Anita Pastonesi CONCLUSÃO 2017.1
Anita Pastonesi
Gratidões – Biochip 2017.1
Corda de Sisal em grupo:
Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de me mostrar a questão da rede e da interconectividade entre todos nós, gerando em mim atenção para os que estão ao meu redor, tendo em mente que somos todos extremamente interdependentes, criando uma falsa ilusão geralmente de não pertencimento enquanto na verdade se trata justamente do contrário, sendo assim importante ter responsabilidade sobre o outro, buscando uma relação de mão dupla.
Corda de Sisal em grupos de 4:
Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de tensionar, verbo que muitas vezes é visto como negativo, como estar em tensão com o outro fosse sempre algo "pesado", enquanto aqui o peso do outro e a tensão entre nós gerada e sustentada pela corda foi em todos os momentos a única coisa que mantinha todos em pé em conjunto, possibilitando soltar as mãos, fechar os olhos, coisas clássicas que simbolizam liberdade. Isso gerou em mim surpresa, pois foi como transformar a dependência nos outros na sua própria sobrevivência e mesmo sabendo racionalmente é algo esquecido no dia-a-dia, sendo assim, a corda faz falta no corpo porque sem ela o corpo pesa mais, bem como nossa vida sem os outros.
Cenoura:
Eu agradeço a cenoura pelo fato de dar tantas possibilidades ao ser cortada seja em forma como em sabor, que gerou em mim grande espanto por não reconhecer um alimento que está tão inserido normalmente no meu cotidiano que pode ter essas tantas variedades e eu não ter conhecimento disso, podendo ser doce quando triturado, e amargo quando só o centro está presente, gerando em mim uma frustração sobre quantos gostos eu deixo passar em cada refeição todos os dias por estar acostumada a comer rápido, fazendo outras coisas e prestando atenção nelas em vez de dar atenção a uma atividade central pra vida. Além disso por causa dela consegui interagir com outras pessoas de outros cursos que geralmente não me comunicaria.
Cordas de Sisal em duplas:
Eu agradeço a corda de sisal pelo fato de me permitir conseguir em certo nível abdicar de certezas que eu tinha como tão concretas, e agora se tornam completamente frágeis frente a tensão da corda, que gerou mim um questionamento sobre questões da minha vida que parecem tão engessadas por um controle tão constante meu como de uma pessoa que me cerca e que na verdade podem ser abertos, mas também gerou em mim um sentimento de tristeza, porque vejo que sou a única disposta a tencionar a corda, e posso acabar caindo.
Filme/ Ponto de mutação B.Capra:
Agradeço ao filme pelo fato de conseguir construir uma desconstrução de que a maneira que vivemos hoje é saudável, desejável por ser mais moderna, o que gerou em mim uma certa frustração por ver que aceito muitas vezes uma série de fatos como dados e não os questiono, sendo assim vivendo uma vida que corre e não busca responder questões tão centrais pra nossa existência por meio de uma conexão com o que nos sustenta, tratando nossa vida separada a da terra, e sim buscando comodidades que no final podem ser mais maléficas que benéficas, talvez tenhamos nos perdido no meio do caminho, mas gerando em mim também felicidade por ver que existem pessoas que pensam e não deixam morrer essa conectividade com a natureza que eu tenho uma enorme dificuldade para me relembrar da importância e que conseguem me permear, agradeço também então por essas pessoas que conseguem ter esse impacto em mim.
Desenho de investigação com fermentação:
Eu agradeço ao repolho e a cebola que começaram seus processos de fermentação nessa aula, e a semente de soja pelo fato de colorir! O que gerou em mim vontade. Grande vontade de tentar em casa, colocar em prática e descobrir que as cores vêm do natural, que as cores contaminam e permeiam, transcender o processo industrial e ver a capacidade que a fermentação tem de se espalhar, da cor contaminar, podendo ver ao que se refere o vivo, em alimento vivo, pois aqui a comida pratica uma ação visual muito forte!
Reconhecimento dos fermentados:
Eu agradeço a todos os elementos da aula: o repolho, o tomate, a cebola, a cenoura, a maca, o aipo, a salsinha, o limão, o sal e o azeite, pelo fato de se juntarem em uma coisa só, gerando em mim a alegria de ver uma colega chorar de felicidade, refletir sobre meu relacionamento com a minha mãe, entender adjetivos são julgamentos por formarem dicotomias como bom e ruim, bonito e feio e que isso é extremamente desnecessário, pois o que é considerado positivo só existe na presença do negativo, e por ter me permitido entrar em contato com minha alimentação, depois de questionar um estilo de vida que é considerado o mais moderno até hoje, mas que é tão atrasado por ter tanta desconexão com o que nos cria e sustenta. Meus sentimentos são como a grande variedade de alimentos de hoje: plural! Por isso, sou grata.
Filme/ Camelos também choram:
Eu agradeço ao filme Camelos também choram pelo fato de fazer uma reflexão sobre nossas conexões com uma nova vida, com outra espécie, com a falta de compaixão habitual por coisas vivas que fogem da forma humana, com outro estado de vida e por gerar em mim uma grande comoção por poder repensar essas questões e poder ver um grande esforço para reestabelecer essa conexão e um carinho raro hoje em dia por algo "diferente", me fazendo rever minhas ações que são facilmente despercebidas no dia-a-dia no que foge da minha rotina, no que foge do meu reconhecimento de "normal", é preciso que aconteça uma reconexão e uma transcendência de valores sobre o normal e sobre a sensibilidade em volta das coisas.
Desenho de investigação com desidratação de sementes germinadas:
Eu agradeço ao trigo (por mais que não tenha sido usado), a aveia, ao amendoim, a cúrcuma, orégano, ao sal e a todos os ingredientes bem como o sol, pelo fato de permitirem formar o pão num processo mais natural, em outro ritmo, através de um processo mais lento com o uso do pilão podendo dar a oportunidade de ter um outro processo em relação a comida, que gerou em mim uma reflexão sobre a conexão do nosso tempo com a desconexão com nosso alimento que é uma função vital, que a maioria faz vezes é esperado que seja um processo rápido (cozinhar), para comer rápido, para fazer outra coisa, certamente menos importante do que colocar energia no meu corpo. Acho que muitas vezes a religião tem a ver com o espirito e não com uma entidade superior necessariamente. O tempo de cozinhar é energizar o espirito, e comer é energizar o corpo. Preciso então prestar mais atenção nos dois.
Filme/ La belle verte:
Eu agradeço ao filme pelo fato de utilizar o humor de uma forma leve de promover uma reflexão, e assim entre risadas gerar em mim estranhamento em tantos aspectos até então comuns na minha vida cotidiana urbana doida e caótica. Vivemos uma correria sem muitos propósitos com coisas que deveriam facilitar nossos processos mas que aos poucos vão minando coisas fundamentais da nossa essência que não valem a praticidade dada por essas facilidades, tipo os carros e a falta de contato dos pés com a natureza, a comida que é irreconhecível do que a natureza realmente nos dá, que já é tão rica e temos que a transformar em algo pigmentado numa indústria porque não tem uma cor neon o suficiente, ou a agua que chega rápido nos canos mas é cheia de cloro e não corre pelo chão, acessível pra qualquer pessoa. Foi realmente um ótimo filme pra repensar práticas que foram tão normalizadas que não se reconhece mais o lugar de onde realmente viemos.
Desenho de investigação com desidratação de raízes:
Agradeço ao aipim, cortado, limpo, sujo, ralado, descascado, pelo fato de ter inúmeras formas, liquida, farinha, solida e por ter gerado em mim a conexão com a outra pessoa do outro lado da tecido que dividiu comigo o seu tempo e forca buscando um equilíbrio entre duas forças diferentes que vem de pessoas diferentes, e me reconectado com o processo da alimentação, afinal a farinha de mandioca faz muito parte do meu dia-a-dia e eu nem sabia como era feita, o que me proporcionou um prazer enorme de ver que é algo simples que eu posso fazer em casa, me empoderando de um processo novo pra mim, mas velho pro mundo.
Colorindo a farinha de aipim:
Eu agradeço a farinha de aipim, pimentão, cebola roxa pelo fato de se espalhar e contaminar o resto, uso aqui essa palavra de maneira positiva, criando uma junção de gostos, colorindo e dando a possibilidade de experimentar novas combinações, o que gerou em mim felicidade por me proporcionar a possibilidade de presenciar essas cores se misturando e por ter possibilitado a interação entre mim e meus colegas.
Desenho de investigação com clorofila:
Eu agradeço ao trigo, girassol, couve e chicória pelo fato de ter uma infinidade de sabores diferentes e me mostrar que cada tipo de verde tem o seu, o que gerou em mim grande surpresa, alegria e risadas com meus colegas, que ficaram tão surpresos quanto eu, tentando misturar os diversos verdes e comparar e poder entender nossa individualidade baseado em qual tipo de verde seja sabor como cor nos agrada mais! Incrível!!!
Desenho de investigação com alteração de temperatura:
Eu agradeço aos brócolis, pimentão, batata, maçã, agrião, cebola, cebolinha e pelas sementes de aveia germinadas pelo fato de se transformarem em tantas formas, podendo assumir uma que desperte minha memória afetiva bem como outra que desconstrua o que eu tenho como certo de jeito de cortar um alimento que pode ser tão plural e múltiplo! O que gerou em mim vontade de desconstruir livros e cortar tudo bem pequeno, explorando o máximo os gostos e quebrando os padrões.
09/05 - Desenho de investigação com alteração de temperatura: Eu agradeço a batata, maça, brócolis, pimentão, cebola, agrião e aveia pelo fato de serem cortados e poderem se misturar devido ao tamanho pequeno e se transformarem em uma sopa ou um prato, o que gerou em mim uma realização de que outro tipo de comida é possível, quebrando em mim um certo preconceito de que alimento vivo então não poderia ser uma sopa, porque sopa precisa ser quente, e agora quente não significa fervendo, significa ir até onde meu corpo permite, dando o limite para o meu alimento, afinal porque ele deve sofrer com condições que nem eu mesma aguento? Além disso gerou em mim curiosidade o jogo dos alimentos fugindo da forma tradicional, de batata em quadrados, da maça... Ver a batata tomando uma outra forma foi uma surpresa, sendo um pequeno gesto para me tirar da minha “normalidade”.
16/05 - Reconhecendo a terra no processo de compostagem: Eu agradeço a terra mais molhada ou mais seca, aos pedaços do suco ainda não decompostos, as minhocas, bichos, papa-defuntos, todos os elementos pelo fato de se tornarem uma unidade capaz de gerar tantas coisas bonitas, se integrando, gerando vida do nada, gerando possibilidade de mais vidas, de crescimentos saudáveis, o que gerou em mim uma maior conectividade com o que é vida e morte, perdendo um pouco do meu grande medo do desconhecido, porque finalmente pude não só entender, mas VER um processo cíclico do qual eu também faço parte, tão lindo, de se reinventar como as minhocas, de surgir na forma de papa-defuntos depois que essa vida acabar, dando chance pra tantas outras, me livrando de uma vida com medo, limitada a uma quantidade de tempo e me livrou também de certo nojo que eu tinha de mexer em bichos e terra, mas como posso ter nojo de mim, afinal se é isso que eu vou me tornar? Tenho mais é que tocar mesmo, preciso me conhecer no futuro e não ter medo. Para mim uma das aulas mais importantes do curso.
18/05 - Reconhecendo conchas: Eu agradeço as formas, as cores, as lascas, aos pedaços, as conchas, pelo fato de existirem para quem olha de verdade. O que gerou em mim um novo olhar, uma percepção de quem só quem realmente olha para as coisas consegue ver, não adianta procurar de olhos fechados. É preciso ter uma atitude em relação a vida de aproveitamento, de buscar pelas pequenas e grandes coisas especiais, porque se você não olha para uma concha e vê suas lascas, pedaços faltando, suas ondulações e se pergunta o que foi que aconteceu, que bicho passou por ali, que batida causou ela se quebrar, por onde ela andou, se você não se pergunta e vê com carinho as coisas do mundo, sendo as conchas só um exemplo, você só não merece que elas apareçam pra você, como magia.
23/05 - Desenho de investigação com manutenção de temperatura: Eu agradeço a cevadinha pelo fato de abafar e se juntar com os outros elementos do prato vivo, o que gerou em mim uma reflexão sobre minha escravidão à um padrão de vida, uma comida cozinhada, a costumes perpetuados cegamente porque se tornaram hábitos tão enraiados que não são nem questionados mais. Sou escrava da minha comida, e interações com pessoas tóxicas e de uma maneira de viver alienada não porque não conheço outra alternativa, mas porque me foi passado de cima pra baixo como “normal”.
30/05 - Desenho de investigação com frutas: Eu agradeço ao mamão, maça, manga, goiaba, limão, as frutas cítricas, as frutas doces, ao amendoim germinado, as uvas passas, pelo fato de em suas diferentes formas poderem formar um desenho individual lindo, e um coletivo mais bonito ainda, o que gerou em mim uma lembrança na aula de corda de sisal, porque me deu um senso de coletividade, porque não se tornou uma competição sobre qual era o mais bonito, não era sobre a comida em si, era sobre você participar de algo maior que você, onde você faz parte do todo, e se torna mais bonito junto, do que separado, porque as cores, ideias das pessoas se integram, e assim é muito melhor.
01/06 - Apresentação da sala de aula entre árvores e bibliografia: Eu agradeço a sala de aula e a bibliografia pelo fato de serem ímpares quando se trata de um sistema de ensino super engessado que não costuma permitir trocas significativas e só a passagem de conhecimento de uma maneira vertical e pouco efetiva, aqui o espaço é essencial, a meu ver, no que se trata de uma maneira de viver, e de se alimentar, alternativa e muito mais significativa como experiência de vida pra mim do que muitas outras aulas que eu já tive durante a minha graduação, o que gerou em mim a possibilidade de uma reflexão mais aprofundada sobre o que vivemos e de que maneira e me deu a oportunidade de ver a conectividade entre tantas disciplinas, cursos e pessoas, podendo assim entender que o que eu estudo está completamente ligado a todo o resto do conhecimento que é gerado nessa instituição, que vêm só de um lugar, a natureza.
04/06 - Desenho na horta: Eu agradeço a todos os alimentos, a berinjela, as cenouras, as lentilhas, as alfaces, as cebolas, pelo fato de me darem a oportunidade de crescerem naturalmente, de poder colher esses alimentos da terra, o que gerou em mim uma reconexão com a minha alimentação, me tirando de um ciclo consumista de comprar meu alimento. Se é uma coisa natural, que é um presente da terra, porque eu pago por isso? Porque eu não posso usar meus conhecimentos de compostagem e criar algo, meu, da terra, uma coisa espontânea e bonita, que se disponibiliza, um processo que todos nós deveríamos ver, e sentir, e sujar nossas mãos de terra, e perder o nojo, e fazer parte? Além disso gerou em mim uma comoção de poder trocar histórias, pensamentos e reflexões através de um simples gesto de descascar lentilha, e poder conhecer mais a fundo pessoas incríveis com histórias únicas que vão me ajudar certamente a abrir meu olhar para o mundo, me fazendo perceber coisas que através da minha vivencia eu posso não ter captado, mas essa experiência me possibilita a troca e a convivência tão importante.
06/06 - Les Baloons - Etienne Chambolle: Eu agradeço ao fogo. Agradeço também ao baloeiro que nos deu um presente pela sua presença e história. Agradeço aos dois pelo fato de queimarem. Um, queima porque é o que faz, nos dá calor, nos mostra o fogo de uma paixão, de uma vontade de viver, é um símbolo de força. O outro, queima de paixão pelo o que faz, queima de vontade de ver seu trabalho subir no ar em alguns segundos, queima de tristeza o coração por não poder ser reconhecido pela sua arte no seu próprio país, na sua própria casa. Os dois geraram em mim um estranhamento pelo fato do fogo aqui desconstruir a ideia que eu tive durante todo o curso de fogo como inimigo da comida, que destrói o que nos alimenta, e o baloeiro gerou em mim uma comoção enorme por ver alguém tão apaixonado, com um fogo tão alto pelo o que faz. Eu me espelho e espero ser assim com o que eu fizer, quero que meu fogo seja tão alto quando o dele.
08/06 - Preparação para a prova: Eu agradeço ao coco além dos outros elementos da canjica, mas pelo fato do coco ser um elemento que aparentemente de tão difícil manuseio, e agradeço a esse ralador alternativo que “descomplica” um alimento. Gerou em mim divertimento de ver o empoderamento de alguém usando um apetrecho da sua terra que usa com toda a facilidade para trazer uma coisa nova para novas pessoas. Agradeço ao amendoim pelo fato de ter que ser descascado que gerou em mim felicidade de poder compartilhar momentos com meus colegas.
10/06 - Festa da Prova: Eu agradeço a todos os pratos e todas as pessoas que fizeram parte desse momento, pelo fato de compartilharem momentos e sabores, mesmo em pratos iguais, sabores diferentes, e ver que esse curso inteiro é singular, porque gerou em cada pessoa uma reflexão, uma experiência, de ver que cada um absorveu mais uma coisa do que outra, de poder ver como cada pessoa se relacionou com as ideias, os conceitos e princípios, o que gerou em mim, felicidade. Felicidade de ver tanta gente se emocionando só de compartilhar o que foi importante para si e de se sentir num lugar seguro, porque todo mundo ali estava pronto para acolher, e acho que grande parte disso se deve a ser um lugar que foge do nosso dia a dia.
O que eu disse na festa da prova: Eu acho que aqui nesse curso a comida serve só como ferramenta para gerar um questionamento e uma revolução dentro da cabeça das pessoas. A gente vive preso num modo de vida pouco saudável e nada conectado em relação ao lugar de onde viemos. Eu não sabia nem como se fazia farinha de mandioca, mesmo fazendo parte da minha alimentação, como que eu vou comer se eu não sei de onde vem e como é feito? Como que eu não sabia como a terra se parece quando está mais saudável? Sabe, como que a gente vem de um lugar e não sabe nem com o que ele se parece? Acho que as pessoas buscam sempre magia e coisas que não existem na terra, como, sei lá, voar ou qualquer coisa do tipo, mas o que eu não entendo é como as pessoas não veem magia no sistema complexo que nós somos e no sistema complexo em que vivemos em que as coisas funcionam em completa harmonia, onde uma pequena descompensação vai afetar nosso corpo todo, assim como afetaria todo o meio ambiente em que vivemos. Como as pessoas querem mais magia do que todo o conjunto que funciona simultaneamente feito de mil microrganismos que apenas juntos possibilita que nós funcionemos? Uma coisa que me deixou completamente sem chão é que os bichos que nos comem depois que morremos vivem já dentro da gente, apenas esperando para completar seu ciclo, ou que o fogo não mata o que é vivo e quer viver, como uma arvore que não é afetada por ele. Eu não entendo como as pessoas não veem isso, mas eu também não conseguia ver nem entender nada disso, e acho que as vezes é preciso, como na aula das conchas, poder abrir os olhos para as coisas, que não basta ver, é preciso realmente olhar para as coisas, porque se você não procura por isso, porque ela apareceria por você? Como deu para ver eu acabo o curso cheia de perguntas ainda, mas acho que esse é meu maior presente e minha maior gratidão, poder me perguntar as coisas e saber o que perguntar, porque eu me encontrava na minha escravidão vivendo minha vida comendo na frente da TV, não me preocupando nem com as coisas que eu não conseguia ver ou entender. Então não importa se eu ainda não entendo nada, porque pelo menos eu tenho vontade de procurar saber. Eu acho, como já falei em alguma gratidão, que a magia que eu tanto falei é essa possibilidade de entender o quão grande o mundo é e o quanto isso é a verdadeira presença de uma entidade, que eu não entendo nem como superior, porque ela faz parte da gente, a gente faz parte dela, e ela fica aqui no chão, pena que não pisamos nela de pés descalços.
Anita Pastonesi