenças; o mal que fazemos à natureza e a nós mesmos ao ingerir alimentos industrializados e comer carne. Surpreendeu-me o fato de no filme existir um planeta com sociedade tão avançada que não precisa de dinheiro, objetos materiais, tem expectativa de vida tão longa, se comunicam por telepatia, vivem em total contato com a natureza e tudo o que precisam conseguem pelas ondas cerebrais. E esse planeta enviava à Terra um de seus habitantes, para que tentasse mudar a realidade dos terrestres e fazê-los perceber sua deprimente realidade. Outro ponto legal foi a consideração de que Jesus foi um desses enviados e acabou sendo crucificado. O que o enviado pelo planeta verde fazia era “desconectar” pessoas que a tratavam mal, que se tornavam livres de paradigmas e abriam a mente para novas descobertas. Isso me fez refletir sobre o quão diferente pode ser quando paramos para pensar e criticar, e nos permitimos a conexão com outra realidade, com outro nível de conhecimento.

Dia 18/10/2016 Primeiramente, agradeço a pouca água que lavei as mãos, coisa que fazemos sempre nas vivências que envolvem o contato com alimentos, mas dessa vez em especial, eu reparei e refleti que o jeito que lavamos as mãos com as seis bacias é uma economia de água imensa. E essa forma alternativa e ecologicamente correta de lavar as mãos cumpre perfeitamente seu principal objetivo, além de evitar o desperdício. Isso ocorre porque é um ato de contato do nosso interior com a nossa mão e com a água. Ao lavar as mãos dessa forma, tudo é realizado conscientemente, ou seja, eu percebo a minha mão, a sujeira saindo dela e percebo também a diferença de cores entre as bacias de água. Também agradeço ao aipim, macaxeira, mandioca pelo contato com essa raiz tão importante para os indígenas. Agradeço pela oportunidade de sentir e ouvir o silêncio do seu branco interior e as suas possibilidades tão diferentes de alimentação: o leite e a farinha. Foi muito gratificante fazer o tipiti de pano, entender esse mecanismo indígena de retirar o líquido dos alimentos. Também gostei muito de conhecer o tipiti de palha de origem indígena que personifica a importância do trabalho em coletivo em todos os tipos de atividades. Nada é possível de se realizar sozinho. A interação e o contato com os outros são sempre necessários e facilitam as tarefas cotidianas. É muito bonito perceber essa necessidade de relações que possuímos. Gratidão.

Dia 20/10/2016 Agradeço pela oportunidade de ter visto o belo resultado da farinha de mandioca feita por nós, esta que foi seca ao sol, como uma típica farinha de telhado, possuía um branco único e sereno. Agradeço também ao coentro, à cebola, ao pimentão, à lentilha, que foram cortados por nós de maneira bem pequenininha para que o sabor fosse aproveitado ao máximo. E dessa forma, misturados com a farinha de mandioca compuseram a bela mistura que deu origem ao delicioso bolinho de nanã. Esse bolinho, o qual representa a genuína comida de viajante, tinha um sabor único, o qual eu realmente não esperava e surpreendeu meu paladar e também me surpreendeu visualmente. Pretendo reproduzir o bolinho de nanã mais vezes e me surpreender cada vez que comê-los de forma diferente. Gratidão pelo alimento vivo. Tembiu Porã Aguijeveté.

Dia 27/10/2016 Agradeço ao filme “Futuro Roubado” da BBC Londres pela reflexão proporcionada a respeito das substâncias contidas em plásticos, detergentes e enlatados, que modificam estruturas reprodutivas de animais e atuam sobre o sistema endócrino, podendo agir como hormônio feminino, afetando assim a fertilidade masculina e aumentando as chances de câncer de mama em mulheres. Esse documentário me fez refletir sobre a nossa sociedade estar vivendo um momento histórico que tem grandes chances de ser alterada geneticamente para um lado ruim, devido ao uso irresponsável de descobertas tecnológicas. Para isto, dependerá somente da capacidade de tomada de decisão de cada um, com consciência e ética, já que se dispõe do conhecimento da problemática bem como dos caminhos que se poderá trilhar para sanar este equívoco da nossa civilização. Agradeço também ao documentário “A Carne é Fraca”, quem embora tenha me chocado profundamente e me feito chorar incessantemente, é totalmente necessário de ser visto para a conscientização e reflexão a respeito da cruel indústria alimentícia. Esse filme me fez refletir sobre o impacto do consumo da carne tanto ambientais, quanto sociais ou questões que envolvem a saúde humana e direito dos animais. Então, o que ficou desse filme para mim é a reflexão da realidade que vivemos e que muitos ainda tentam negar ou omitir, mas que deve ser repensada, pois vai muito além da crueldade com os animais. Mesmo que a decisão final da população não seja parar de consumir carne, pode ser feita uma redução significativa desse ato. O que se pode fazer também é exigir do fornecedor uma cautelosa fiscalização desse produto, já que existem várias empresas no Brasil que não obedecem às leis de produção, causando vários problemas ambientais sem sofrer qualquer punição. Depois desses filmes, pretendo ser mais cautelosa, analisar os produtos que consumo. E pretendo primeiramente reduzir para futuramente não consumir mais carne. Quero fazer isso pelos animais, pelo meio ambiente e também por mim.

Dia 01/11/2016 Agradeço às terras de compostagem de um mês, seis meses e um ano por terem me feito parar e refletir sobre como é formada a mãe terra, esta que é responsável pela germinação da vida. Perceber que restos orgânicos e a compõe e diversos seres vivos também foi incrível. Foi muito interessante ver que de acordo com o tempo, o tamanho dos restos de alimentos e a quantidade de animais decompositores iam diminuindo, até se tornarem quase imperceptíveis na terra de um ano em processo de compostagem. O contato com os animais decompositores, as minhocas, gongolos e papa-defuntos também foi incrível. Perceber a importância desses que assumem o lindo papel de reciclar a matéria orgânica, além da experiência de entrar plenamente em contato com eles, tocando-os e analisando-os, quebrando paradigmas de medo e nojo, que estavam inseridos em mim, foi muito enriquecedor. Uma análise importante para mim foi quando encontramos um pedaço de plástico intacto na terra de compostagem de um ano. Tal terra estava homogênea e uniforme, macia como um veludo, sem pedaços grandes, pois toda a matéria orgânica havia sido decomposta e o animais se reduzido a microrganismos. No entanto, o plástico, que não é natural nem orgânico, não havia sofrido alteração alguma. Isso foi importante para entender que tudo que é vivo está em constante mudança, fazendo uma alusão com o ser humano e ratificando o fato de que o artificial e inorgânico não são transformáveis e sujeitos a metamorfoses e mutação, sendo assim muito absolutos, paradigmáticos, céticos.

Dia 10/11/2016 Agradeço à areia por ter aguçado a minha prática da percepção ao tocá-la, senti-la e cheirá-la. Algo que me surpreendeu e intrigou durante toda a observação da areia é o fato de que ela é formada por grãos individuais tão pequenos, mas que em conjunto formam o todo da areia que tem características e uniformidade próprias e extremamente diferentes dos grãos individualizados. Outra questão que me chamou a atenção é o fato de enxergar a natureza em toda a dinâmica da areia. Um sopro representava o vento e o desenho que este forma ao tocar a areia no ambiente natural, seja a praia ou o deserto. O pensamento também foi longe ao questionar o quanto aqueles grãos de areia percorreram para estar naquele momento na minha mão. Provavelmente eles primeiramente compuseram uma rocha que se desgastou, mudou de formatos e tamanhos e viajou com a ação da chuva, rios, vento.

Dia 17/11/2016 Agradeço às frutas pelo aprendizado semelhante aos anteriores de que cada formato, cada cor, cada textura possuem sabores diferentes que podem ser surpreendentes. Tal vivência em especial foi muito gratificante porque gerou desenhos vivos deslumbrantes e deliciosos.

Dia 22/11/2016 Agradeço à aula de apresentação da bibliografia pelo contato e citações de alguns pensadores muito inteligentes, como Maturana. O que mais me surpreendeu foram as reflexões de que os objetos se apropriam das nossas vidas, retirando nossas identidades. O pensamento de que as doenças são caminhos e devem ser tratadas como tal também me chamou bastante atenção, devido ao fato de que a partir agora tentarei considerá-las não somente como algo que devemos combater, mas também como oportunidade de mudança.

Dia 29/11/2016 Agradeço à aula de preparação para a prova pelos ensinamentos das receitas com comida viva, pois pude pensar e criar a minha própria. O preparo da torta natalina, ao som das músicas de Natal também foram muito emocionantes.

Dia 01/12/2016 Agradeço ao filme, aos depoimentos da Ana e do baloeiro convidado pelo fato de me provocarem o interesse pela arte do balão e pelo questionamento do porquê tal prática é proibida no Brasil. Entendi a importância de soltar balão para a cultura brasileira devido ao fato de constituir uma manifestação de arte coletiva familiar e demonstração de amor. Também me surpreendeu o fato de que o desconhecimento do fogo nos impede de realizar transformações radicais.

Dia 06/12/2016 Bom, não faz muito sentido pra mim contar pra que serviu conviver com o Biochip sem falar desde onde tudo começou, sobre o que me motivou a pegar essa eletiva.. Pensei bastante antes de contar tudo isso, sobre a questão da exposição e tal, mas acho que preciso contextualizar compartilhando tudo. Eu faço Engenharia Ambiental e estou no oitavo período. E no início para a metade desse ano, me vi afundada numa depressão com diversas crises de ansiedade, uma tristeza que parecia ser infinita, vivendo uma vida que não fazia o menor sentido.. Depois de buscar ajuda psiquiátrica e psicológica e começar um processo de reencontro, fui identificando o que estava me deixando assim.. E percebi que era a rotina que eu estava vivendo. O meu estágio na Petrobras Distribuidora, em meio a muita burocracia e inversões de valores que eu me via tendo que engolir; o meu curso de Engenharia, tão pragmático, cheio de fórmulas e verdades prontas; decepções no âmbito afetuoso e consequentes inseguranças e desconfianças; além do fato de que eu sou de Macaé e não me aproximei muito das pessoas aqui na PUC, me via num cotidiano vindo pra cá sem nenhum contato mais profundo com alguém, somente as coisas mais superficiais e necessárias.. Eu não tinha tempo livre, tempo pra pensar em mim, era uma vida exaustiva de estudar, estagiar, me preocupar, imaginar situações desesperadoras. Não havia prazer algum. Então, cogitei a trancar a faculdade, voltar pra Macaé, estava realmente bem perdida.. Até que, dentre outras coisas em outras esferas, resolvi tentar me reencontrar com esse ambiente da PUC, me reencontrar comigo mesma. Completei 6 meses no estágio e saí dele, peguei menos matérias no período e busquei Biochip com a Ana e Bambu do Vicente para conseguir de certa forma escapar um pouco dessa realidade fria e vazia que eu tava vivendo.. E como ajudou... Já nas primeiras aulas, quando discutimos sobre a teia de interações, o fato de que é impossível desenvolver uma consciência sem a convivência.. Isso me tocou profundamente. Eu sei que tenho uma dificuldade de me relacionar, mas a questão da segurança, da confiança de estar interagindo e relacionando, tudo isso me motivou muito a buscar interações, na medida do que é possível para mim. A Ana também, falando sobre a paranoia de fazer negócio, negar o ócio. Mas o processo criativo, que é o que nos permite nos encontrar tanto com o nosso interior quanto com o exterior, se dá no ócio, o ócio é necessário. E isso me deu uma luz. Eu tinha medo, na minha cabeça ainda dominava aquele pensamento imposto do utilitarismo, que tempo é dinheiro, que é necessário estar produzindo algo útil constantemente. Enfim, eu poderia citar infinitas coisas que aprendi convivendo com o Biochip, como o aprendizado da alimentação viva e todo o ensinamento que a envolve. Aprendi que quando cuidamos de nós, o universo conspira a nosso favor. Quando respeitamos a terra, aprendemos a respeitar a nós mesmos. Quando valorizamos a diversidade, colhemos os melhores frutos. Quando nos conectamos ao momento presente, aprendemos que a vida é mais leve do que parece. Eu percebi que não estava vivendo. Estava sobrevivendo. Vivia conformada que o hoje, o agora não estava bom, mas que o amanhã compensaria. Então, estava infeliz vivendo pela utopia do amanhã próspero. Estava sempre esperando o amanhã, o final de semana, o feriado, as férias, o dia que meu estágio ia acabar, o dia que eu iria me formar na faculdade. Mas isso não está certo. Eu agora percebo que preciso viver o agora bem, que o que eu tenho, que é tangível e cabe a mim mudar é o hoje, e tenho que fazer de tudo para que ele seja o melhor possível. Responsabilidade e obrigações são inevitáveis, mas é possível fazer tudo conciliando com o meu tempo, com o meu bem estar. Então, também com a ajuda do Biochip, venho tentando implantar esse pensamento na minha vida e só tenho a agradecer a Ana e a todos vocês por terem me proporcionado essa experiência tão enriquecedora nesse período. Sofia Moreira Esquenazi